Uma série de fotografias tiradas em todo o mundo chamou atenção ao mostrar diversos pássaros enroladas ou presos em lixo produzido por seres humanos.
As fotos foram enviadas por pessoas de diversos países para um projeto online chamado Birds and Debris (Pássaros e Detritos, em tradução livre).
Os cientistas responsáveis pelo projeto dizem que há imagens de pássaros enrolados em todo tipo de material: linhas de pesca, cordas, máscaras, chinelos e até fitas de balão. Em parte, eles utilizam esses materiais para construir ninhos.
Quase um quarto das fotografias mostra pássaros presos em máscaras descartáveis, usadas como proteção contra a covid-19.
O foco do projeto é capturar o impacto dos resíduos, particularmente a poluição plástica, no mundo das aves.
“Basicamente, se um pássaro constrói um ninho usando materiais fibrosos longos – como algas marinhas, galhos ou juncos – há muitas chances de haver detritos humanos em seu ninho”, explica Alex Bond, do Museu de História Natural de Londres, um dos pesquisadores envolvidos na ação.
O projeto, que ele e seus colegas executam há quatro anos, visa chamar a atenção para o problema generalizado dos resíduos plásticos no meio ambiente.
“Quando você começa a procurar, vê esse tipo de resíduos em todos os lugares”, diz. “E as imagens realmente mostram que é um problema global. Tivemos relatórios do Japão, Austrália, Sri Lanka, Reino Unido, América do Norte. Essa é realmente uma questão do mundo todo.”
Em um estudo recente, a equipe analisou quantas das fotos enviadas mostram pássaros enrolados em equipamentos de proteção individual (EPIs) relacionados à pandemia. Eles apareceram em quase um quarto das fotografias enviadas.
“A maioria é de máscaras”, diz Bond. “E se você pensar nos diferentes materiais de que uma máscara cirúrgica é feita, há o elástico que vemos enrolado nas pernas dos pássaros ou podemos ver pássaros feridos ao tentar ingerir o tecido ou o pedaço duro de plástico que prende a máscara no nariz.”
“Usamos esse termo abrangente de ‘plástico’, mas existe toda uma gama de polímeros diferentes, e as máscaras são um bom exemplo disso.”
Os pesquisadores dizem que um “problema sistêmico” que leva tantos detritos ao meio ambiente.
A pesquisadora Justine Ammendolia, da Dalhousie University, no Canadá, diz que analisar a amplitude desse impacto sobre as espécies foi “devastador”.
“Em abril de 2020, o primeiro avistamento de um pássaro pendurado em uma máscara de proteção em uma árvore foi registrado no Canadá. Os avistamentos se espalharam pelo mundo depois”, afirma. “Isso realmente demonstra o dano que os humanos são capazes de causar ao meio ambiente em uma janela de tempo muito curta.”
“Mudar para uma escova de dentes de bambu ou uma sacola de compras de lona não vai salvar o mundo, [porque] a maior parte da produção de plástico em larga escala hoje é comercial e industrial”, diz Bond.
“Portanto, é necessária uma combinação de políticas de cima para baixo e pressão de baixo para cima para dizermos ‘basta’.”
“Para as pessoas que veem essas imagens pela primeira vez, não há problema em se sentir triste. Mas precisamos aprender com o sofrimento, muitas vezes invisível, que alguns animais selvagens experimentaram durante a pandemia”, acrescenta a doutoranda Justine Ammendolia.
Já Bond comparou as medidas necessárias para lidar com a poluição plástica ao Protocolo de Montreal, que baniu os produtos químicos que destroem a camada de ozônio – um tratado considerado um dos acordos globais mais bem-sucedidos já assinados.
“Precisamos da mesma coisa com a poluição do plástico, e estamos nos movendo nessa direção, mas muito, muito lentamente.”
Fonte: BBC