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Ativistas mobilizam público contra importação de animais da África

6 de novembro de 2010
4 min. de leitura
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(Foto: Divulgação/FZB-RS/Sergio Bavaresco)

Desde a morte da última girafa do zoológico de Sapucaia do Sul (RS), em agosto, a vontade da instituição de repor o acervo de animais confinados tem motivado a reação de diversas organizações gaúchas de defesa dos animais. Foram tantos e-mails, cartas, abaixo-assinados e manifestações públicas contrárias à importação de novos exemplares da África que a administração do zoo decidiu deixar a resolução para a nova gestão, que assumirá a entidade em 2011 junto com o novo governo do estado. Especialistas, porém, consideram que ambientalistas estão equivocados.

Ativistas de cerca de dez organizações de Porto Alegre têm se dedicado a divulgar a causa pela internet e em alguns eventos públicos, como a Feira do Livro e o show do ex-Beatle vegetariano Paul McCartney, que acontece neste domingo (7) no Estádio Beira-Rio. O carro-chefe do movimento coletivo tem sido o slogan “Lugar de Animal é em seu Habitat Natural”, com um site que anuncia eventos, notícias e abriga uma petição on-line crescente, que já ultrapassou 2.100 assinaturas.

Ativista divulga cartaz em parque de Porto Alegre (Foto: Divulgação/Márcio de Almeida Bueno)

A mobilização que começou com as girafas de Sapucaia do Sul foi ampliada para uma proposta geral de mudança do conceito e vocação dos zoológicos. O ativista Fernando Schell Pereira, representante do site Lugar de animal e participante do coletivo Vanguarda Abolicionista, defende que os zoológicos se tornem santuários voltados para animais em risco (vítimas do tráfico, abandono e maus-tratos) e tenham visitação restrita a profissionais. “Estamos propondo uma troca de paradigmas e a reação das pessoas tem sido surpreendente, elas estão parando para pensar que a girafa é um animal da savana e devia ficar na África”, explica Fernando.

O grupo gaúcho tem organizado, semanalmente, atividades em parques e eventos de Porto Alegre para colher assinaturas e conscientizar o público. Eles pretendiam entregar os abaixo-assinados protocolados para a direção da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul na segunda-feira (8). Mas, como o órgão decidiu paralisar o processo de importação das girafas e deixar a decisão para os próximos gestores, os ativistas tentam articular um encontro com o governador eleito Tarso Genro para oficializar a reivindicação.

Fernando Schell antecipa que as ações tendem a crescer, inclusive aproveitando a visibilidade proporcionada pela Copa do Mundo em 2014. “Nós temos a intenção de continuar fazendo o movimento, que tem dado muito certo, para trazer à tona a discussão com a sociedade sobre a relação entre os zoológicos e os seres humanos”, disse.

Crítica

Esta semana, veterinários e a Sociedade de Zoológicos do Brasil (SZB) se manifestaram em defesa dos parques.

De acordo com a SZB, o Brasil é signatário de um tratado internacional de trânsito de animais que exige provas do nascimento em cativeiro para movimentar indivíduos entre os continentes. Segundo Pires, “o que o zoo de Sapucaia está se propondo é participar dos esforços internacionais de preservação das espécies de vida livre. A gente pode citar o caso que ocorreu com o mico-leão-dourado, que teve a população reduzida para menos de 600 indivíduos no país, mas a partir de um trabalho desenvolvido para aproveitar animais nascidos em cativeiro para repovoar a Mata Atlântica, hoje a população em vida livre está quase autossustentável”, exemplifica.

Pivôs da polêmica

Fifi e Doroteia morreram aos 25 anos e 15 anos, respectivamente (Foto: Divulgação/FZB-RS)

As girafas Fifi e Doroteia, que morreram este ano em Sapucaia do Sul, são remanescentes da época que o zoológico chegou a ter nove indivíduos, sete deles nascidos lá mesmo. A primeira girafa morreu em julho, com 25 anos, idade acima da média para animais de cativeiro. A segunda morreu em agosto, aos 15 anos, de complicação de uma gripe que teria sido agravada pela solidão causada pela ausência da companheira.

A direção da unidade alega que, antes mesmo da morte das girafas, já havia manifestado interesse em comprar três girafas de um grupo de nove que estaria sendo importado da África para o Brasil. Com as manifestações contrárias, entretanto, o processo foi interrompido para que haja uma discussão técnica sobre a questão, que vai embasar uma decisão administrativa subsequente. O veredito, contudo, virá do próximo governo.

Em nota oficial, a entidade divulga que a reunião com os especialistas do parque está prevista para os próximos dias. “Entretanto, cabe salientar que, algumas manifestações favoráveis, quanto à permanência de animais exóticos em zoológicos, vêm ocorrendo, o que torna necessária uma avaliação criteriosa, baseada em elementos técnicos e não apenas emocionais”, diz o texto.

Saiba mais sobre o caso:

Zoológico de Sapucaia do Sul adia decisão sobre compra de girafas
ONGs fazem mutirão para colher assinaturas contra a importação de girafas da África

Com informações do G1

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