A perda de hábitat, causada pela fragmentação intensa das últimas áreas de mata atlântica do Grande Recife, e a movimentação típica dos animais durante o período reprodutivo têm aumentado a entrada de preguiças (Bradypus variegatus) no Centro de Triagens de Animais Silvestres (Cetas) do Ibama no Recife.
De julho até hoje, faltando pouco mais de uma semana para encerrar o mês, foram recolhidos 28 exemplares. Só nas últimas duas semanas, oito espécimes foram entregues pela população e pelos órgãos ambientais parceiros. A maioria apresenta queimaduras causadas por choques elétricos e fraturas por quedas ou atropelamentos. Em 2008, de julho a outubro, o Cetas recebeu 24 indivíduos.
“É a época de reprodução e os machos se deslocam procurando fêmeas ou novos territórios para procriar. Como as matas estão escassas, acabam se aproximando de áreas urbanas, cruzando estradas e subindo em postes de energia”, sintetiza a chefe do núcleo de Fauna do Ibama em Pernambuco, Catarina Cabral. O resultado desse périplo acaba sendo quase sempre desfavorável aos animais. Muitos chegam seriamente queimados e deverão ter mãos, braços e pernas amputados. Outros perderão os movimentos para sempre.
Pelo menos a metade desses animais é proveniente do distrito de Aldeia, no município de Camaragibe, região metropolitana do Recife. Região que sofre intensa especulação imobiliária com o surgimento de condomínios de alto padrão, Aldeia teve áreas verdes fragmentadas, o que interferiu diretamente no deslocamento das preguiças.
Segundo Catarina Cabral, o Ibama prepara uma equipe para vistoriar o distrito, entrevistar moradores e observar as redes elétricas do local.“Se necessário, vamos propor às companhias de eletricidade que adotem em suas redes medidas de proteção para as preguiças, pois os
acidentes têm sido constantes”.
Também a população será orientada sobre como agir, caso se depare com preguiças. A recomendação é manipular o animal o mínimo possível, colocando-o num local à sombra e protegido do ataque de cães e de outros animais. Não alimentar, nem oferecer água. Comunicar imediatamente aos órgãos ambientais do município, da Polícia Militar (Cipoma) ou ao próprio Ibama. Enquanto não é feita a retirada, deve-se evitar a presença de pessoas ao redor das preguiças, pois se estressam com facilidade, o que prejudica sua recuperação.
As preguiças que se recuperarem completamente no Cetas do Ibama serão levadas para a soltura, em áreas protegidas. Aquelas que tiverem membros amputados ou perderem movimentos serão destinadas para recintos especiais mantidos pela Ceplac, órgão do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, em Itabuna, na Bahia.
Airton De Grande
Ascom/Ibama/PE