Por Ana Rita Negrini Hermes (da Redação)
O objetivo das fazendas industriais é produzir o máximo possível para satisfazer a demanda. Isto significa que os animais destas fazendas raramente recebem, se é que recebem, qualquer tipo de considerações de bem-estar.
De fato, a maioria das leis de crueldade animal dos estados americanos deixa os animais de fazendas fora da conversação, já que a maioria dos abusos e confinamento – da debicagem às gaiolas – é justificada como “padrão da indústria”, quando na verdade estes “padrões” são alguns dos atos e condições mais cruéis imagináveis. Enquanto todos os animais desses estabelecimentos industriais vivem em sofrimento perpétuo, as galinhas poedeiras são as que mais sofrem. As informações são do One Green Planet.
De acordo com a Humane Society of the United States, “as fazendas de galinhas para produção de ovos empilham mais de 90 % dos 280 milhões de galinhas poedeiras em gaiolas tão pequenas que as aves nem conseguem abrir suas asas. Cada ave passa toda sua vida num espaço menor que o de uma folha de papel. Virtualmente incapazes de se mover, elas não conseguem fazer muitas coisas que são importantes para seu bem-estar, como empoleirar-se, aninhar-se ou tomar banho de terra.”
O santuário Animal Place, em Grass Valley, Califórnia, viu estas condições em primeira mão em uma fazenda industrial abandonada em Turlock, Califórnia, em fevereiro de 2012, quando participou do maior resgate de animais de fazendas da história, junto com o Santuário Harvest Home Animal e outras agências e voluntários.
Inicialmente, quando o pessoal do Animal Place chegou à fábrica, que alojava 50.000 aves que um fazendeiro havia deixado para morrer sem comida e água, eles foram “cumprimentados por oficiais estaduais” que lhes negaram “acesso aos galpões,” conforme contou Marji Beach, diretora do Animal Place.
“Quando ficou evidente que não iríamos sair, os oficiais contrataram guardas de segurança para nos impedir de fazer um resgate direto. Após horas olhando as aves serem mortas por intoxicação com gás, chegamos ao ponto em que arriscaríamos ser presos para conseguir tirar, ao menos, uma ave viva daqueles galpões,” diz Beach.
Entretanto, depois de uma campanha nas mídias sociais, atenção da imprensa e reuniões com o Diretor Executivo do Animal Place, Kim Strula, o controle animal do condado de Stanislaus finalmente cedeu e permitiu que o santuário e as outras instituições resgatassem as aves consideradas mais saudáveis. Durante as 48 horas do resgate, que durou de 23 a 24 de fevereiro, cerca de 30 voluntários chegaram para ajudar, incluindo “santuários, agências de controle animal, sociedades humanitárias e o SPCA,” relata Beach.
Das 4.500 galinhas resgatadas, 4.100 foram transportadas e cuidadas pelo Animal Place. Infelizmente, nem todas as galinhas puderam ser salvas. Vinte mil morreram de fome antes da operação de resgate e mais de 25.000 foram envenenadas por gás em latas de lixo pelos oficiais do controle animal.
A equipe do Animal Place trabalhou quase quatro dias e quatro noites após o resgate para alimentar estas galinhas tão desnutridas e devolvê-las à vida. Uma vez que muitas delas já estavam em péssimas condições de saúde, Beach afirmou que centenas delas não conseguiram sobreviver apesar de todo o cuidado e esforço. “A maioria das galinhas pesava de meio a um quilo, tendo perdido quase 60 % de sua massa corporal,” disse a diretora.
Quando ficaram fortes o suficiente para caminhar sem cair, a organização permitiu que os animais ficassem ao ar livre pela primeira vez em suas vidas. Beach lembra-se da cena como “alegria pura”. “Galinhas que só tinham conhecido chão de arame davam pulos na terra e na grama pela primeira vez, saboreando as novas sensações. Elas se jogavam no chão dramaticamente, esticando suas asas para absorver o calor do sol. Algumas batiam suas asas e corriam. Quando uma das galinhas começava a tomar banho de terra, as outras corriam para se juntar a ela,” diz ela.
Passado algum tempo, a maioria das galinhas foi adotada através dos programas de adoção do Animal Place e de outras instituições, incluindo o SPCA de Sacramento, a Marin Humane Society e Sonoma Humane Society. Cerca de 40 galinhas de Turlock permanecem no Santuário Animal Place “como embaixadoras das galinhas em outras fazendas de produção de ovos,” relata Beach.
Os esforços dos protetores neste resgate foram capturados em um documentário chamado “Turlock”, feito pelo cineasta Keegan Kuhn, que será em breve relançado em uma versão mais longa e que já teve sua pré-estreia neste novo formato recentemente na Califórnia.
Kuhn e o Santuário estão convidando todos os interessados a fazer uma apresentação de “Turlock” em suas comunidades, tanto em reuniões privadas como em eventos comunitários maiores, com o principal objetivo de fazer com que o maior número possível de pessoas assista ao documentário para que mais pessoas entendam a crueldade e exploração que ainda predominam na indústria dos ovos.
Com duração de 50 minutos, o filme mostra o resgate, incluindo o que aconteceu antes, durante e depois do evento. Como diz Beach, “Contar histórias faz parte da natureza humana. Compartilhar nossas experiências pode transformar o comportamento e perspectivas do outro. Turlock é uma história incrível sobre pessoas do bem triunfando contra a crueldade e a indiferença… Ao fazer escolhas com compaixão, todos nós temos a habilidade de fazer a diferença.”