Um novo estudo, liderado por pesquisadores da Universidade de Amsterdã (UvA) e do Instituto de Ecologia dos Países Baixos (NIOO-KNAW), revela que muitas aves aquáticas que se reproduzem no Ártico ainda têm certa flexibilidade para acelerar suas migrações. No entanto, essa estratégia pode funcionar apenas por um tempo limitado.
O estudo, publicado em 9 de setembro de 2025 na revista científica Nature Climate Change, rastreou por GPS mais de quinhentas migrações de primavera de cinco grandes espécies de aves aquáticas: o ganso-de-faces-negras, o ganso-bravo, o ganso-de-testa-branca, o ganso-de-patas-rosadas e o cisne-de-bewick. Combinando os dados de rastreamento com dados de longo prazo sobre a massa corporal coletados de aves em seus locais de invernada, os pesquisadores descobririram que essas aves podem reduzir o tempo gasto abastecendo-se para a jornada, permitindo que cheguem mais cedo ao Ártico.
Compensando o tempo perdido
Para chegar aos seus locais de reprodução no Ártico, as aves devem percorrer milhares de quilômetros a cada primavera. A maior parte da jornada não é gasta voando, mas em pausas para descansar e se reabastecer. A equipe descobriu que, ao encurtar esses períodos de reabastecimento, as aves poderiam reduzir significativamente seus tempos de viagem. Diferente de estudos anteriores, esta pesquisa incluiu o tempo de reabastecimento antes mesmo do início das migrações.
Este reabastecimento pré-partida foi especialmente importante para espécies como o ganso-bravo e o ganso-de-faces-negras, que dependem muito das reservas de energia acumuladas antes da partida.
Na verdade, quando esta fase pré-partida foi considerada, tornou-se claro que as aves têm mais margem de manobra para acelerar as migrações do que se pensava anteriormente. Alguns indivíduos foram capazes de encurtar seu tempo total de reabastecimento em até 30%, reduzindo sua migração em várias dezenas de dias em comparação com anos anteriores.
Respondendo aos sinais climáticos
A equipe também descobriu que as aves são flexíveis em como respondem às condições variáveis da primavera. Nos anos em que o degelo do Ártico ocorreu mais cedo, espécies como o ganso-de-testa-branca e o cisne-de-bewick reduziram os tempos de escala e chegaram mais cedo. Mas nem todas as aves foram igualmente responsivas – os gansos-de-patas-rosadas e os gansos-de-faces-negras mostraram menos capacidade de ajuste durante a rota, possivelmente porque têm menos locais de escala. “Aves com mais escalas e voos mais curtos entre elas puderam acompanhar melhor as condições da primavera”, diz Linssen. “Aqueles que voam trechos mais longos ou sobre o mar podem ter menos oportunidade de reagir se a primavera estiver adiantada ou atrasada.”
Prazo para a adaptabilidade
Apesar dessas adaptações, os pesquisadores alertam que acelerar as migrações tem limites naturais. Reabastecer-se mais rapidamente requer alimentos de alta qualidade e condições favoráveis, como baixos níveis de perturbação, que podem não estar sempre disponíveis. Há a preocupação de que as aves que aceleram sua migração possam pagar o preço ao chegar em pior condição física, o que pode afetar o sucesso reprodutivo.
Com base nas tendências climáticas atuais e nos dados de degelo, a equipe estima que a flexibilidade observada no tempo de migração possa ajudar as aves a acompanhar a primavera por mais 18 a 28 anos. Depois disso, apenas migrar mais rápido não será suficiente. “Essas aves estão mostrando uma adaptabilidade notável”, diz Linssen. “Mas em meados do século, elas podem precisar contar com outras estratégias – como deslocar seus locais de invernada ou mudar completamente as rotas de migração – para evitar ficar dessincronizadas com a primavera ártica.”
O momento certo determina o sucesso
Para as aves migratórias, chegar ao Ártico no momento certo é crucial para seu sucesso reprodutivo e sobrevivência. Quando a primavera chega e a neve começa a derreter, há uma explosão de insetos, plantas e outras fontes de alimento. Este pico dura apenas algumas semanas. Se as aves chegarem tarde demais, perdem o momento em que a comida é abundantemente disponível para criar seus filhotes. Além disso, há apenas uma janela de tempo estreita para que os ovos sejam postos, incubados e os filhotes alimentados antes que o frio retorne. Qualquer atraso pode significar que os filhotes não sobreviverão à migração para o sul.
“Nossos resultados são tanto encorajadores quanto preocupantes”, diz o autor principal Hans Linssen. “Mostramos que essas aves podem migrar mais rápido, ajustando suas escalas e tempos de alimentação. Mas o tempo está se esgotando se observarmos as taxas atuais de aquecimento do Ártico – essa flexibilidade só compensará o avanço da primavera ártica por mais algumas décadas.”
Traduzido de Nature Today.