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Avanço da urbanização ameaça felinos em Manaus (AM)

9 de dezembro de 2013
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Felinos de grande porte, como a onça parda, também são alvos de caçadores que, muitas vezes, não poupam nem os filhotes (Foto: Érica Melo)
Felinos de grande porte, como a onça parda, também são alvos de caçadores que, muitas vezes, não poupam nem os filhotes (Foto: Érica Melo)

Felino que ocupa o topo da cadeia alimentar no reino animal, a onça é definitivamente um animal que impõe respeito. Considerado por muitos um risco para populações que vivem próximas à áreas florestais, a convivência entre pessoas e o mamífero vem preocupando pesquisadores no Amazonas.

Somente nesse ano, sete animais – sendo quatro onças-pardas e três onças-pintadas – foram encaminhados ao Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), em Manaus, pela tentativa equivocada de domesticação do animal por parte de moradores.

O aparecimento delas em áreas já habitadas revela também o avanço da urbanização em áreas verdes e a falta de informação acerca do animal que, segundo profissionais, não oferece risco algum se algumas precauções forem tomadas.

Segundo o órgão, os animais são localizados principalmente na capital amazonense ou no seu entorno, visto que a distância é menor para o procedimento de captação e a comunicação da população com a equipe do Centro de Triagem é mais rápida. Entre os municípios onde também foram registrados pedidos de resgate está Presidente Figueiredo, Rio Preto da Eva, Manacapuru, Juruá e São Paulo de Olivença, os quais, por serem mais afastados, acabam aumentando a dificuldade de transportar os mamíferos para Manaus.

De acordo com o analista ambiental do Ibama, Diogo Lagroteria, em 60% dos casos os moradores decidem entregar o filhote. “Na maioria das vezes o morador já procura a Secretaria de Meio Ambiente para registrar o caso. Isso acontece porque a mãe foi abatida e o filhote começa a crescer e trazer problemas”, afirma.

Além disso, ações como caças de retaliação (mata-se onças para proteger criações de animais como porcos, galinhas, entre outros) e o desmatamento prejudicam o desenvolvimento natural da espécie. “Quando se caça em excesso o alimento da onça, como as pacas, cotias, capivaras, ela vai procurar comida onde o ser humano geralmente vive. Ela não faz isso porque quer, mas porque precisa sobreviver”, diz Lograteria.

Com o aumento da população, principalmente a que habita os interiores do Amazonas, a dificuldade dos órgãos responsáveis em encontrar soluções definitivas para tais situações é existente, segundo Lagroteria. Porém, medidas paliativas são apontadas para que o aparecimento do felino em áreas urbanizadas seja evitado.

Triagem

O Cetas presente no Ibama atua no sentido de receber animais silvestres recolhidos por corporações como a Polícia Ambiental, Polícia Federal, Polícia Rodoviária, Corpo de Bombeiros e pelo Instituto de Proteção Ambiental do Estado do Amazonas (Ipaam). No Centro, são executadas ações de primeiros socorros, além de análises feitas por pesquisadores sobre a possibilidade dos seres retornarem à natureza.

De acordo com dados do Instituto, entre 55% e 60% dos casos os animais voltam ao seu habitat natural.

No caso das onças, Lagroteria explica que os felinos fogem da regra por não terem tido nenhum contato com a natureza. Nos últimos dez anos, a falta de uma equipe especializada em reabilitação de animais criados em cativeiro não permitiu a soltura de nenhum felino para a natureza.

“Uma onça filhote precisa passar no mínimo um ano com a mãe para aprender o básico de caça e sobrevivência na selva”, revela.

Com a domesticação praticada pelos populares, o procedimento para readequar os bichanos ao seu habitat de origem torna-se mais complexo, visto que não há uma equipe especializada nesse serviço.

“O nosso trabalho é receber e cuidar desses bichos para enviá-las a instituições que sejam especializadas em animais criados em cativeiros como jardins zoológicos, científicos e mantenedores de fauna”, afirma.

Orientação

A exposição de moradores que tem suas vidas entrelaçadas com a fauna presente na floresta acarreta em ações consideradas erradas por pesquisadores. A falta de informação e orientação precisa ser pensada de forma mais abrangente, segundo o analista ambiental.

“Dá pra entender quando alguém que tem como quintal a floresta pratique esse tipo de ação. Muitas vezes essas pessoas estão desamparadas e são de baixa renda”. Por esse motivo, Lagroteria acredita que é necessário criar um projeto amplo não só pra preservar as onças, mas que forneça a população um acompanhamento social.

“A tendência é que essas situações aumentem cada vez mais, por isso é importante encontrar uma forma que todos possam conviver com esses bichos harmonicamente”, alertou.

O Ibama disponibiliza o número 0800-61-8080 onde podem ser feitos pedidos de resgate e também o site www.ibama.gov.br para mais informações e questionamentos. Além de registros de ocorrências, o Instituto busca parcerias para a criação de novos mantenedores de fauna e áreas de soltura.

“Pessoas que possuem propriedades como sítios e chácaras podem ajudar permitindo que o Ibama possa soltar animais como jabutis, araras, macacos, papagaios e outros nesses locais. Também é importante encontrar por meio de projetos mantenedores onde animais machucados tenham um lar para seguir em frente”, explicou Lagroteria.

Onças

Considerado o maior felino das Américas e o terceiro maior do mundo – perde apenas para o leão e o tigre -, a onça-pintada encontra na Amazônia um de seus últimos refúgios para garantir a existência da espécie.

A onça-parda, também conhecida como suçuarana ou leão-da-montanha, é o segundo felino mais pesado do Novo Mundo. É também considerada a onça com maior área de distribuição entre todos os mamíferos terrestres do hemisfério ocidental.

Fonte: A Crítica

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