EnglishEspañolPortuguês

COMPORTAMENTO

Au au au... atenção! Latidos em excesso podem ser pedidos de ajuda

Quando um cãozinho não para de latir ou passa a latir mais do que o costume, ele pode estar tentando chamar a atenção do tutor para dores ou desconfortos

10 de dezembro de 2024
Ailim Cabral
6 min. de leitura
A-
A+
Foto: Ilustração | Freepik

Para quem tem um cãozinho, chegar em casa e ser recebido com um rabo abanando, lambeijos e latidos de alegria é um dos melhores momentos do dia. Os latidos e os gestos são as formas que os animais têm para se comunicar, fazem parte da rotina e são esperados.

No entanto, os latidos, usados para expressar alegria, medo, alertas e qualquer outra emoção que se apodere do cachorro, podem se tornar fonte de problemas para o tutor e para o animal quando se tornam excessivos.

A veterinária Viviane Lopes de Rezende, que atua nas clínicas CVS, Doctor Vet, Pet Health, Casa dos Pets e Melhor amigo, explica que o latido é a maneira que o cachorro usa para chamar a atenção do seu tutor e tem a tendência de se tornarem excessivos quando ele precisa de mais estímulos.

O tédio é uma das grandes causas desse aumento na vocalização, assim como a falta de exercícios físicos. “Algumas raças têm muita energia e podem latir para liberar essa energia acumulada. A falta de atividades físicas e mentais faz com que eles busquem alguma forma de entretenimento, e os latidos tornam-se uma válvula de escape”, acrescenta Viviane.

Além da baixa quantidade de estímulos, a solidão é um dos grandes fatores que pode aumentar o tédio e a necessidade de latir por mais tempo. Nesses casos, a médica veterinária Débora Cunha, professora Universidade Católica de Brasília e proprietária da Boulevard Pet, empresa que conta com serviços de creche e hospedagem canina, centro estético e atendimento veterinário, recomenda, quando possível, a adoção de outro animal que possa fazer companhia ao primeiro ou a diminuição do tempo que ele passa sozinho.

“Brinquedos específicos também fazem bastante diferença. Escolha pelo menos dois diferentes e deixe com o cachorro antes de sair de casa. Vá revezando os objetos, porque ele vai acabar se cansando eventualmente e ter o tédio associado”, ensina Débora.

Petiscos e ossinhos mais duros, que deixam o animal entretido enquanto rói e mastiga também costumam ajudar. Além de alimentar e ter sabores atrativos, eles funcionam como uma forma de entretenimento.

Por fim, para animais muito agitados e quando essas alternativas não funcionam, a creche e o day care são opções que permitem que o animal faça atividades direcionadas e trabalhe a socialização em um ambiente voltado e criado para ele.

Ansiedade e fobias

Ainda no aspecto comportamental, no qual se encaixa a maioria dos casos de latidos excessivos, Viviane destaca a ansiedade e o estresse. “Cães que sofrem de ansiedade, especialmente de separação, tendem a latir mais, principalmente quando ficam sozinhos ou se sentem ameaçados”, comenta a veterinária.

Mudanças na casa, barulhos altos ou a presença de estranhos também podem ser gatilhos para esse comportamento. Algumas raças são mais territorialistas e tendem a latir para proteger o seu espaço. “O comportamento de alerta e guarda é instintivo e pode se intensificar com a passagem de pessoas ou de outros animais perto da casa. Dependendo do caso, esse latido pode ser excessivo”, completa.

Os medos e as fobias, na maioria das vezes associados a barulhos altos, como trovões e fogos de artifício, também podem levar os animais a latirem. Trata-se de uma resposta instintiva ao medo ou até uma maneira de comunicar, aos tutores, o risco que ele acredita estar correndo.

Por fim, a médica veterinária Viviane comenta sobre a socialização inadequada, que deixa os cães inseguros e pode levá-los a reagir latindo a qualquer estímulo diferente, como a aproximação de pessoas ou outros animais.

Nesses casos, é importante que os tutores identifiquem a causa dos latidos para, então, descobrir a conduta mais adequada. Para animais ansiosos, estressados e medrosos, a rotina, com horários regulares para refeições, passeios e descansos, são boas alternativas. Os exercícios físicos e mentais também ajudam nas causas comportamentais, assim como reduzir a exposição dos animais aos gatilhos.

Conheça seu cachorro

Foi observando o comportamento da vira-lata Duda, 6 anos, que sua tutora, a servidora pública Helena Salgado Pinto, 33 anos, percebeu que a cachorrinha tinha muito medo de tudo que fugisse da rotina e de qualquer pessoa diferente. Ela chegou na casa com apenas 40 dias e Helena conhece a mãe de Duda e seus tutores, tendo a certeza de que ela nunca sofreu maus-tratos. “Percebemos que era uma coisa da personalidade dela mesmo”, comenta.

Amiga e com uma relação tranquila com os outros dois cães de Helena, Duda não reagia da mesma forma a qualquer outro animal ou humano. “Ela latia desesperada, sem parar, tremendo. Ficava arredia, não obedecia nesses momentos, e ninguém podia chegar perto”, lembra.

E, assim, se passaram quatro anos. Helena tentou de tudo, mas nada resolvia, e Duda seguia vivendo mais isolada e sofrendo muito sempre que precisava ir ao veterinário, pet shop ou quando a tutora recebia visitas.

Há cerca de um ano, ela conheceu o trabalho de Jardênia Marçal Rosa, acadêmica no 9° semestre do curso de medicina veterinária, que fez um trabalho de pesquisa sobre o efeito da hipnose em animais que têm medo ou problemas com barulhos altos — também um dos gatilhos de Duda.

Apesar de achar que não funcionaria, Helena estava disposta a tentar de tudo. Depois da terceira sessão, ela se impressionou quando recebeu amigas em casa — o que normalmente fazia com que Duda latisse muito e se escondesse — e a cachorrinha sentou em uma cadeira próxima do grupo e até cochilou. “Tudo melhorou e agora ela é muito mais tranquila, com uma qualidade de vida melhor. Ela tem seus momentos de medo ainda, claro, mas nada comparado ao que era antes”, comemora.

Jardênia comenta que, além do exercício físico e da reeducação por meio do adestramento, a comunicação intuitiva e a hipnose não induzida por medicamentos podem ajudar nos problemas comportamentais que levam aos latidos excessivos. “A hipnose é uma alternativa recente no âmbito veterinário e está sendo adaptada para tratamento de cães em diversos setores da saúde, promovendo o bem-estar.” Pode ajudar o cão na remodelação de sua resposta a um evento que lhe cause estresse, medo ou ansiedade, favorecendo, assim, seu equilíbrio.

Em sua pesquisa, feita por intermédio do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC), Jardênia percebeu uma melhora comportamental em diversos aspectos dos cães que participaram, não apenas em relação à manutenção do equilíbrio quando expostos aos ruídos sonoros estressantes, mas também na diminuição dos níveis de agressividade, fobia, ansiedade de separação e latidos excessivos, entre outros.

Fonte: Correio Braziliense

    Você viu?

    Ir para o topo