Os fogos de artifício na noite de sábado (24) mataram um cachorro próximo da vila São Jorge. “Branco” estava num abrigo na noite da véspera de Natal quando galgou as costaneiras e as telas superiores que faziam divisa com o canil ao lado, sendo mordido pelos outros cachorros que também estavam apavorados. Suas lesões foram graves e morreu numa clínica.
O cachorro SRD era atendido há cerca de seis anos pela Associação de Protetores de Animais de Guaíba (ASPAG). Ele foi recolhido das ruas do Loteamento do Engenho pois mordia os pés de motociclistas e foi ameaçado de envenenamento, até conseguir espaço no lar provisório na zona sul de Guaíba.
“Nunca conseguimos adotá-lo, pois tinha medo de pessoas estranhas que não os a cuidavam. […] Ficamos com uma conta de R$ 1.100,00, seis anos de trabalho perdido e perdemos um animal que deve ter sofrido bastante. E tudo pelos fogos, que todo ano se repete”, afirma a secretária da ASPAG, Adriana Almeida.
Fogos de artificio com som alto são proibidos em Guaíba e em outras cidades brasileiras, como São Paulo, Cuiabá, Campo Grande, Curitiba e Rio de Janeiro, além do Distrito Federal.
Os cães têm a capacidade auditiva maior que a dos humanos e, para eles, barulhos acima de 60 decibéis, que equivale a uma conversa em tom alto, podem causar estresse físico e psicológico, segundo o Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV). O ouvido canino é capaz de perceber uma frequência maior de sons, se comparado a humanos, e podem detectar sons quatro vezes mais distantes. Por esse motivo, a queima de fogos com barulho, em comemorações como o réveillon, torna-se um momento de desespero para os animais, silvestres e domésticos.
“Esse é um problema seríssimo”, diz o médico-veterinário Daniel Prates, proprietário de uma clínica no Distrito Federal. “Já atendi um cão que atravessou uma vidraça [durante a queima de fogos]. Chegou aqui cheio de cacos de vidro enfiados na região de rosto, peito e pescoço. Por sorte não cortou a jugular ou entrou vidro nos olhos. Também atendi o caso de um cão que morreu de infarto”, conta.
Além disso, Prates adverte sobre os riscos de fuga do animal e de acidentes. “Já recebemos um cachorro que saiu pelo portão assustado, atravessou a rua e o carro pegou”. Ele recomenda aos tutores de animais muito sensíveis uma atenção especial na hora da queima de fogos. “Aconselho deixá-los à vontade perto dos donos, que é onde eles se sentem mais seguros. Se forem presos sozinhos ou deixados do lado de fora da casa pode ocorrer acidentes horríveis”.
Segundo a médica-veterinária Kellen Oliveira, presidente da Comissão de Bem-Estar Animal do CFMV, muitos filhotes acabam sofrendo um “erro de sociabilização”, que precisa ocorrer no período entre 21 a 90 dias de vida dos cães e gatos, e desenvolvem fobias, sobretudo a sons altos como fogos de artifício e trovoadas.
“Para isso, alguns animais devem passar por um processo de dessensibilização ou contracondicionamento. E muitos que infelizmente não passam por esse processo podem vir a óbito por vários motivos. Aos tutores que sabem que seus animais têm fobia a ruídos a gente pede uma atenção especial agora no final do ano”, orienta.
Fonte: Repórter Guaibense