Todos os dias, milhares de animais são atropelados nas rodovias brasileiras, seja por ausência de sinalização ou de outros mecanismos capazes de impedir os acidentes ou mesmo pela falta de atenção dos motoristas. Os levantamentos sobre esses dados são bastante divergentes: uns apontam 14 milhões de mortes ao ano, enquanto outros calculam até 200 milhões, apenas no Brasil.
O projeto Rodofauna, do Instituto Brasília Ambiental (Ibram), monitora, desde 2010, a fauna silvestre atropelada em locais próximos de unidades de conservação no Distrito Federal.
Dos mais de 2.300 animais encontrados atropelados na região, 85% eram silvestres e, o restante, domésticos. As aves corresponderam a quase 70%, seguidas pelos répteis (14,6%), mamíferos (10,4%) e anfíbios (6,2%).
As espécies mais comuns encontradas mortas nos arredores da capital do país foram o pássaro Tiziu, o sapo, a cobra-de-duas-cabeças, a coruja e o cachorro do mato. “Em novas rodovias, a definição do traçado é essencial. Evitar áreas em que a natureza se encontra bem preservada, especialmente aquelas com maiores dimensões, assim como os corredores ecológicos que unem estes fragmentos, reduz a quantidade e gravidade das ocorrências”, explica o biólogo do Ibama que atua com licenças ambientais, Mozart Lauxen.
Ações a serem adotadas
Fora a definição do traçado, as chamadas medidas mitigadoras, que incluem, além das passagens de fauna e cercas (internacionalmente reconhecidas como as mais eficazes), inúmeras outras medidas podem ser adotadas.
“Túneis para anfíbios e répteis, passagens no estrato arbóreo, barreiras anti-ruído, ampliação do canteiro central, campanhas educativas, sinalização viária, limitação da velocidade, redução do volume de tráfego, interdição temporária, sistemas de detecção de fauna, balizas, remoção de carcaças, modificação do hábitat e redução populacional, são outras opções conhecidas para minimizar o impacto das rodovias sobre a fauna”, reforça Lauxen.
Antes de implantar novas rodovias, o Ibama exige uma avaliação do impacto da obra sobre a fauna, a adoção de medidas adequadas para minimização dos incidentes nos trecho críticos, e o monitoramento do resultado da implementação das mesmas.
Tecnologia
O problema, no entanto, não é exclusivo do Brasil. Ele se repete em todo o mundo. Para tentar reverter essa situação, uma empresa australiana vem testando um equipamento chamado “DeerDeter” (detector de veados, em tradução livre).
É um sistema desenvolvido para desencorajar veados e alces, animais típicos naquele país, a cruzar rodovias que passam por florestas e grandes parques nacionais. O sistema também foi testado em estradas da Europa e dos Estados Unidos.
O mecanismo usa uma combinação de luz e som para afugentar os animais. Quando o motorista se aproxima de um trecho de rodovia imerso em uma floresta densa, o automóvel emite luz para pequenos postes localizados na beira da estrada.
O primeiro poste dispara um alarme, que soa como o som de um animal ferido e emite um feixe de luz que é entendido pelos animais na mata como um predador. Os sinais são ativados por todos os postes ao longo do trecho.
Pela necessidade de não causar quebra nos padrões migratórios de diversas espécies. De acordo com os desenvolvedores da tecnologia, ela pode ser adaptada para outros tipos de clima, energizadas por pequenas células elétricas.
Para o analista ambiental do projeto Rodofauna, Rodrigo Santos, o equipamento é restrito àqueles animais. “Eles podem se acostumar com aquilo e o equipamento perde a funcionalidade. Além disso, sua efetividade é questionável. Para algumas espécies pode funcionar e para outras não. No Brasil precisaríamos desenvolver um para pássaros, por exemplo, e isso demanda pesquisa. Não tenho conhecimento de nada na área por aqui”, afirma.
Para Santos, uma das medidas mais eficientes para tentar reduzir os atropelamentos são os redutores de velocidade. “Placas de sinalização, por si só, não são eficientes. Mas o objetivo do projeto Rodofauna, ao fazer um mapeamento da situação, é identificar os pontos com maior incidência de atropelamentos para apontar como resolver essas questões. As informações constarão no relatório que estamos concluindo”, garante.
Fonte: A Crítica de Campo Grande