Milhares de faias e urzes já começaram a ser plantadas no ilhéu de Vila Franca do Campo, Açores, para recuperar habitats e fazer do arquipélago um “santuário” para aves marinhas, anunciou hoje a Spea (Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves).
Mais de quatro mil faias e urzes, árvores e arbustos naturais dos Açores, estão sendo plantadas naquele ilhéu por técnicos ao serviço do projeto “Ilhas Santuário para as Aves Marinhas”, coordenado pela Spea e Secretaria Regional de Ambiente e do Mar.
Hoje, as sementes de plantas nativas dos Açores que foram recolhidas desde 2009 e produzidas em viveiro já têm a dimensão adequada. As primeiras 1800 urzes e 2300 faias “foram plantadas nas zonas do ilhéu de onde tinha sido removida a vegetação exótica infestante”, explica a Spea em comunicado.
Para ajudar a acelerar a recuperação destas áreas foram “espalhadas grandes quantidades de sementes recolhidas este ano”.
A equipa vai monitorizar regularmente a vegetação, acrescentam os responsáveis. “Os trabalhos com aves marinhas, que são aves de vida longa, podendo chegar a viver mais de 40 anos, demoram muitas vezes a mostrar resultados. O mesmo se passa com as plantas endêmicas, que são geralmente de crescimento mais lento, e tornam a recuperação de áreas com esta vegetação operações naturalmente demoradas”, lembrou Pedro Geraldes, coordenador do projecto.
“Este é o primeiro passo de uma acção de recuperação dos habitats naturais do ilhéu que pretende diminuir a erosão das zonas altas e melhorar o habitat para a nidificação de aves marinhas”, explicam.
Uma das espécies que beneficiam com a medida é o cagarro (Calonectris diomedea). No âmbito do projeto foram criados em Vila Franca 150 ninhos, uma colónia artificial para atrair as aves para uma zona livre de predadores e que já terá sido local de nidificação no passado.
Os ovos foram postos no final de maio e nesta altura do ano, os cagarros juvenis preparam-se para sair dos ninhos. Os técnicos da Spea visitaram as áreas de nidificação no Ilhéu de Vila Franca do Campo para avaliar como decorreu esta época de reprodução. Segundo a organização, “foi possível confirmar o bom estado dos novos ninhos, que foram ocupados em zonas que anteriormente se encontravam infestadas por canas”.
Frederico Cardigos, diretor regional dos Assuntos do Mar, considera estas experiências “muito importantes” e cujos resultados “poderão, em breve, ser massificados para as zonas costeiras dos Açores, nomeadamente no Corvo”.
O ilhéu de Vila Franca é uma das áreas principais de intervenção deste projeto financiado pelo Programa LIFE+ da Comissão Europeia e conta também com o apoio do Clube Naval de Vila Franca do Campo. O projecto termina no final de 2012 e terá sequência no futuro. “É apenas o tiro de partida para instalar novas colênias que, depois, atraiam mais aves”, salientou Pedro Geraldes.
Fonte: Ecosfera