No estado vizinho, uma outra pesquisadora também investiga esse comportamento das aves em meio à poluição marinha. Adrielle Caroline Lopes, da UFPA (Universidade Federal do Pará), iniciou a observação ainda em 2021 e fez dela o tema do seu mestrado em oceanografia.
Lopes focou sua pesquisa na região de Salinópolis (PA), onde encontrou os primeiros ninhos com plástico feitos pela espécie japu-preto (Psarocolius decumanus). Há registros também em outras áreas da região, como na Ilha de Maiandeua, popularmente conhecida como Algodoal.
“No final de 2024, a gente ainda fez algumas coletas, apesar de eu já ter terminado o mestrado. Como eu pretendo entrar no doutorado com esse tema, fizemos mais coletas em Salinópolis e achamos novos ninhos [com plástico]”, relata.
Segundo Lopes, alguns dos ninhos encontrados são compostos quase 100% por plástico.
“O japu-preto, apesar de não ser uma ave marinha, está nas nossas ilhas, utilizando apetrecho de pesca [nos ninhos]. Então, é um trabalho muito importante avaliar essa poluição plástica, porque provavelmente essa ave pode ser um bioindicador da poluição do ambiente”, explica.
Apesar da semelhança visual nas fotos, as duas espécies de pássaros flagrados usando plástico nos ninhos diferem em porte. Segundo o biólogo Joandro Pandilha, pesquisador de avifauna amazônica na Unifap (Universidade Federal do Amapá), o japiim fêmea mede entre 22 e 25 cm com peso até 48 g, e o macho varia de 27 cm a 29,5 cm e pesa até 98 g.
Enquanto isso, o japu-preto possui medidas de 36 cm a 38 cm (fêmea) e de 46 a 48 cm (macho) e peso de até 360 g.
Pandilha ressalta que as aves correm risco de contaminação pelo contato com o material plástico e sua possível ingestão. Ele aponta também que o bem-te-vi (Pitangus sulphuratus), presente em áreas urbanas, é uma das aves que passaram a utilizar o plástico presente no ambiente na construção de ninhos.
“Diferentes espécies de aves têm utilizado cada vez mais materiais plásticos na construção de ninhos, em decorrência da escassez de matéria-prima natural, ou mesmo pela grande presença de plástico no ambiente urbano ou até mesmo em florestas, utilizadas como descarte de lixo”, afirma.
“Esse material não faz parte da vida desses animais e podem trazer riscos como contaminantes infecciosos para as aves adultas e filhotes, além de estresse e doenças, provindas principalmente dos microplásticos ou mesma pela ingestão ocasional de lixo presente nos ninhos”, completa Pandilha.