Um novo estudo revela que, assim como os humanos usam expressões faciais para comunicar sentimentos, os golfinhos-nariz-de-garrafa podem codificar informações emocionais e sociais em seus chamados de identificação.
Pesquisadores australianos da Universidade de Queensland analisaram décadas de gravações desses animais e descobriram que seus famosos “assobios de assinatura” – sons únicos que funcionam como nomes – também apresentam variações sutis que podem carregar dados sobre o estado emocional do indivíduo e seu contexto social.
Ao interagir com outros, até 30% dos assobios de um golfinho podem ser seu assobio de assinatura. No entanto, há certa variação nas versões produzidas por cada indivíduo. Isso levou os cientistas a analisar o equilíbrio entre estabilidade e variabilidade desses assobios para testar se eles podem conter mais informações além da identidade do emissor.
Esses sons têm variações sutis que podem expressar estado emocional, como excitação ou estresse, contexto social, como as interações com aliados ou rivais, e diferenças de gênero, machos variam mais os assobios que fêmeas.
“É como se, além de dizer seu nome, o golfinho também transmitisse seu humor atual pela entonação”, compara o estudo.
Também foi detectado um “assobio coletivo” usado por vários indivíduos, indicando que os golfinhos podem ter “sinais grupais” além dos individuais.
A ameaça da poluição sonora
O estudo alerta ainda que a poluição sonora nos oceanos, causada pelo tráfego de navios, pode prejudicar gravemente essa comunicação – assim como seria impossível reconhecer rostos e emoções em um mundo permanentemente desfocado. Para os golfinhos, seria equivalente a tentar reconhecer rostos com névoa ou não perceber expressões faciais.
“Essa comunicação é vital para manter suas sociedades complexas”, explica o artigo. “Sem ela, os golfinhos teriam dificuldades para formar alianças, evitar conflitos e até para caçar em grupo.”
Os pesquisadores planejam ampliar o estudo para confirmar se as variações nos assobios são de fato “códigos” intencionais – o que colocaria a comunicação dos golfinhos ainda mais perto da linguagem humana.