Alexandre Ribeiro
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Aproveitando a omissão das autoridades que deveriam cuidar da saúde dos animais, alguns carroceiros continuam maltratando e abandonando equinos pela cidade de Jales (SP). Três casos foram registrados em quatro meses. Dois em 20 dias. Não há notícias de que algum tutor tenha sido punido ou de que os criadores estejam sendo fiscalizados.
O mais recente aconteceu na manhã de quinta-feira, 23 de setembro, quando uma égua forte e jovem foi abandonada próximo ao Pátio da Fepasa, com enormes ferimentos na parte traseira e genital. Mesmo com dificuldades para andar, o animal foi levado andando para um galpão no recinto da Facip. A reportagem do jornal A Tribuna foi avisada do caso pela advogada Alzira Mara de Azevedo. Uma equipe foi deslocada até a avenida Francisco Jales, para onde a égua tinha sido levada e estava amarrada em um poste. A cena revoltava quem passava por ali e a polícia foi chamada para comprovar a situação e um Boletim de Ocorrência foi elaborado para se investigar o responsável.
O animal foi levado para a Secretaria da Agricultura, onde recebe medicação, que inclui vermífugo e antibiótico, porém, paga por um particular. O gasto estimado até agora é de R$ 300, mas deve ultrapassar R$ 1 mil.
Rotina
Os equinos, em sua maioria, éguas, são usados como força de tração por carroceiros que os levam à exaustão com excesso de trabalho e alimentação inadequada. Quando os animais já não aguentam mais trabalhar, por fraqueza ou doença causados pela rotina cruel, são abandonados e morrem. Por incrível que possa parecer, os ferimentos na região genital também são característica constante nesses casos, o que comprova a crueldade. Antes desse, duas mortes teriam sido causadas por maus-tratos em cerca de quatro meses. Uma delas em maio, na Vila União, e a última em 3 de setembro, no Roque Viola.
Em ambos, os animais morreram em decorrência do sofrimento. O primeiro caso foi tema de reportagem da Agência de Notícia de Direitos dos Animais (Anda), especializada no assunto. O título era “Égua vítima da exploração morre de cansaço, em Jales-SP“. Ao site da Agência, a advogada relatou que “a égua estava caída na calçada e não conseguia levantar-se de tanta fraqueza e cansaço”. Testemunhas disseram que o tutor não se sensibilizou com o sofrimento do animal e insistia em chicoteá-lo. “Após inúmeras tentativas, ele a abandonou e evadiu-se do local sem a menor piedade”. A égua morreu no dia seguinte em consequência dos ferimentos, inclusive nos órgão genitais.
No começo do mês, mais precisamente no dia 3, outro animal foi encontrado num terreno vazio nas proximidades da linha férrea, no Roque Viola. Explorada por um carroceiro, a égua padecia de desnutrição e sede e estava praticamente irrecuperável. Uma equipe da Prefeitura teve que usar máquina pá carregadeira e um caminhão basculante para levar o animal para um galpão no recinto da Facip, onde ele recebeu soro durante dois dias. Apesar do esforço, o animal teve o mesmo destino do primeiro.
O artigo 32 da Lei Federal 9.605/98 prevê pena de três a um ano de reclusão e multa para quem “praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos”. A pena aumenta em até um terço, se os maus-tratos resultam em morte do animal.
Os maus-tratos e abandono dos animais escondem um problema muito maior. Não há cadastro dos animais usados por carroceiros na cidade, nem fiscalização sobre as condições de uso ou tratamento. Não se sabe quantos animais são usados em atividades de trabalho, como a de carroceiros, onde os animais são acomodados ou se portam doença transmissível ao homem.