Por Patricia Tai (da Redação)
O ator egípcio Mohammad Ramadan negou as acusações feitas contra ele por ativistas de Direitos Animais que exigiram o veto ao seu novo filme “Qalb Al Asad” (Heart of a Lion). Os ativistas alegaram que o filme apresenta numerosas violações dos direitos dos animais, uma questão que Mohammad nega veementemente.
Segundo reportagem do site Albawaba, Mohammad afirma ter contracenado com os leões em todas as cenas difíceis sem tê-los sedado ou prejudicado de qualquer maneira, como tirando as suas garras, como acusaram os ativistas. Mohammad também negou ter pleiteado junto ao diretor do filme, Al Ahmad Sabki, que os leões tivessem os seus dentes arrancados.
Mohammad disse que os leões não foram prejudicados de forma alguma, e que nenhuma violação de qualquer natureza foi feita no filme, contra qualquer animal. Ele defende que o filme é pacífico e traz a mensagem de que os leões são animais nobres e honrados, que têm mais lealdade para com sua própria espécie do que os seres humanos demonstram ter entre si.
Ainda de acordo com a reportagem, Mohammad desempenha o papel de guardião de um zoológico, que ajuda a polícia a resolver um caso de assassinato, e o filme também parece enfatizar que animais selvagens podem ser domesticados pelas pessoas.
Na verdade, o grande problema dos filmes que utilizam animais é que não há uma fiscalização metódica nem uma exigência de prestação de contas com relação ao que acontece, de fato, em filmagens, por parte de diretores e equipes cinematográficas. Estúdios de gravação, assim como matadouros e laboratórios, não têm “paredes de vidro”, e as autoridades de todo o mundo não parecem considerar isso uma prioridade. Talvez, melhor dizendo, nem os espectadores (ou, “muito menos” os espectadores).
Em 2010, um filme brasileiro chamado “Reflexões de um Liquidificador”, filme que foi aclamado como um dos melhores filmes de um Festival Nacional no mesmo ano, contava a história de uma mulher que empalhava (taxidermizava) animais. Apareciam, no filme, corpos de animais domésticos sendo taxidermizados. Tive a infelicidade de assistir ao filme inteiro, por acaso, e enviei, na ocasião, diversos e-mails ao diretor do filme, André Klotzel, questionando sobre como conseguira aqueles corpos e de que forma foram feitas as filmagens, mas ele nunca respondeu.
O filme “A Parede” (“Die Wand”, Áustria/Alemanha, de Julian Roman Pösler), que foi exibido na Mostra Internacional de Cinema de 2012, mostrava animais selvagens sendo caçados, seus corpos partidos para alimentação humana. Igualmente, não há informações sobre como aquelas cenas foram feitas. Não me lembro de uma nítida mensagem no início ou no fim do filme, que seria uma mera questão de respeito, dizendo que não houve crueldade aos animais nas filmagens, assim como não há esta mensagem no filme brasileiro de André Klotzel. E estes são apenas alguns dos inúmeros exemplos.
Voltando à questão do filme estrelado por Mohammad Ramadan, pode ser que o ator esteja falando a verdade, não há como saber e é incorreto julgar sem real conhecimento dos fatos. Por outro lado, é possível concluir previamente, sem receio de errar, que a mera submissão dos animais à execução de tarefas que não lhes são naturais já constitui exploração, e que obviamente pressupõe coerção em maior ou menor grau – ou em altíssimo grau, diga-se de passagem, no caso de animais selvagens.