O porco-formigueiro (Orycteropus afer) é um mamífero insetívoro nativo das paisagens africanas. É também conhecido como aardvark, que em africânder significa algo como ‘porco da terra’, aludindo ao seu nariz longo e semelhante a o de um porco e ao hábito de escavar tuneis na terra, onde se refugia, descansa e cuida das crias.
Como o nome comum indica, a sua alimentação é sobretudo composta por formigas, mas também por térmitas. Com uma extraordinária capacidade olfativa, consegue detetar o odor dos insetos nas suas colónias subterrâneas, usando as suas garras fortes para desenterrá-los e a sua língua comprida e viscosa para ingeri-los.
Contudo, tal como tantas outras espécies pelo mundo, o porco-formigueiro está a ser negativamente afetado pelos efeitos das alterações climáticas, especialmente pelo aumento da aridez que se expande pela África subsaariana.
Uma equipa de cientistas na Universidade Estadual do Oregon (Estados Unidos da América) passou meses em busca de fezes de porco-formigueiro para aprofundar o conhecimento sobre os seus hábitos de vida e sobre os seus habitats.
Classificado com o estatuto de ‘Pouco Preocupante’ pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) e tem uma distribuição que cobre praticamente toda a África a sul do Saara, o porco-formigueiro é comparado ao porco e ao tamanduá, mas não tem qualquer ligação evolutiva com eles. Na verdade, dizem os cientistas que este animal está mais próximo dos elefantes, dos manatins e de algumas espécies de toupeiras.
Apesar da classificação atribuição pela UICN, estes investigadores consideram que se sabe muito pouco acerca do porco-formigueiro, principalmente porque é muito difícil estudá-lo em contexto selvagem, pois é um animal de hábitos noturnos, e não tende a formar populações muito densas.
Por isso, escolherem a recolha e análise genética das fezes como o método menos invasivo e seguro para estudar este mamífero. O trabalho estendeu-se por oito áreas protegidas e quatro privadas na África do Sul, duas áreas protegidas em Essuatíni (antiga Suazilândia) e uma zona no Quénia.
No total, foram recolhidas 253 amostras fecais, das quais 104 foram analisadas por terem a melhor qualidade para análises genéticas. E perceberam que na África do Sul os porcos-formigueiros podiam percorrer longas distâncias, de vários quilómetros, sobretudo em busca de alimento.
Indivíduos aparentados podiam estar a mais de 40 quilómetros uns dos outros e os animais podiam afastar-se até 55 quilómetros do local onde nasceram. Além disso, percebeu-se que as zonas mais áridas eram pouco frequentadas pelos porcos-formigueiros.
Para os investigadores, que publicaram os resultados do trabalho na revista ‘Diversity and Distributions’, isso pode significar que a expansão das zonas áridas em África pode vir a reduzir a área de distribuição desse mamífero.
“Os nossos resultados preliminares sugerem que as alterações climáticas vão aumentar a fragmentação do habitat e limitar o fluxo genético dos porcos-formigueiros, principalmente onde se prevê que a precipitação venha a reduzir e a temperatura a aumentar”, explica Clinton Epps, primeiro autor do artigo.
O investigador diz que perceber a vida deste animal é importante, uma vez que praticamente todos os cenários climáticos futuros apontam para o aumento da aridez na África austral.
“Os nossos resultados estão em linha com investigações recentes que demonstram que extremos de seca e temperatura afetam negativamente a sobrevivência do porco-formigueiro e, como tal, os porcos-formigueiros podem estar vulneráveis a um rápido aquecimento climático”, lê-se no artigo.
Fonte: Greensavers