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EFEITO

Aumento de temperatura de 5°C transforma Mediterrâneo em 'cemitério da biodiversidade'

A cada ano no continente europeu, novos recordes de temperatura são estabelecidos durante o verão do hemisfério norte

1 de setembro de 2022
3 min. de leitura
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Foto: Ilustração | Pexels

As ondas de calor das últimas semanas na Europa aqueceram o Mar Mediterrâneo em até 5°C acima da média do verão. Um verdadeiro sonho para os turistas que desejam nadar em águas de cerca de 30°C, mas um desastre infernal para as espécies marinhas que não podem migrar para temperaturas mais frias.

Incêndios e ondas de calor mais longas e mais intensas. A cada ano no continente europeu, novos recordes de temperatura são estabelecidos durante o verão do hemisfério norte. Na Espanha, por exemplo, julho de 2022 foi o mês mais quente dos últimos 60 anos, ou seja, desde que a Agência Meteorológica Estadual Espanhola (AEMET) começou a registrar variações climáticas.

Para os humanos, as ondas de calor que ocorrem nos mares podem não parecer prejudiciais, mas a vida marinha vem sofrendo como nunca com as mudanças climáticas, e até mesmo morrendo.

O caso do Mar Mediterrâneo é particular: trata-se de um mar fechado que corresponde a menos de 1% dos oceanos do planeta, mas abriga 7,5% da fauna marinha mundial e só tem contato com o Atlântico através do Estreito de Gibraltar, sendo portanto “mais propenso ao aquecimento”, segundo Joaquim Garrabou, pesquisador do Instituto de Ciências Marinhas de Barcelona.

“O que vem acontecendo sob as ondas do Mediterrâneo ainda não é conhecido, ou é pouco conhecido, mas fenômenos muito sérios estão ocorrendo. Estamos testemunhando processos que eu pensava que não veríamos, processos de extinções locais de espécies”, declarou Garrabou.

Coordenador de um artigo científico coletivo publicado na revista Global Change Biology em julho de 2022, o pesquisador destacou que, devido às suas características físicas, o Mediterrâneo é um dos pontos mais vulneráveis diante dos efeitos da mudança climática, e cujas condições climáticas ultrapassaram os limites estipulados no Acordo de Paris de 2015. “Já estamos vivendo nas condições que queríamos evitar”, disse o especialista à RFI.

Turistas X Biodiversidade

Enquanto na internet você pode encontrar sites informando aos turistas, em tempo real, a temperatura das praias do Mediterrâneo com categorias como “temperatura fria”, “temperatura ideal”, ou “temperatura de sonho”, muitas espécies animais foram forçadas a migrar para o norte, procurando por temperaturas mais frias, mas sofrem porque não podem se deslocar, uma vez que o Mar Mediterrâneo é cercado por terra continental.

As espécies mais afetadas são justamente estas que não podem migrar, como a vida selvagem marinha, que está morrendo ou sendo danificada em cerca de 80%, segundo o pesquisador. “Uma imagem que pode ilustrar o que está acontecendo atualmente no Mediterrâneo é um incêndio. Sob a água há uma espécie de incêndio marinho”, disse Garrabou à RFI. “Corais, esponjas, moluscos, algas calcárias ou posidonia oceânica são algumas das espécies que foram afetadas pelo aquecimento das águas”, disse ele.

Além disso, esta mudança de temperatura está ameaçando as espécies nativas do Mediterrâneo. Habituados às temperaturas tropicais, cerca de 1.000 espécies exóticas cruzaram o Canal de Suez, atraídas pelas águas quentes do Mediterrâneo, onde encontram condições ideais para viver. Este é o caso de medusas, dos peixe-leão e peixe-coelho. Esta última, segundo Garrabou, é “uma espécie herbívora que come algas muito vorazmente e está mudando as paisagens, destruindo habitats e transformando-os em desertos”.

“Dez por cento dessas espécies têm comportamento invasivo, ou seja, estão colonizando muitas áreas no Mediterrâneo oriental. Mas elas também estão indo para o oeste”, disse ele.

A pesquisa, realizada em colaboração com 30 equipes de diferentes países, mostra que os efeitos da mudança climática não são projeções ou cenários para um futuro distante, mas consequências que estão transformando o Mare Nostrum, como é conhecido o Mediterrâneo, em um cemitério de biodiversidade.

Diante de tal catástrofe, devemos refletir sobre “que direito temos de fazer desaparecer as espécies, ou que direito temos de empurrá-las para essa extinção”.

De um ponto de vista antropocêntrico, devemos ter em mente que ecossistemas marinhos saudáveis asseguram serviços nos quais vivemos, como a pesca, a proteção costeira, o turismo. Se eles não estiverem de boa saúde, nossa economia vai encolher muito”, advertiu ele.

Fonte: Uol

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