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IMPACTOS AMBIENTAIS

Aumento das plataformas de gelo na Antártida refuta aquecimento global?

Desde junho, mais de 2.000 usuários nas redes sociais usam estudo que mostra que algumas plataformas de gelo da Antártida aumentaram de tamanho na última década

29 de junho de 2023
5 min. de leitura
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Captura de tela feita em 23 de junho de 2023 de uma publicação no Facebook

Após décadas de pesquisa, existe um sólido consenso na comunidade científica sobre a existência do aquecimento global e como os seres humanos têm contribuído para acelerá-lo. No entanto, desde junho de 2023, mais de 2.000 usuários nas redes sociais usam um estudo que mostra que algumas plataformas de gelo da Antártida aumentaram de tamanho na última década para lançar dúvidas sobre esse fenômeno. Especialistas explicaram à AFP que, na realidade, essa situação anômala foi produzida pelo derretimento acelerado do gelo em áreas altas do continente branco.

‘A área da plataforma de gelo antártica aumentou em 5.300 quilómetros quadrados entre 2009 a 2019, segundo dados de satélite. A cor azul mostra o crescimento da camada de gelo e a vermelha mostra a redução. Arrefecimento global?’, diz mensagem compartilhada no Facebook, no Twitter e no Telegram.

A Antártida, também chamada de Antártica ou Continente Antártico, é formada por massas de terra ao sul de 60°S, incluindo regiões marítimas, cujo limite externo está na Convergência Antártica. O continente cobre uma área aproximada de cerca de 14.000.000 km2, dos quais apenas 1% está livre de gelo.

Em 1970 iniciou-se a observação regular do clima antártico, recolhendo, assim, informações sobre as oscilações de sua temperatura, ventos e precipitações.

Plataformas de gelo
O estudo citado pelas publicações virais para embasar a alegação de que não existe mudança climática foi publicado em 16 de maio de 2023 na revista científica The Cryosphere. Julia Andreasen, do Departamento de Solo, Água e Clima da Universidade de Minnesota, Anna Hogg e Heather Selley, da Escola da Terra e do Meio Ambiente da Universidade de Leeds foram as responsáveis por escrever o artigo de título “Variação da superfície da plataforma de gelo antártica de 2009 a 2019”.

Nas conclusões do estudo, obtidas através de observações de satélite, detectaram que “as plataformas de gelo da Antártica ganharam 661 Gt de massa de gelo na última década”, enquanto, usando outro método, observaram “uma perda substancial de gelo no mesmo período”. A pesquisa detalha que ‘em geral, a área das plataformas de gelo da Antártida aumentou 5.305 km2 desde 2009, com 18 plataformas de gelo recuando e 16 plataformas maiores aumentando sua área’.

As plataformas de gelo são formações de gelo no mar, não no continente. O doutor em Ciências pela Universidade de Hannover, Alemanha, e climatologista pela Universidade de Santiago (Usach), Raúl Cordero, disse à AFP que as “plataformas são geradas pelo fluxo de gelo que cobre a Antártida em direção ao mar, que depois flutuam e crescem até que finalmente se quebram, liberando icebergs.’

Cientistas brasileiros trabalham na estação brasileira na Antártida em 10 de março de 2014.
(foto: VANDERLEI ALMEIDA – AFP)

O fenômeno da expansão das plataformas que é detalhado no artigo científico não significa que o gelo aumenta, mas que os que estão localizados nas áreas altas da Antártida derretem mais rapidamente – devido ao efeito do aquecimento global – movendo-se para o mar. Segundo Cordero, “o fato de [as plataformas de gelo] estarem crescendo significa que o fluxo do gelo antártico é mais rápido, o que é anômalo e ruim”.

Ele alertou que ‘infelizmente, a Antártida está fora do balanço de massa. Isso significa que perde mais massa [de gelo], na forma de fluxo acelerado ou derretimento, do que ganha na forma de queda de neve.”

Ele especificou que o continente antártico perde aproximadamente 150 bilhões de toneladas de gelo a cada ano como resultado do aquecimento global, acrescentando que “o gelo não está aumentando”. Além disso, ele observou:

“As plataformas de gelo são uma pequena fração do continente antártico e o fato de sua área estar aumentando em uma porção extremamente pequena não é absolutamente nada comparado ao seu tamanho total”.

O doutor em Biologia Marinha e representante do Chile no Comitê Científico da Comissão para a Conservação dos Recursos Vivos Marinhos Antárticos (CCAMLR), Cesar Cárdenas, explicou à AFP que “a conclusão deste trabalho é que a rápida perda de gelo, embora a área da Antártida aumente, é um sinal da pouca estabilidade que as plataformas têm no momento’. Ele também alertou que “a massa se perde muito rapidamente, o que significa que ela derrete e então a água doce circulante nas águas circundantes aumenta”.

Realidade inegável
A preservação ambiental mobiliza os países há mais de 30 anos. Em 1994 foi assinada a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima e, em 1996, a Convenção de Combate à Desertificação. Em 2015, foi acrescentado o Acordo de Paris de 2015, com o objetivo de limitar o avanço do aquecimento global por meio da restrição das emissões de gases de efeito estufa dos 196 países signatários.

O geógrafo pela Universidade Diego Portales e doutor em Didática das Ciências e Educação Ambiental pela Universidade Autônoma de Barcelona, Felipe Kong, lembrou à equipe de checagem da AFP que “há evidências concretas e claras que dizem que a temperatura global do planeta aumentou, o que está comprovado desde o século 19” e que esse aquecimento “acelerou nos últimos 40 anos, o que é um indicador preciso e científico de que a mudança climática é real”.

Além disso, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), ‘as atividades humanas têm sido o principal motor das mudanças climáticas, devido à queima de combustíveis fósseis, como carvão, petróleo e gás’.

Este fenômeno afeta particularmente as áreas mais frias. A fundação espanhola Aquae, dedicada ao estudo da otimização dos recursos naturais, explica que desde a década de 1950 ‘o clima na Antártica aumentou 3ºC, o que significa que todas aquelas plataformas que antes eram estáveis estão agora em perigo’. E esclarece que este aumento de temperatura implica ‘uma perda de 25.000 km2 de plataforma de gelo’.

Fonte: Estado de Minas

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