Se você é brasileiro, já deve ter ouvido que a Amazônia é o “pulmão do mundo”. O título surgiu porque florestas tropicais, como a amazônica, filtram o ar e armazenam grandes quantidades de dióxido de carbono, desempenhando um papel fundamental na mitigação da emergência climática.
Em meio à grande biodiversidade destas florestas, estão as árvores gigantes. Relativamente pequenas em termos de população e enormes em importância, essas espécies representam apenas 1% dos indivíduos das árvores, mas contribuem com cerca de 50% do estoque e fluxo de carbono.
A notícia ruim é que árvores tropicais estão morrendo em taxas crescentes, e as gigantes, provavelmente, estão em risco. Ao morrerem, elas liberam o carbono armazenado novamente à atmosfera.
Ou seja, a sua morte significa, ao mesmo tempo, reduzir significativamente a capacidade de armazenamento de carbono e levar a um aumento das temperaturas globais, tornando ainda mais vulneráveis os ecossistemas na Terra.
Ao considerar todos esses aspectos, um grupo de cientistas se uniu em torno do Projeto Gigante, uma parceria internacional com mais de sete países e financiada pelo Reino Unido, o Natural Environment Research Council (NERC) e pelos Estados Unidos através do National Science Foundation (NSF).
“O nosso projeto trará novas técnicas que nos ajudarão a entender a ecologia dessas árvores: compreender o que causa a sua morte, como a mortalidade está sendo influenciada pelas mudanças ambientais e como ela pode afetar o clima global é urgente para lidarmos com o contexto atual das mudanças climáticas”, explica a bióloga Gisele Biem Mori.
Mestre em Botânica e doutora em Ecologia, Gisele coordena o Projeto Gigante no Brasil. Segundo ela, a pesquisa responderá a quando, onde e por que as árvores gigantes morrem. Isso, por sua vez, lhes ajudará a pensar em melhores estratégias de manejo e conservação das florestas tropicais, e para a manutenção do clima global.
O que é uma árvore gigante?
Apesar de falarmos de árvores gigantes, ainda não existe uma definição consistente sobre o que é uma deste gênero nos trópicos, já que as suas características variam entre as espécies e os ecossistemas.
“A maioria dos trabalhos define uma árvore gigante conforme o diâmetro do tronco (uma medida obtida a 1,30 m do chão denominada de DAP – diâmetro a altura do peito) e consideram gigantes aquelas que têm um DAP maior do que 50 cm”, explica Gisele.
Mas não há um consenso sobre qual o diâmetro mínimo que determina quando uma árvore é gigante, pois uma delas na Amazônia brasileira, por exemplo, não é necessariamente gigante nas florestas da Ásia.
“Alguns trabalhos também consideram que as árvores gigantes são aquelas que contribuem com mais de 50% da biomassa local, pois a biomassa (medida de matéria orgânica por unidade de área) nos fornece um indicativo de quanto de carbono uma floresta estoca”, diz a cientista.
Mas além do tamanho extremo e da idade avançada, outras características diferenciam estas árvores das outras. Um exemplo é a presença de copas exuberantes e heterogêneas, muitas vezes com grandes ramos verticais, grandes raízes tabulares (chamadas sapopemas na Amazônia) e ocos no tronco.
“Tais características variam dependendo das condições ambientais em que elas ocorrem, tanto entre indivíduos de uma mesma espécie como entre diferentes espécies”, afirma Gisele.
Para chegar a uma definição consistente, é preciso estudar mais estas espécies, e esse é justamente um dos objetivos do Projeto Gigante. A própria Gisele está trabalhando na pergunta e pretende escrever um artigo sobre o tema.
Segundo ela, a árvore mais alta encontrada até hoje nas florestas tropicais está na Malásia, e pertence à espécie Shorea faguetiana, da família Dipterocarpaceae.
“Ela tem 100,8 m de altura, é impressionante. Outros indivíduos desta espécie encontrados na região tinham de 94 a 96 m de altura. No Brasil, as maiores árvores descritas estão no Amapá, no Parque do Tumucumaque”, diz a bióloga.
Neste caso, as árvores são da espécie Dinizia excelsa, da família Fabaceae, conhecida popularmente como Angelim-vermelho, com alturas variando entre 60 e 80 m. Em outras regiões da Amazônia brasileira não são encontradas árvores deste tamanho e a maioria dos indivíduos chega até 40 m, no máximo.
Mistérios
O que faz as árvores serem consideradas gigantes é apenas uma das perguntas que cercam esses seres vivos, cujo mistério inclui, ainda, quantos anos elas têm, quanto tempo demoraram para alcançar aquele tamanho e quais as características e os mecanismos que elas têm para crescer e viver tanto.
Quantificar a idade das árvores é difícil, pois os métodos são custosos e trabalhosos, explica Gisele: “Nós podemos usar a dendrocronologia para datar a idade de uma árvore baseada nos padrões de anéis de crescimento de seu tronco. Nem sempre podemos obter uma medida precisa com este método, pois nem todas as espécies formam anéis de crescimento regulares ou que sejam fáceis de identificar”.