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EXPERIMENTAÇÃO

Ativistas enfrentarão julgamento por expor as fazendas de criação de beagles nos Estados Unidos

Esses cães são criados em condições deploráveis para serem usados em testes

14 de fevereiro de 2024
Júlia Zanluchi
4 min. de leitura
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Foto: Ilustração | Freepik

Quando se pensa em uma fazenda industrial, os animais que vêm à mente provavelmente são porcos, vacas e galinhas. Mas nos Estados Unidos e em outros lugares, várias desses locais também criam cães, colocando-os em pequenas gaiolas para serem vendidos com fins lucrativos e eventualmente mortos. Por isso, três defensores dos animais que entraram em uma dessas instalações em 2017 e resgataram três cães estão prestes a ser julgados por acusações de furto e invasão, enfrentando possíveis penas de prisão de até nove anos cada.

Apesar de não serem criados para alimentação, os cães, principalmente da raça beagle, são criados para uso em testes em animais e as leis dos Estados Unidos permitem isso.

No dia 18 de março, Eva Hamer, Wayne Hsiung e Paul Darwin Picklesimer, ativistas da Direct Action Everywhere (DxE), serão julgados por terem resgatado três cães sete anos atrás da fazenda Ridglan Farms, localizada em Wisconsin, estado dos Estados Unidos. Segundo a DxE, eles “entraram na instalação e documentaram as condições sujas e o trauma psicológico dos cães girando sem parar dentro de pequenas gaiolas”. Eles então levaram consigo três cadelas, agora chamadas Julie, Anna e Lucy.

Ridglan Farms é uma das três maiores instalações nos Estados Unidos que criam beagles para laboratórios de pesquisa. A DxE informou ao The Intercept em 2018 que alguns desses laboratórios estão localizados em universidades públicas nos Estados Unidos, incluindo a Universidade de Wisconsin, a Universidade de Minnesota e algumas faculdades associadas à Universidade da California.

Quase 45 mil cães foram usados em pesquisas nos Estados Unidos em 2021, segundo dados analisados pela Cruelty Free International. Beagles são a raça mais comum usada em testes devido à sua natureza dócil. Eles são usados em testes de toxicidade, para avaliar a segurança e toxicidade de novos medicamentos, produtos químicos ou produtos de consumo, bem como em testes cosméticos e farmacêuticos, e em pesquisas biomédicas. Os testes são invasivos, dolorosos e estressantes, e geralmente terminam com a eutanásia do cão.

Em Ridglan, Hamer lembra que os beagles eram encontrados confinados de maneira semelhante às galinhas na indústria de ovos. “A proporção de tamanho para o corpo é semelhante a uma fazenda de frangos”, disse ela, descrevendo o tamanho das gaiolas, em entrevista ao Sentient. “Se [as gaiolas] tiverem o dobro do comprimento do corpo de um cachorro, então o cachorro nunca precisa sair dessa gaiola.”

Outra semelhança com fazendas industriais, acrescenta, “é o cheiro, dá para sentir a um quilômetro de distância.” No entanto, havia uma coisa bastante diferente, até bizarra, de acordo com Hamer. “Fazendas industriais costumam ser silenciosas à noite. Na fazenda de cães, todo mundo está uivando, milhares de cães, uivando.” Ela descreve o som como assustador.

Hamer estava ciente de que sacrificar a si mesma e potencialmente sua liberdade ajudaria a aumentar a atenção pública para as fazendas industriais. Ela disse que, embora inspirar compaixão por animais em gaiolas possa ser desafiador, sua prisão é negociável, a vida desses animais não.

Mesmo sabendo que poderia potencialmente ir para a prisão, esconder sua identidade nunca foi uma opção. Esse é um dos princípios do resgate aberto: mostrar seu rosto sinaliza ao público que não há nada a esconder. “Acreditamos que o que estamos fazendo é legal e estamos fazendo algo por um bem muito maior; impedindo um dano muito maior”, ela acrescenta. “Somos pessoas normais”, disse Jenny McQueen, outra protetora. “O resgate aberto ajuda a normalizar que é aceitável entrar e tirar animais desses lugares terríveis.”

Enquanto há muito choque de que instalações como essa existam, Hamer diz que elas existem pois fazem as pessoas acreditarem que tem uma legitimidade por trás. ‘Em nome da ciência’ é a justifica dessas empresas. Mas, como ela afirma, “isso não se trata de ser contra a ciência. Dizer que precisamos fazer a transição para longe da pesquisa baseada em animais é o que a evidência científica diz.”

De fato, mais de 90% dos novos medicamentos considerados seguros e eficazes em testes com animais acabam falhando em testes humanos. De muitas maneiras, a dependência de modelos animais em testes e pesquisas está realmente atrasando a ciência e impedindo a descoberta de curas reais para os humanos.

Por enquanto, Hamer admite que está nervosa sobre a chances de ser presa, mas também está ansiosa por expor as fazendas de cães dos Estados Unidos ao público em geral e por compartilhar a mensagem sobre esse tipo de resgate. “Estou realmente animada para ter essa conversa no tribunal”, diz ela, “e convencer um júri de que os animais valem a pena salvar, que não é criminoso salvá-los.”

 

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