Um biólogo marinho lançou na Austrália um programa pioneiro para tentar salvar espécies ameaçadas de cavalos-marinhos.
O biólogo marinho David Harasti, da Universidade de Newcastle, na Austrália, criou filhotes de duas espécies não-ameaçadas em cativeiro nos últimos seis meses e soltou-os em seu habitat natural, na baía de Sydney.
A maioria das espécies de cavalos-marinhos não se adapta bem ao cativeiro, apresentando alto nível de estresse e baixo índice de reprodução. A esperança do experimento é que os filhotes sobrevivam sozinhos.
Se a experiência, realizada com animais das espécies cavalo-marinho-de-barriga, a maior espécie existente, e o cavalo-marinho-branco, der certo, oprograma poderá ser usado com espécies em extinção em outros países
“Estamos testando se cavalos-marinhos nascidos em cativeiro se adaptam à natureza, pois poderíamos introduzir o programa em outros países onde as populações estão diminuindo, como Filipinas, Vietnã e Indonésia (que possui o maior número de cavalos-marinhos do mundo), disse ele à BBC Brasil.
Teste
Vinte e dois filhotes foram liberados em condições de água diferentes em Sydney. Uma mais calma, e outra mais agitada, para ver em qual ambiente os cavalos-marinhos se adaptariam melhor.
“Assim, vamos observando e coletando informações valiosas desses animais”, disse. Todos os filhotes, identificados por uma pequena etiqueta fluorescente, devem ser monitorados por mergulhadores a cada duas semanas.
“A principal coisa é ver se os nascidos em cativeiro sobreviverão na natureza assim que liberados”, disse o biólogo, que faz o experimento com cavalos-marinhos-brancos (Hippocampus whitei).
“Como ainda sabemos muito pouco sobre os cavalos-marinhos, não podemos fornecer estatísticas de suas populações”, disse ele, que cita a espécie Hippocampus colemani como a mais rara.
‘Apaixonados’
Segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza, há oito espécies ameaçadas no planeta. A organização lista o cavalo-marinho-do-cabo, nativo da África do Sul, como a espécie mais ameaçada.
Para Harasti, a maior ameaça dos cavalos-marinhos é a pesca abusiva – motivada, entre outras coisas, pelo uso do animal na medicina tradicional chinesa -, além do desenvolvimento urbano e degradação dos habitats.
O cientista diz que, com o passar dos anos, a perda de habitats naturais como campos de esponjas, corais e algas, levaram algumas espécies da Austrália a habitar regiões ao redor das redes especiais de proteção contra tubarões. “Agora eles dependem delas, pois se adaptaram às mudanças humanas”, disse Harasti, que acrescentou que as redes são “perfeitas” para os animais, já que fornecem proteção contra predadores.
A Austrália abriga ao menos 20 das 60 espécies de cavalos-marinhos conhecidas no mundo, o que a torna o país possuidor da maior diversidade de espécies de cavalos-marinhos no mundo.
Novas espécies continuam a ser descobertas. Recentemente a menor espécie de cavalo-marinho do mundo foi encontrada próxima a costa da Indonésia. O Hippocampus denise tem apenas 16 milímetros de comprimento.
O pesquisador diz que os cavalos-marinhos são a única espécie do mundo na qual o macho dá à luz, podendo produzir cerca de cem filhotes de uma vez.
Segundo o Harasti, quando a fêmea e o macho iniciam o processo de acasalamento, ficam juntos durante toda a temporada. “Recentemente descobrimos também que eles são monogamistas de longo-prazo, pois os pares continuam juntos nas temporadas seguintes de acasalmento”.
Fonte: Estadão/BBC Brasil