Com os fenômenos extremos se tornando cada vez mais frequentes devido às mudanças climáticas, pesquisadores australianos estão desenvolvendo soluções inovadoras para mitigar os impactos das enchentes — e a resposta pode estar na própria natureza. Uma nova ferramenta, criada pela Universidade Nacional Australiana (ANU), visa ajudar comunidades e autoridades locais a aplicar estratégias baseadas em ecossistemas naturais para reduzir os riscos associados às inundações.
A coordenadora do projeto, Roslyn Prinsley, professora associada da ANU, explica que, durante décadas, a resposta às enchentes foi baseada essencialmente em infraestruturas de engenharia pesada, como barragens, canais e diques. No entanto, essa abordagem está evoluindo.
“O foco agora está mudando para soluções que trabalham com os sistemas naturais, como o plantio de árvores ou a criação de zonas úmidas”, afirma. “Essas intervenções podem reter ou desviar as águas das enchentes, reduzindo sua força e seu alcance.”
Além da função de proteção, essas medidas oferecem vantagens adicionais, como a conservação da biodiversidade e a melhoria da qualidade da água. “É uma abordagem com múltiplos benefícios”, destaca Prinsley. “Se conseguirmos reduzir o risco de enchentes e, ao mesmo tempo, tornar as paisagens mais resilientes e sustentáveis, todos ganham — o meio ambiente e as comunidades”, acrescenta.
Apesar do crescente interesse, a aplicação prática dessas soluções continua sendo um desafio, principalmente devido à falta de dados e orientações claras. Para preencher essa lacuna, a equipe da ANU reuniu evidências científicas e trabalhou em conjunto com municípios e comunidades nos estados de Nova Gales do Sul e Queensland. O resultado foi a criação de um conjunto de Diretrizes Nacionais para Soluções Baseadas na Natureza, agora disponíveis on-line.
“A Avaliação Nacional de Risco Climático, recentemente divulgada pelo Governo Australiano, indica que os eventos meteorológicos extremos se tornarão mais frequentes e intensos”, observa Prinsley. “Mas, apesar do crescente interesse pelas soluções baseadas na natureza, ainda há muito desconhecimento sobre como implementá-las de forma eficaz. Essas diretrizes vêm exatamente atender a essa necessidade”, complementa.
Um dos principais pontos destacados no documento é a importância do planejamento. A localização e o tipo de intervenção natural a ser aplicada em uma bacia hidrográfica têm um impacto direto na sua eficácia. “O que essas diretrizes oferecem é uma estrutura clara para planejar, projetar e aplicar soluções adaptadas a cada território”, acrescenta a pesquisadora.
As diretrizes resultam da análise de casos internacionais, complementada por estudos desenvolvidos em parceria com autoridades locais. Para os pesquisadores, este trabalho representa um passo decisivo na adaptação às mudanças climáticas e na construção de comunidades mais preparadas para lidar com desastres naturais.
Fonte: Greensavers
