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Assassinatos cruéis de animais acontecem em festas por toda a Espanha

26 de setembro de 2013
9 min. de leitura
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Por Helena Barradas Sá (da Redação)

Foto
Imagem do Touro Vulcano cedida por Pacma. Tirada durante a festa Toro de la Vega 2013, celebrado em Tordesilhas (Valladolid). (Foto: PACMA)

Mais de 50 mil pessoas compareceram na edição deste ano da tradicional festa Toro de la Vega, em Tordesilhas (Valladolid, Espanha). A celebração, que tem origem medieval, consiste em que pessoas munidas com lanças, a pé ou a cavalo, tentem matar um touro. Além das touradas, poucas festas populares criam tanta polêmica quanto o Toro de La Vega. As informações são do 20 Minutos.

As críticas advindas dos defensores dos animais têm crescido cada vez mais, principalmente por meio da Internet. Na celebração deste ano, uma centena de manifestantes se concentrou no local para tentar, sem sucesso, impedir que a festa prosseguisse.

O Partido Animalista entregou na Câmara 85 mil assinaturas de pessoas que pediam o fim da festa. (No ano passado, foram recolhidas 71 mil assinaturas.) Em Madri, entre 10 mil e 15 mil pessoas fizeram uma manifestação com o mesmo objetivo, e a organização Anonymous chegou a hackear o site de uma agência de turismo de Valladolid, incluindo uma mensagem de protesto que dizia: “um morto que ainda vive, um morto com a morte anunciada. Um morto que, antes de morrer, será torturado”. Mesmo assim, essa tragédia ainda foi apreciada por 50 mil pessoas.

Em Madri, milhares de pessoas se manifestaram este ano pedindo o fim do Toro de la Vega.

O artigo 3 da Declaração Universal dos Direitos dos Animais, aprovada pela ONU em outubro de 1978, diz: “Nenhum animal será submetido nem a maus-tratos nem a atos cruéis. Se for necessário matar um animal, ele deve de ser morto instantaneamente, sem dor e de modo a não provocar-lhe angústia. O conceito de maus-tratos inclui todas as ações de violência infligidas pelo homem a outros animais de forma furiosa ou “de maneira injustificada”. No entanto, não há consenso por parte da sociedade em todos os casos.

Junto a condutas declaradamente brutais, como o enforcamento dos cães de caça quando deixam de ser úteis, estão outras consideradas com um objetivo social, como o uso de animais em salas de aula, pesquisa e experimentos, ou mesmo para consumo humano. Na Espanha, a legislação regula e permite espetáculos protagonizados por animais, como as touradas, encierros (tipo de festa em que homens tentam correr, em ruas delimitadas, o mais próximo possível dos touros) e outras festas tradicionais – e é aqui que se encontra principal controvérsia.

Ainda que não haja dados oficiais, organizações como Ecologistas en Acción calculam que cerca de 60 mil animais sejam utilizados entre os meses de março e setembro, como parte da atração nas festas populares de muitas cidades espanholas. Além das touradas, as ruas, praças e campos destas cidades se transformam em palco para encierros, toros de fuego (evento em que prendem um artefato em chamas a um touro, de verdade ou não), toros ensogados (atividade em que se permite que pessoas corram junto com um touro, que é controlado por outras pessoas por meio de cordas), carrosséis de pôneis, corridas de gansos entre outros cruéis eventos. Com relação a quantidade de festejos, os cálculos anuais oscilam entre 3 mil — de acordo com o Observatório Justiça e Defesa Animal— e 16 mil — segundo a Fundação para Adoção, Apadrinhamento e Defesa dos Animais (FAADA). Em muitas dessas festas “tradicionais”, algumas consideradas de interesse turístico, os animais são submetidos ao sofrimento, estresse e nervosismo, e, em alguns casos, à morte.

O Código Penal espanhol castiga com penas de três meses a um ano de prisão aqueles que cometem o crime de maus-tratos a animais domésticos; assim, animais como touros, aves de caça (como falcões) e animais exóticos ou silvestres não são protegidos pela lei.

A responsabilidade tanto pela proteção aos animais quanto pela organização das festas pertence às administrações de cada estado e cidade, e não existe um critério estabelecido entre elas. A primeira comunidade que proibiu os espetáculos sangrentos com animais em “brigas, festas, espetáculos ou outras atividades que submetam os animais a maus-tratos, crueldade ou sofrimento” foi Canárias, em 1991. Mesmo assim, a lei aprovada ainda permitiu, pela tradição local, que continuassem as rinhas de galos. Estremadura, por sua vez, proíbe as atividades que envolvam toro de fuego e toros ensogados. A Catalunha também proibiu as touradas em 2010. Em Castela e Leão são permitidos os festivais com mais de 200 anos de tradição. Na Catalunha e em Madri, foram proibidos os festivais com toro de fuego. O País Basco também impediu, por meio de decreto, os maus-tratos aos animais durante os festivais.

O Código Penal espanhol castiga com penas de três meses a um ano de prisão aqueles que cometem o crime de maus-tratos a animais domésticos; assim, animais como touros, aves de caça (como falcões) e animais exóticos ou silvestres não são protegidos pela lei.

Os grupos ecologistas consideram inaceitável que se justifique esses eventos pelo suposto caráter tradicional. Para os defensores dessas tradições, as festas fazem parte da cultura e da história, e é uma forma de promover um encontro entre as diferentes gerações dos povoados que as celebram.

As mais polêmicas

Das centenas de festas que são celebradas na Espanha e que utilizam animais, a maioria tem o touro como personagem central. Em outras festas, o protagonismo é atribuído a diversas espécies como gansos, galos, pavões ou burros.

