A costa leste do Brasil, que vai da Baía de Todos os Santos, em Salvador, capital da Bahia, até a foz do rio Piraquê-Açu, em Aracruz, no centro-norte do Espírito Santo, tem 17 partículas de microplástico por litro de água, em média. Uma concentração maior que a soma das outras quatro macrorregiões costeiras do país.
Os dados são de um estudo publicado na 4ª feira (3/12) na revista Marine Pollution Bulletin, ao qual a Folha teve acesso. A pesquisa é de autoria do projeto MicroMar, liderado pelo Instituto Federal Goiano e financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
O trabalho incluiu nove expedições científicas e mobilizou cerca de 50 pesquisadores, que percorreram mais de 7.500 km do litoral, nos 17 estados banhados pelo Oceano Atlântico. Foram coletadas 4.134 amostras de água em 1.024 praias, de abril de 2023 a abril de 2024. Os dados foram agrupados em cinco macrorregiões: Amazônia equatorial, Nordeste, Leste, Sudeste e Sul.
Depois da costa leste, o litoral nordeste é o mais poluído por microplásticos (7 partículas por litro), seguido pelo sudeste (5,3) e sul (3,4). As águas da Amazônia equatorial apresentaram a menor contaminação (1,3). Juntas, as quatro regiões têm 17 fragmentos de microplástico por litro.
Coordenador do estudo, o professor Guilherme Malafaia, do Instituto Federal Goiano, afirma que a alta contaminação no litoral da Bahia e do Espírito Santo surpreende à primeira vista. Mas o estudo oferece algumas explicações para essa taxa elevada de poluentes, como a influência de áreas turísticas, o despejo de esgoto e a proximidade de rodovias, já que o atrito dos pneus com o asfalto gera partículas de plástico.
“Pelo senso comum, seria razoável esperar que a costa sudeste, com forte industrialização, altíssima densidade populacional e grandes hotspots conhecidos, como a Baía de Guanabara, a Baixada Santista e o estuário do [Rio] Paraíba do Sul, apresentasse as maiores concentrações de microplásticos na água. Mas podemos afirmar com segurança que a costa leste é um hotspot de concentração, sua média por litro é excepcionalmente alta.”
Os microplásticos na água afetam o ecossistema marinho a partir da base da cadeia alimentar. “Essas partículas podem ser ingeridas por organismos filtradores e larvas de crustáceos e peixes no início de seu desenvolvimento, alterando metabolismos, reduzindo sobrevivência e interferindo em processos biológicos essenciais, como a reprodução”, explica o pesquisador.
Há também o risco de efeitos indiretos à saúde humana. “Os microplásticos funcionam como ‘carreadores’ de poluentes químicos e patógenos, e sua presença constante sinaliza sistemas de gestão inadequados, que impactam pesca, turismo e serviços ecossistêmicos fundamentais”, reforça o cientista.
Fonte: ClimaInfo