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DESTINO INCERTO

Baleias seguem presas em tanques deteriorados do Marineland enquanto o aquário ameaça eutanásia por falta de recursos

Ex-treinador que denunciou os maus-tratos no local afirma que a eutanásia é proibida nesse caso e que essa é uma tentativa de pressionar o governo canadense a liberar a venda dos animais.

27 de novembro de 2025
Redação ANDA
3 min. de leitura
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Foto: DAPHNE LEMELIN / AFP

As últimas 30 baleias mantidas em cativeiro no Marineland, no Canadá, vivem uma rotina marcada por tédio, sofrimento e incerteza. Com o parque oficialmente fechado ao público e mergulhado em dívidas, os animais permanecem confinados em piscinas deterioradas, nadando em círculos enquanto os proprietários do aquário ameaçam recorrer à eutanásia e travam uma disputa com o governo sobre o que fazer com eles, que são todos nascidos em cativeiro e incapazes de sobreviver na natureza.

Situado próximo às Cataratas do Niágara, o Marineland acumula anos de denúncias e mortes. Desde 2019, ao menos 20 orcas e 19 belugas morreram ali, segundo levantamento de veículos da imprensa canadense. Embora o aquário afirme que os óbitos ocorreram por causas naturais, inspetores de bem-estar animal de Ontário relatam que todos os animais estavam sob estresse severo causado pela má qualidade da água.

Apesar disso, a direção acreditava que transferir as baleias para o aquário Chimelong Ocean Kingdom, na China. O plano, no entanto, foi bloqueado pelo governo federal, que rejeitou perpetuar a exploração desses animais enviando-os a outra instalação comercial.

Em comunicado, o Marineland declarou estar “completamente endividado e ficando sem recursos para proporcionar cuidados adequados às baleias”, alegando ter apenas duas opções, realocar os animais ou “enfrentar a devastadora decisão da eutanásia”. A administração tem evitado repetidamente responder às perguntas da imprensa sobre o destino final das baleias.

Phill Demers, ex-treinador do parque que denunciou os abusos dentro do recinto, descarta a possibilidade de matar os animais. “É ilegal. Ninguém jamais participaria de algo tão atroz”, afirmou à AFP. Para ele, a ameaça seria apenas uma tentativa de pressionar o governo e viabilizar a venda das baleias.

A legislação canadense de 2019, que tornou ilegal manter e reproduzir certos mamíferos marinhos em cativeiro, é hoje um dos principais entraves. Criada justamente para impedir novas gerações de cetáceos presos para entretenimento, a lei também restringe exportações que impliquem continuidade da exploração. Segundo o gabinete da ministra da Pesca, Joanne Thompson, novas propostas de transferência poderão ser avaliadas, desde que não violem o espírito da norma.

Para Kristy Burgess, ex-treinadora do Marineland, o carinho dos tratadores nunca foi suficiente para compensar o ambiente degradado. Ela começou no parque como garçonete, formou-se para trabalhar com baleias e acompanhou de perto o sofrimento dos animais.

“As instalações estavam caindo aos pedaços. Era um ambiente abusivo”, afirmou. Burgess admite que pensa constantemente em algumas das baleias com as quais conviveu. “Sinto muita saudade delas. Só espero que fiquem bem.”

Ela defende que Marineland deixou de ser uma opção viável e que os animais precisam de um lar digno. Entre as alternativas em discussão está um santuário marinho na Nova Escócia, ainda em fase de planejamento. Embora alguns considerem o projeto distante demais da realidade atual, iniciativas assim são essenciais para um futuro pós-cativeiro.

Um futuro que respeite dignidade e autonomia

Charles Vinick, diretor-executivo da proposta de santuário, afirma que o debate deve ir além de onde colocar as baleias hoje. É preciso repensar completamente como sociedades tratam mamíferos marinhos usados há décadas como entretenimento.

Segundo ele, esses animais precisam de espaços que lhes permitam “aposentar-se com graça, dignidade e em um ambiente onde possam prosperar”.

A situação em Marineland mostra, mais uma vez, um impasse ético que desafia governos, especialistas e defensores dos animais: como reparar décadas de exploração e garantir que seres altamente inteligentes, sociais e sensíveis não passem o restante da vida confinados em tanques?

Enquanto decisões não são tomadas, as últimas 30 baleias de Marineland continuam nadando em círculos, uma representação do do custo moral do cativeiro.

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