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Associação portuguesa de defesa animal faz primeiro ensaio para protesto silencioso contra touradas

20 de julho de 2010
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Foto: Rui Gaudêncio

Três ativistas da Associação Animal se deitaram hoje (20) no chão do Largo Adelino Amaro da Costa, em Lisboa, Portugal, em frente à sede do CDS-PP (partido político português), para encarnarem a pele dos touros que participam da tourada promovida pelo partido, no próximo sábado (24).

Com farpas nas costas e manchados de tinta vermelha para parecer sangue, os ativistas fizeram uma “ação unicamente simbólica” para promover o “protesto silencioso” que terá presença marcada em frente à Praça de Touros das Caldas da Rainha. “Tauromaquia, o pior de Portugal” e “Tourada em Portugal é a vergonha nacional” eram as duas frases de ordem que se encontravam nos cartazes.

“Sabemos perfeitamente que neste partido há muitas pessoas aficcionadas, é que dizem que é uma questão de tradição. Mas o que acontece é que muitas tradições são corretas e outras devem ser abolidas à medida que as sociedades vão evoluindo. E para nós é vergonhoso, como é que um partido político tem o seu nome associado a uma tourada. Não é natural”, disse a presidente da Animal, Rita Silva.

Sobre as afirmações do secretário-geral do CDS-PP, João Almeida, que garantiu que outros partidos políticos também já promoveram touradas, a ativista desvalorizou as declarações e apenas esclareceu que “apenas pode haver autarcas de determinado partido que sejam aficionados. Mas pôr a chancela do partido no espectáculo, isso nunca aconteceu”.

Como esta ação foi apenas para “uma oportunidade fotográfica”, os ativistas da Animal irão de “armas e bagagens” para as Caldas da Rainha, protestarem contra o “ato vergonhoso do CDS-PP”, um pouco antes de começar a corrida de touros. “Vamos fazer um protesto silencioso, onde contaremos com cerca de uma centena de ativistas, com as mãos pintadas de sangue, que demonstra que o CDS-PP teve as mãos sujas de sangue”, contou Rita Silva.

Quanto a propostas para avançar para a proibição das touradas, a presidente da Animal garante que a associação tem trabalhado no assunto. “Sempre que se vão propor novas leis de proteção dos animais, chega a parte das touradas e os grupos parlamentares dividem-se. Há deputados que são a favor e outros contra”, acrescentou Rita Silva, dando a conhecer que um dos deputados “mais favoráveis à causa da Animal” é o centrista João Rebelo. “Antes de marcarmos o protesto, mandei-lhe um e-mail e ele disse-me que não tinha conhecimento da tourada do partido e que repudia totalmente este evento do CDS”, contou.

Embora confesse que gostaria de ter a presença de João Rebelo na “manifestação” nas Caldas, Rita Silva não crê que o deputado do CDS-PP se exponha no protesto, “mesmo que todo o grupo parlamentar saiba que ele é contra as touradas”.

Mesmo com todo o aparato da corrida de touros do CDS-PP, visto que a cidade acolhedora do evento está repleta de cartazes e até mesmos os espaços comerciais contêm folhetos de propaganda, Rita Silva acredita que os portugueses estão reagindo contra a tradição. “Os gostos pessoais de um partido não podem ser misturados com o que a população quer. E segundo uma sondagem que encomendamos em 2006, se houvesse um referendo, o fim das touradas ganhava. É uma tradição que já não faz sentido existir”, argumentou.

Então o que falta para avançar para um referendo? A presidente da Animal afirmou que “falta os próprios políticos terem vontade política de avançar. Há um ou outro deputado que tem essa vontade, mas depois é completamente ‘castrado’ pelos parceiros”. “Se houvesse um grupo parlamentar ou um grupo de deputados que avançasse com uma proposta para a proibição das touradas, seria excelente. Mas temos que ser nós a forçar isso”, acrescentou a ativista.

É nas zonas rurais que a maioria das pessoas ainda está muito ligada à tradição. Contudo, já há algumas surpresas, nomeadamente vindas dos mais jovens. “Às vezes até fico surpreendida como é que as nossas t-shirts contra as touradas vendem em Santarém ou Vila Franca de Xira”, revelou Rita Silva, mostrando o desagrado em relação aos produtores do programa Arte e Emoção, transmitido pela RTP1 como exemplo de “insensibilidade” por promoverem a arte tauromáquica.

Para a presidente da Animal, será o tempo o “melhor educador” para que as pessoas percebam que “a tradição das touradas mais dia, menos dia terá de terminar”. “Trabalhamos muito em educação e queremos muitos que as pessoas se eduquem. Não é só o legislador que educa através das leis, o povo também educa o legislador, para o forçarmos a fazer leis mais justas”, arrematou.

Com informações do Público

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