As fêmeas dos caranguejos-verdes (Carcinus maenas) são mais fortemente atraídas pelos campos eletromagnéticos gerados por cabos elétricos submarinos do que os machos.
A revelação é feita num artigo publicado na revista ‘Environmental Science & Technology Letters’, no qual um trio de cientistas da Universidade de Portsmouth (Reino Unido) avisa que essa atração pode perturbar os comportamentos de reprodução da espécie e, dessa forma, afetar a sobrevivência das suas populações.
Em laboratório, a equipe expôs 120 caranguejos-verdes juvenis a campos eletromagnéticos semelhantes aos que se detectam perto de cabos elétricos submarinos, como os que transportam para terra energia gerada a partir de geradores eólicos offshore. E os resultados, segundo os investigadores, mostraram “diferenças comportamentais significativas” entre machos e fêmeas.
Em média, era duas vezes mais provável que as fêmeas permanecessem em áreas perto de cabos submarinos do que em áreas sem eles. Os machos, por outro lado, não pareciam ser afetados pelos campos eletromagnéticos.
“Este é o primeiro estudo a demonstrar respostas sexualmente específicas aos campos eletromagnéticos de cabos elétricos submarinos em caranguejos”, afiança Elizabeth James, primeira autora do artigo.
Em comunicado, a investigadora explica que o fato de se terem detectado diferenças no comportamento das fêmeas, mesmo com campos eletromagnéticos de baixa intensidade, “sugere que precisamos de pensar com muito mais cuidado sobre como a infraestrutura de energia offshore podem estar a afetar os ecossistemas marinhos”.
À medida que o mundo corre em direção à transição energética, a expansão de energias renováveis offshore, localizadas em mar e, por isso, com necessidade de ligações a terra, poderá ter efeitos cada vez maiores na reprodução dos caranguejos-verdes. Da mesma forma, podem estar a ser afetadas outras espécies marinhas sem que, para já, se saiba que tal esteja a acontecer.
Se os caranguejos fêmeas optarem por ficar perto de cabos submarinos em vez de continuarem as suas rotas migratórias, isso pode afetar a escolha do local onde depositam os seus ovos e ter consequências mais vastas para as populações da espécie ao longo de toda a linha costeira.
Embora se preveja que os cabos submarinos cobrirão menos de 0,1% do leito oceânico até 2050, este grupo de cientistas argumenta que os seus impactos podem ser significativos se forem colocados “nos locais errados”, como nas rotas migratórias que os animais usam para alcançarem as suas áreas de reprodução.
“À medida que expandimos rapidamente as energias renováveis offshore para atingirmos as metas climáticas, precisamos de assegurar que não estamos criando inadvertidamente novos problemas ambientais enquanto resolvemos outros”, destaca Alex Ford, coautor.
Fonte: Greensavers