O número de espécies de animais ameaçados no Brasil vai aumentar drasticamente na próxima lista oficial que está sendo elaborada pelo governo federal, segundo dados preliminares publicados pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). A meta é avaliar o status de conservação de 10 mil espécies até 2014. Por enquanto, foram analisadas cerca de 1,8 mil, e o número de animais na categoria “criticamente em perigo” – ou seja, em risco imediato de extinção – já é maior do que o da lista atual.
Na nova análise, 331 espécies são classificadas como ameaçadas em três categorias: 137 criticamente em perigo, 89 em perigo e 105 vulneráveis. Na lista atual, publicada em 2002, esses números são 125, 163 e 330, respectivamente.
O grupo de risco inclui desde borboletas, sapinhos e caramujos até onças, baleias e tubarões. Entre os mais ameaçados estão a toninha (uma espécie pequena de golfinho), o soldadinho-do-araripe (uma ave endêmica do sertão cearense) e várias espécies de tubarão-martelo, que aparecem na lista pela primeira vez. O boto-cor-de-rosa, o periquito-cara-suja e o peixe-boi-marinho estão numa categoria um pouco melhor – apenas “em perigo” -, enquanto que a onça-pintada, a raia-manta e o cervo-do-pantanal aparecem como “vulneráveis”.
Em uma comparação preliminar com a lista atual, feita pelo Estado, aparecem boas e más notícias. A baleia-jubarte, que hoje é classificada como vulnerável, deixa de ser considerada uma espécie ameaçada de extinção no Brasil, passando para a categoria de “quase ameaçada”; enquanto que a arara-azul-de-lear melhora duas categorias, passando de “criticamente ameaçada” a “vulnerável”.
No sentido oposto, a tartaruga-cabeçuda passa de “vulnerável” a “em perigo”; enquanto que a tartaruga-de-pente dá mais um passo rumo à extinção, passando de “em perigo” para criticamente ameaçada.
Essa lista preliminar, representando 18% do total de espécies que se desejam avaliar, foi publicada online em dezembro, em uma revista institucional do ICMBio, porém retirada do ar pouco tempo depois.
Um novo encontro de especialistas, para validação de outras 2,6 mil espécies, foi realizado em abril, mas os resultados ainda não estão disponíveis. Vários grupos importantes, como o dos primatas, ainda não entraram nas estatísticas. A expectativa do ICMBio é que o número final de espécies ameaçadas chegue próximo de 1 mil, comparado às 618 da lista atual.
O secretário de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Roberto Cavalcanti, ressalta que os dados publicados pelo ICMBio representam uma “lista candidata”, elaborada por cientistas, que ainda precisará ser submetida à Comissão Nacional da Biodiversidade (Conabio) e publicada pelo ministério na forma de uma instrução normativa para se tornar “oficial”.
“A publicação oficial não será apenas uma lista de nomes, mas uma avaliação de risco acompanhada de um conjunto de ações necessárias para lidar com esses riscos”, diz Cavalcanti. “Em cima dos dados científicos tem de haver ações políticas que respondam a esses dados. Senão, cria-se um problema em vez de apontar soluções”, afirma o secretário do MMA.
A expectativa, segundo ele, é que os dados sejam submetidos à Conabio em agosto. “A produção da lista é absolutamente essencial para as estratégias de conservação da biodiversidade”, enfatiza Cavalcanti.
Metodologias
O agravamento do quadro de ameaças é inegável, mas a comparação com a lista vigente tem de ser feita com cautela. Apesar de os critérios de avaliação individual de cada espécie serem essencialmente os mesmos – adaptados da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN), referência mundial na avaliação de espécies ameaçadas -, a representatividade da nova lista é significativamente maior.
Estão sendo avaliadas, de forma inédita, todas as espécies conhecidas de cada grupo animal (aves, mamíferos, anfíbios etc), enquanto que nas listas anteriores era avaliada apenas uma amostra de espécies mais conhecidas de cada um. Rigorosamente falando, as listas não são comparáveis cientificamente ou estatisticamente.
“Pela primeira vez teremos uma lista verdadeiramente completa e representativa da biodiversidade brasileira”, diz a bióloga Monica Brick Peres, do MMA, uma das principais responsáveis pelo trabalho. “Nunca isso foi tão bem feito como agora no Brasil, seguindo os protocolos internacionais à risca”, afirma Rodrigo Leão Moura, biólogo da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que ajudou a coordenar a avaliação de peixes. “São resultados que refletem a situação real.”
Fonte: Estadão