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POLUIÇÃO

Baleias confundem som produzido por plástico com o de lulas e outras presas na hora de se alimentar

21 de novembro de 2024
3 min. de leitura
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Foto: Ilustração | Freepik

Baleias que caçam a milhares de metros abaixo da superfície do mar, onde a luz não alcança, dependem de um sofisticado sistema de ecolocalização para encontrar suas presas. No entanto, uma pesquisa recente publicada no Marine Pollution Bulletin revelou que esse sistema também pode levá-las a ingerir grandes quantidades de plástico flutuante.

O ponto é que sacolas plásticas e outros detritos plásticos encontrados nos oceanos produzem ecos muito parecidos com os de lulas – a principal presa de muitas espécies de baleias –, provavelmente devido a alguma combinação de seu formato, tamanho, grau de intemperismo e composição química.

Essa semelhança sonora engana os animais, que acabam consumindo o lixo achando que é comida.

Baleias dentadas de mergulho profundo (ou odontocetos), como cachalotes e baleias-bico-de-ganso, vibram lábios fônicos abaixo de seus respiradouros para gerar som, que então é projetado através de um órgão gorduroso em suas testas chamado melão, informa reportagem da National Geographic.

Conforme o som ricocheteia em objetos no escuro, gorduras nas mandíbulas inferiores das baleias o direcionam para seus ouvidos internos, permitindo que elas localizem presas a várias centenas de metros de distância.

Para o estudo, pesquisadores da Duke University, dos Estados Unidos, coletaram nove itens plásticos encontrados em entranhas de baleias nas praias da Carolina do Norte. Em seguida, foram para o oceano e amarraram esses itens a um equipamento embaixo de um barco e os atingiram com ondas sonoras em frequências que as baleias dentadas usam para caçar.

Eles repetiram o processo em cinco corpos de lulas mortas e em cinco bicos de lula retirados do estômago de uma cachalote encalhada. Os resultados mostraram que todos os itens de plástico retornaram ecos tão ou mais fortes do que os das lulas.

A NatGeo destaca que não se sabe se as odontocetos usam algum meio além da força do eco para distinguir o que é comida e o que não é. Mas a sensação na boca certamente não é um fator.

“Elas não mastigam nem sentem o mesmo sabor que nós… é mais como sucção”, explicou Laura Redaelli, doutoranda em Biologia Marinha no Centro de Ciências Marinhas e Ambientais de Portugal e principal autora de um trabalho semelhante apresentado em junho.

Ela acrescentou que, assim que itens não comestíveis entram em suas bocas, “é um pouco tarde demais para elas perceberem”.

Greg Merrill, aluno de doutorado em Mastozoologia Marinha na Duke University, apontou que as baleias “não esperam ver nada na água além de comida, então, se encontrarem algo com um sinal, elas vão atrás”.

Especialistas têm enfatizado que reduzir a produção e o descarte de plásticos deve ser uma prioridade global. Neste caso específico das baleias, Redaelli observou que os fabricantes de plásticos deveriam tentar projetar produtos que fossem menos acusticamente semelhantes às presas – mas ela também reconheceu que isso pode tornar mais fácil para os animais ficarem presos em itens como redes de plástico.

Outra solução seria trocar os plásticos existentes por materiais biodegradáveis que se decompõem rapidamente no oceano ou nos estômagos das baleias.

“Talvez possamos esperar que, em algum momento, elas aprendam a diferença [entre plástico e presa]. Mas até lá, quanto mais plástico continuarmos colocando [na água], mais animais morrerão”, concluiu a doutoranda.

Fonte: Um Só Planeta

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