Eis os festivais mais polêmicos:

· Toro de la Vega (Tordesilhas, Valladolid). O touro é conduzido ao campo onde homens a cavalo jogam lanças no animal até matá-lo. A pessoa que joga a lança mortal retorna com o rabo do touro preso na lança. A celebração ocorre no primeiro domingo depois de 8 de setembro e é considerada festa de interesse turístico. Este ano, a organização do evento estabeleceu normas mais rígidas para os participantes. A Câmara dos deputados debaterá na quarta-feira, dia 25 de setembro, o assunto, visando evitar situações de maus-tratos a animais, como ocorre nesta celebração.

· Toro de San Juan (Coria, Cáceres). Esta festa é baseada em uma lenda medieval, segundo a qual, a cada ano e nas festas de San Juan, um jovem é escolhido entre os rapazes do povoado para correr pelas ruas, fugindo de um touro, usando apenas duas navalhas como defesa. Este macabro espetáculo terminava com a morte do jovem, mas a história mudou quando um rapaz conseguiu inverter a situação, colocando o touro em seu lugar. Atualmente, soltam um touro em um local murado, onde os habitantes podem lançar zarabatanas durante horas, até que o touro agonize e, por fim, morra com um tiro. Esta festa também é considerada de interesse turístico.

· Toros ensogados ou amarrados. Esta festa típica acontece em diversas regiões da Espanha (Castela e Leão, Aragão, Navarra, La Rioja). Consiste em fazer com que o touro corra com os chifres amarrados por uma corda controlada por pessoas. A festa mais famosa é a que acontece anualmente em Benavente (Zamora). Foi declarada festa de interesse turístico regional.

· Touros embolados. A festa consiste em colocar um artefato em chamas nos chifres do touro. Isso faz com que o animal fique aterrorizado e corra desorientadamente, para tentar livrar-se do fogo. A edição mais famosa da festa é a chamada “Toro Júbilo”, que acontece em Medinaceli (Soria), no mês de novembro.

· Los espantes de Fuentesaúco (Zamora). Esta festa tem sua origem em uma reivindicação social dos vizinhos do povoado que, com desejo de participar da festa, levaram os touros que iriam para a praça para serem toureados em outro local. Atualmente, é realizada em um campo próximo, onde a manada é conduzida até um grupo de pessoas, os espantadores, que afugentam os animais até outro grupo posicionado de frente para o primeiro grupo. Depois de passar pelos “espantes”, os touros são conduzidos até o povo, onde é feito o rodeio.

· Rodeios no campo. Muito populares em diferentes localidades de Guadalajara. Os mais conhecidos acontecem em Brihuega, Mondéjar ou Sacedón, na Espanha. Os touros são perseguidos, em campo aberto, por homens a cavalo, ainda que também seja possível ver pessoas participando com carros, tratores e motos.

· Soltura de patos de Sagunto (Valencia). Depois de lançar um número considerável de patos no mar, os participantes recolhem os animais na água. A Prefeitura afirma que quer “reduzir essa prática” e argumenta que modificou as normas para evitar multas. Entidades protetoras de animais denunciaram o evento, porque submetem os patos a “estresse, angústia e medo”.

Algumas organizações de defesa aos animais incluem na lista de eventos cruéis tradicionais a famosa “Rapa das bestas”, que ocorre em Sabucedo (Pontevedra) e que, segundo representante do Partido Animalista PACMA, consiste “em encurralar cavalos selvagens para marcá-los com fogo e cortar suas crinas”. No último mês de agosto, o partido Equo denunciou as corridas de burros de Areta, que acontece em Llodio (Álava): os animais recebem “golpes na cabeça e em diferentes partes do corpo. As festas que acontecem em El Carpio de Tajo (Toledo) fazem uma “corrida” de gansos, que são laçados pela cabeça e têm suas patas amarradas. Este evento continua recebendo críticas.

Outros tipos de maus-tratos não estão no calendário oficial, mas integram as feiras de verão locais. Em alguns lugares, é possível encontrar os chamados “carrosséis de pôneis”, que tem sido objeto de muitas denúncias.

Festas proibidas

Devido a sua crueldade peculiar, algumas festas dessa natureza têm sido proibidas. Destaca-se a festa da Cabra de Manganeses de la Polvorosa (Zamora), que não acontece desde o ano 2000, quando os participantes se negaram a lançar uma cabra morta ao invés de uma com vida. Antes disso, uma cabra viva era arremessada do alto do campanário da igreja diante de pessoas que se posicionavam em frente à igreja para, com muita alegria, comemorar o ato. A festa havia sido proibida em 1992, mas os incidentes provocados pelos habitantes locais por causa da proibição fizeram com que as autoridades retrocedessem em sua decisão.

Durante a comemoração de San Blás, que acontece em 3 de fevereiro, é celebrada uma festa conhecida como “La pava de Cazalilla”. Na ocasião, é lançada uma pavoa viva do alto de uma igreja em direção a uma praça cheia de gente, que fica à espera do animal. Em 2004, O Governo de Andaluzia estabeleceu uma multa de 2.000 euros para os representantes da igreja de onde o animal era lançado. Mesmo assim, a ação continuou até 2010, mas, nestes casos, as multas foram aplicadas aos infratores, não à instituição.

Outra tradição que está fadada a desaparecer é a “Corrida de Galos”, que acontece em Guarrate (Zamora). É uma festa muito antiga, relacionada ao rito de passagem da infância para a idade adulta. Consiste em pendurar um galo (nas edições mais atuais, utilizam um galo já morto) na praça da cidade. Depois de fazer um discurso, o jovem deve montar em seu cavalo e, utilizando uma espada, cortar a cabeça do animal.

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