As baleias-francas (Eubalaena australis) podem estar voltando para a Bahia. A possibilidade está sendo considerara após o raro registro de dois animais da espécie – uma fêmea e seu filhote – no começo do mês na baia de Todos-os-Santos. Esses cetáceos quase foram extintos na região por causa de um longo período de caça.
Segundo o Projeto Baleia Jubarte, do Instituto Baleia Jubarte, que atua na conservação das baleias-jubarte (Megaptera novaeangliae), as baleias-francas foram inicialmente identificadas em Arraial do Cabo (RJ), em 18 de julho. Já em 9 de agosto, filmagens de um drone flagraram os mesmos indivíduos na baía de Todos-os-Santos, em Salvador (BA). Três dias depois, a equipe da ONG registrou novamente a presença da dupla na Praia do Forte (BA).
De acordo com o coordenador de Desenvolvimento Institucional do Instituto Baleia Jubarte – que fundou e coordenou durante 28 anos o Projeto Baleia Franca, em Santa Catarina -, José Truda Palazzo Jr., é por meio da análise das calosidades, que são como “verrugas”, na cabeça das baleias, que se torna possível identificar que, de fato, são os mesmos indivíduos em todos os registros. “Assim como na cauda das jubartes”, explica o ambientalista, “não existem dois padrões iguais. São como uma impressão digital, que ajudam a identificar os indivíduos e a estudar suas migrações e outros aspectos da sua história natural”.
Baleias-francas de volta à Bahia
O aparecimento raro de baleias-francas no litoral baiano intrigou quem estuda e atua na conservação desses animais. Longe de terem uma explicação negativa, acredita-se que esse registro possa ser resultado de um longo processo de retomada de seu território natural após o período de caça e a implementação de políticas de conservação. José Truda afirma que o reaparecimento da espécie é, de fato, lento, mas natural. Outros registros do Instituto Baleia Jubarte já identificaram, anteriormente, a presença esporádica de baleias-francas na Bahia, particularmente no banco dos Abrolhos.
A raridade em relação a outras espécies, como a jubarte, está no seu quase desaparecimento devido à caça, que apesar de proibida para a espécie desde 1935 por tratados internacionais, continuou sendo morta no Brasil de forma esporádica até 1973” lembra o coordenador de Desenvolvimento Institucional do Instituto Baleia Jubarte.
José Truda também destaca que a reprodução da baleia-franca também é bastante lenta, com um filhote a cada três anos, aproximadamente. “Então ainda vai demorar muito para que a espécie saia de fato do risco de extinção. O seu reaparecimento na Bahia nos dá a esperança de que essa recuperação, apesar de lenta, é possível, e que poderemos, no futuro, ver cada vez mais francas por aqui”, destaca.
Perguntado se a presença de animais de uma espécie que já não são tão comuns àquele ecossistema traria algum “problema”, José Truda disse que “será uma boa notícia para o ecossistema marinho baiano”, pois eles ajudam a fertilizar o mar com seus excrementos e sobras do leite com que amamentam os filhotes, o que aumenta o fitoplâncton. Além disso, não haveria nenhum problema para as baleias-jubartes, porque elas não se alimentam durante o período de reprodução e não competem pelo uso do ambiente.
A caça das baleias-francas
José Truda conta que originalmente, a espécie franca ocorria do extremo Sul do Brasil até pelo menos o Recôncavo Baiano. Em 1602, o rei Filipe, que na época governava Portugal e Espanha, deu permissão para a caça das baleias no litoral brasileiro e os bascos começaram a matá-las. A principal espécie perseguida era a baleia-franca, pois, além de ser lenta e fácil de matar, havia interesse econômico na sua gordura, que era transformada em óleo, e nas barbatanas, que eram usadas para fazer espartilhos e outros utensílios.
Com o estabelecimento de armações baleeiras, estruturas construídas nas praias para a caça e processamento dos produtos derivados do animal, a espécie foi sendo dizimada da Bahia para o sul. A última dessas estruturas foi criada em 1778, em Imbituba (SC), quase extinguindo a espécie no país. Em 1982, porém, uma população reprodutiva foi redescoberta pela equipe de pesquisa de José Truda, já com o Projeto Baleia Franca, em Santa Catarina.
Fonte: Fauna News