Analistas ambientais da Reserva Biológica (Rebio) Augusto Ruschi, na região centro-serrana do Espírito Santo, não escondem a expectativa diante de um monitoramento das aves que vem sendo feito há seis meses na unidade. Espécies silvestres consideradas raras, ameaçadas e até consideradas extintas no Estado foram detectadas pelos pesquisadores, que trabalham em pequenas bases em meio à porção remanescente da Mata Atlântica, bioma característico do local. A Rebio é administrada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
A pesquisa de campo é feita com o auxílio de pontos de escuta em áreas predeterminadas ao longo das trilhas no interior da floresta. Segundo o engenheiro florestal e analista da Rebio, Tomaz de Novaes, o registro das aves requer um trabalho cuidadoso e exaustivo. “É uma rotina de observação. Usamos equipamentos, como gravadores, microfones unidirecionais, câmeras fotográficas, binóculos, lunetas e até réguas para identificar e estudar os pássaros avistados na reserva. Também capturamos e analisamos aves com hábitos noturnos, que são soltos após verificarmos suas medidas e características. Não é uma tarefa simples, mas nossas expectativas são as melhores possíveis diante do que já observamos”, revela.
O pesquisador explica que, além das análises de ocorrência das espécies da avifauna, o monitoramento será um instrumento importante para a Rebio Augusto Ruschi. “Também queremos pesquisar as mudanças nas populações, sazonalidades, deslocamentos e migrações. Estamos muito animados porque, com essa pesquisa, será possível obter informações sobre a qualidade ambiental da reserva”, acrescenta.
O analista ambiental e chefe da reserva, Eduardo Mignone, lembra que a presença dos aves ameaçadas de extinção indica que a área é de grande importância ecológica para a conservação e estratégia de sobrevivência dessas populações. “É, também, um sinal que o ecossistema mantido pela unidade de conservação encontra-se em bom estado e tem cumprido o seu papel”, diz.
Entre as espécies avistadas pelo grupo do monitoramento destacam-se aves de rapina, grupo que cientificamente está no topo da cadeia alimentar. Isso indica a boa qualidade ambiental da região. “Já encontramos o gavião-pombo-grande (Leucopternis polionota), o gavião-pega-macaco (Spizaetus tyrannus), o gavião-de-penacho (Spizaetus ornatus) e o gavião-real (Harpia harpyja)”, adianta Tomaz. “A Rebio Augusto Ruschi tem em seu entorno diversos fragmentos florestais, alguns deles em conectividade, e isso certamente contribui para a manutenção dessas aves também”, conta Eduardo.
Os monitores também registraram a presença da papa-lagarta-de-Euler (Coccyzus euleri). “Essa ave jamais foi vista por aqui. Trata-se de um registro inédito para a região de Santa Teresa, município no qual a Rebio está inserida”, acrescenta Tomaz. Os resultados parciais do Monitoramento da Avifauna da Reserva Biológica Augusto Ruschi serão apresentados no próximo Congresso Brasileiro de Ornitologia, que será realizado em julho deste ano em Aracruz, também no Espírito Santo.
A Rebio Augusto Ruschi foi criada para proteger espécies endêmicas, raras, vulneráveis ou ameaçadas de extinção, além de fomentar a pesquisa científica. A unidade fica no município de Santa Teresa e é fundamental para a proteção das bacias dos rios Reis Magos, Doce e Piraque-açu. Seu nome é uma homenagem ao ambientalista que na década de 1940 realizou um amplo levantamento da fauna e flora do Espírito Santo. O pesquisador sugeriu a proteção da área por conta da aceleração do desmatamento e a consequente degradação ambiental, resultado da substituição da vegetação nativa por culturas de café.
Fonte: Agbio