Cientistas já sabiam que, para caçar no mar, as baleias-jubarte costumam fazer uma espécie de “rede de bolha”. Mas, surpreendentemente, esses animais utilizam essa artimanha de várias formas, inclusive para aprimorar sua ingestão de alimentos. A descoberta foi publicada em um artigo nesta quarta-feira (21), na Royal Society Open Science.
O estudo é assinado por pesquisadores do Instituto de Biologia Marinha do Hawaí (HIMB), que fazem parte do programa de Pesquisa de Mamíferos Marinhos (MMRP). Além deles, a Fundação de Baleias do Alasca (AWF) também integrou a pesquisa.
Isso significa dizer que, a rigor, as jubartes também se enquadram no seleto grupo de animais capazes de fazer e usar “ferramentas”. “Muitos animais usam ferramentas para ajudá-los a encontrar alimentos. Mas muito poucos realmente criam ou modificam essas ferramentas por conta própria”, disse Lars Bejder, professor, co-autor do estudo e diretor do MMRP, em comunicado.
De acordo com o especialista, as jubartes que estão sozinhas fazem redes de bolhas para prender o krill — conjunto de pequenos crustáceos bem parecidos com camarões. A observação deste comportamento foi feita no sudeste do Alasca.
Variáveis e dados coletados a partir de metodologias de drones e marcação. (a) Métricas de rede de bolhas derivadas de drones para uma rede de bolhas de dois anéis, incluindo a área e o diâmetro do anel interno, e a distância horizontal entre as bolhas (ou seja, o tamanho da malha) para o anel externo. (b) Baleia produzindo pulsos de bolhas, mostrando (i) nadadeira esquerda, (ii) pulso de bolha anterior e (iii) novo pulso de bolha. (c) Baleia com a boca aberta imediatamente antes de um ataque, com (iv) mandíbula superior, (v) barbatanas, (vi) mandíbula inferior e (vii) nadadeira direita visíveis. (d) Baleia se aproximando da superfície após um ataque, com (viii) boca fechada antes de romper a superfície da água e (ix) rede de bolhas completa visível. — Foto: Royal Society Open Science
Variáveis e dados coletados a partir de metodologias de drones e marcação. (a) Métricas de rede de bolhas derivadas de drones para uma rede de bolhas de dois anéis, incluindo a área e o diâmetro do anel interno, e a distância horizontal entre as bolhas (ou seja, o tamanho da malha) para o anel externo. (b) Baleia produzindo pulsos de bolhas, mostrando (i) nadadeira esquerda, (ii) pulso de bolha anterior e (iii) novo pulso de bolha. (c) Baleia com a boca aberta imediatamente antes de um ataque, com (iv) mandíbula superior, (v) barbatanas, (vi) mandíbula inferior e (vii) nadadeira direita visíveis. (d) Baleia se aproximando da superfície após um ataque, com (viii) boca fechada antes de romper a superfície da água e (ix) rede de bolhas completa visível. — Foto: Royal Society Open Science
“Essas baleias sopram bolhas habilidosamente em padrões que formam redes com anéis internos, controlando ativamente detalhes como o número de anéis, o tamanho e a profundidade da rede, e o espaçamento entre as bolhas”, afirma Bejder. “Esse método permite que elas capturem até sete vezes mais presas em um único mergulho de alimentação sem usar energia extra”.
Por que é importante entender as manobras de caça às jubartes?
No inverno, a população de jubartes do Alasca fica no Havaí. Porém, durante o verão e o outono, elas voltam para o seu local de origem. Para fazer esse trajeto, essas baleias precisam de muita energia – o que depreende uma boa alimentação. Por isso, a caça é algo essencial para que as baleias consigam sobreviver e atravessar o Oceano Pacífico.
O estudo pode trazer novas descobertas sobre as estratégias de busca por presas e também sobre a ingestão de calorias para o processo migratório.
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Os avanços tecnológicos têm se tornado aliados dos pesquisadores e foram essenciais para fazer o estudo comportamental das jubartes. Dispositivos como drones e tags ajudaram a acompanharam os movimentos feitos pelos mamíferos marinhos, dentro e fora da água.
“Implantamos tags de sucção não invasivas nas baleias e pilotamos drones sobre baleias-jubarte solitárias que criam redes de bolhas no sudeste do Alasca, coletando dados sobre seus movimentos subaquáticos”, explica William Gough, co autor e pesquisador do MMRP.
Preservação da espécie
No mundo todo, os mamíferos marinhos estão ameaçados pelas mudanças climáticas, pesca, poluição dos mares, degradação química e sonora do habitat natural. Das 92 espécies de cetáceos catalogadas, 23 delas estão em risco de extinção. Por isso, cientistas estão tentando a todo custo buscar técnicas que sejam capazes de manter a preservação desses animais.
Entender como as jubartes se comportam no meio ambiente, é uma forma de tentar monitorar e conservar essas áreas. Isso para manter, principalmente, as regiões que possuem recursos alimentares das baleias, já que a caça é algo fundamental para sua sobrevivência e deslocamento. “Esse comportamento pouco estudado é totalmente único das baleias-jubarte”, observa Gough.
Com a ajuda de ferramentas como drones e tags, é possível entender sobre várias outras descobertas relacionadas às baleias. “Também há dados chegando de baleias-jubarte que realizam outros comportamentos de alimentação, como a criação cooperativa de redes de bolhas, alimentação na superfície e mergulhos profundos para se alimentar”, diz Bejder.
“O que acho empolgante é que as jubartes desenvolveram ferramentas complexas que lhes permitem explorar agregações de presas que, de outra forma, seriam inacessíveis para elas. É essa flexibilidade e engenhosidade comportamental que espero que ajude essas baleias à medida que nossos oceanos continuam a mudar”, finaliza Andy Szabo, Diretor Executivo da AWF, que também fez parte do estudo.
Fonte: Galileu