Se o ritmo atual do aquecimento global não for controlado, isso empurrará bilhões de pessoas para fora do “nicho climático”, as temperaturas em que os humanos podem florescer, e os exporá a condições perigosamente quentes, de acordo com um novo estudo divulgado na segunda-feira (22).
O estudo, publicado na revista Nature Sustainability, avaliou o impacto nos seres humanos se o mundo continuar na trajetória projetada e aquecer 2,7 graus Celsius até o final do século, em comparação com as temperaturas pré-industriais.
Considerando o aquecimento global esperado e o crescimento populacional, o estudo descobriu que até 2030 cerca de dois bilhões de pessoas estarão fora do nicho climático, enfrentando temperaturas médias de 29 graus Celsius ou mais, com cerca de 3,7 bilhões vivendo fora do nicho até 2090.
Timothy Lenton, um dos dois principais autores do estudo, disse que um terço da população global pode se encontrar vivendo em condições climáticas que não favorecem o “florescimento humano”.
“Essa é uma reformulação profunda da habitabilidade da superfície do planeta e pode levar a uma reorganização em larga escala de onde as pessoas vivem”, disse Lenton, diretor do Instituto de Sistemas Globais da Universidade de Exeter, em um vídeo compartilhado pelo instituto.
Segundo o relatório, o nicho consiste em lugares onde a temperatura média anual varia de 13 graus Celsius a cerca de 27 graus Celsius. Fora dessa janela, as condições tendem a ser muito quentes, muito frias ou muito secas.
O estudo determinou que, embora menos de 1% da população global esteja atualmente exposta ao calor perigoso, com temperaturas médias de 29 graus Celsius ou mais, a mudança climática já colocou mais de 600 milhões de pessoas fora do nicho.
“A maioria dessas pessoas vivia perto do pico mais frio de 13 graus Celsius do nicho e agora está no ‘meio termo’ entre os dois picos. Embora não sejam perigosamente quentes, essas condições tendem a ser muito mais secas e historicamente não sustentam populações humanas densas”, disse o coautor do estudo, Chi Xu, professor da Universidade de Nanjing.
Se a Terra aquecer 2,7 graus Celsius, a Índia, Nigéria, Indonésia, Filipinas e Paquistão seriam os cinco principais países com a população mais exposta a níveis perigosos de calor, segundo o estudo.
Toda a população de alguns países, como Burkina Faso e Mali, bem como pequenas ilhas já em risco com o aumento do nível do mar, enfrentariam altas temperaturas sem precedentes.
Nos piores cenários, se a Terra aquecer 3,6 graus ou mesmo 4,4 graus Celsius até o final do século, metade da população mundial estaria fora do nicho climático, constituindo o que o relatório chama de “risco existencial”.
Segundo o relatório, viver fora do nicho pode levar ao aumento das taxas de mortalidade, já que a exposição a temperaturas acima de 40 graus Celsius pode ser letal, especialmente se a umidade for tão alta que o corpo não consiga mais se resfriar a uma temperatura que possa manter as funções normais.
Prevê-se também que o calor extremo diminua o rendimento das colheitas e aumente os conflitos e a propagação de doenças.
Os cientistas há muito alertam que o aquecimento acima de 1,5 grau Celsius resultaria em mudanças catastróficas e potencialmente irreversíveis. À medida que as áreas dentro do nicho climático diminuem enquanto as temperaturas globais aumentam, uma faixa maior da população também será exposta com mais frequência a eventos climáticos extremos, incluindo secas, tempestades, incêndios florestais e ondas de calor.
Especialistas dizem que ainda há tempo para diminuir o ritmo do aquecimento global, abandonando a queima de petróleo, carvão e gás e adotando energia limpa, mas a janela está se fechando.
Cada fração de grau fará a diferença, disse Lenton. “Para cada 0,1 grau Celsius de aquecimento acima dos níveis atuais, cerca de 140 milhões de pessoas serão expostas a um calor perigoso”.
No início deste mês, a Organização Meteorológica Mundial anunciou que, nos próximos cinco anos, há 66% de chance de que a temperatura do planeta seja mais de 1,5 grau Celsius mais quente do que os níveis pré-industriais por pelo menos um ano.
“Deixamos tão tarde para enfrentar as mudanças climáticas adequadamente que agora chegamos a um ponto em que atingir o ritmo de mudança que precisamos significa algo como acelerar em cinco vezes a redução das emissões de gases de efeito estufa ou a descarbonização da economia global”, disse Lenton.
Fonte: CNN