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DESEQUILÍBRIO

As mudanças climáticas colocam em risco quase metade do Patrimônio Mundial Natural, segundo a UICN

13 de outubro de 2025
3 min. de leitura
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Foto: Unsplash

O impacto das mudanças climáticas já ameaça 43% dos sítios naturais declarados Patrimônio Mundial, segundo a nova edição do relatório Perspectiva do Patrimônio Mundial 4 da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).

O estudo, considerado a avaliação mais abrangente até o momento, analisou 271 sítios naturais reconhecidos pela UNESCO ao longo de uma década. Seus resultados mostram um declínio sustentado nas condições de conservação, impulsionado pelo aquecimento global, espécies invasoras e a expansão do turismo descontrolado.

A pesquisa revela que apenas 57% dos sítios mantêm uma conservação positiva, cinco pontos a menos que em 2020. Os ecossistemas mais afetados são aqueles com alto valor em biodiversidade, onde a degradação de habitats e a perda de espécies avançam mais rapidamente.

Em nível global, a UICN adverte que a falta de gestão eficaz e de financiamento sustentável agrava a situação. Um em cada sete sítios naturais enfrenta alto risco devido à falta de recursos e políticas de proteção, comprometendo sua resiliência frente aos impactos ambientais.

Ameaças que se intensificam

O relatório identifica as mudanças climáticas como a ameaça mais disseminada, mas não a única. As espécies exóticas invasoras afetam 30% dos sítios, deslocando a fauna e flora nativa. Além disso, as doenças que afetam animais e plantas passaram de 2% para 9% em apenas cinco anos, um crescimento alarmante associado ao aquecimento global.

A UICN também destaca o papel do turismo insustentável, responsável por pressões adicionais sobre ecossistemas frágeis. As atividades não reguladas geram poluição, erosão do solo e perda de habitats, afetando diretamente a capacidade de regeneração desses ambientes únicos.

O documento destaca a interconexão entre esses fatores: as mudanças climáticas agravam a propagação de espécies invasoras e doenças, enquanto a sobreexploração humana acelera os efeitos. Os especialistas alertam que prevenir esses “impactos em cascata” é vital não apenas para a natureza, mas também para a saúde humana e o equilíbrio climático global.

Apesar do panorama crítico, treze sítios naturais —principalmente na África— conseguiram melhorar seu estado de conservação graças à colaboração local e a investimentos focados no controle da caça furtiva e na restauração de habitats. Isso demonstra que a ação coordenada e a participação comunitária podem reverter tendências negativas.

Patrimônios naturais argentinos: tesouros sob pressão

A Argentina conta com vários sítios naturais inscritos na Lista do Patrimônio Mundial, todos de valor ecológico excepcional. No entanto, muitos enfrentam os mesmos desafios globais identificados pela UICN.

Entre eles se destacam o Parque Nacional Los Glaciares, em Santa Cruz, que resguarda os campos de gelo mais extensos do hemisfério sul depois da Antártida. O derretimento acelerado dos glaciares e o aumento das temperaturas representam uma ameaça direta a este ecossistema e às comunidades que dependem de sua água doce.

Também figura Iguazú, em Misiones, cuja floresta atlântica subtropical abriga uma biodiversidade única. As pressões do turismo massivo e o desmatamento em áreas adjacentes afetam sua integridade ecológica. Da mesma forma, Ischigualasto e Talampaya, em San Juan e La Rioja, preservam formações geológicas e fósseis de valor incalculável, mas sofrem com a falta de recursos para uma gestão ambiental eficaz.

A esses se somam o Parque Nacional Los Alerces e a Península Valdés, ambos essenciais para a conservação de espécies emblemáticas como o huemul e a baleia franca austral. A expansão humana, a mudança nos padrões de chuva e a poluição marinha são ameaças crescentes para esses santuários naturais.

Um chamado urgente à ação global

O relatório da UICN insiste que a conservação dos patrimônios naturais não pode depender apenas de políticas nacionais. Propõe fortalecer a cooperação internacional, garantir fundos sustentáveis e aplicar tecnologias de monitoramento ambiental em tempo real.

A gestão eficaz, o controle de atividades turísticas e a redução de emissões de carbono tornam-se pilares essenciais para frear a degradação. Cada sítio natural do Patrimônio Mundial é, em última análise, um termômetro do estado da Terra: seu deterioro reflete a magnitude da crise ecológica global.

O desafio, adverte a UICN, é agir antes que essas paisagens —símbolos da história natural do planeta— passem de patrimônio vivo a memória perdida.

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