Por Marcela Couto (da Redação)
Pouca gente sabe, mas, no ano de 2007, dois supostos artistas, Ondrej Brody e Kristofer Paetau, executaram um projeto absolutamente antiético que justificaram como “arte”. Os homens foram até a cidade de La Paz, na Bolívia, obtiveram 10 cadáveres de cães executados pelo centro de zoonoses local e transformaram seus corpos em tapetes.
A justificativa para o “projeto” foi de que se tratava de uma “obra de arte” que mostrava a hipocrisia da sociedade ao tratar cães como membros da família, enquanto outros animais considerados selvagens viravam tapetes pelo “fetiche da caça”. Os cadáveres dos cães foram expostos em um museu da Bolívia e mais tarde em Praga.
Apesar da data do ocorrido, há uma petição em aberto protestando contra os artistas e reivindicando que sejam punidos e banidos de qualquer museu do mundo, devido a recentes divulgações do antigo projeto na internet. A petição pode ser assinada aqui.
Entrevista realizada pelo próprio Kristofer Pateau, sobre suas ideias e as ideias de Ondrej:
Sobre o que é este “projeto”?
Ondrej: Os tapetes de cães mostram a hipocrisia da sociedade. Eles questionam o status superior que os cães e gatos possuem em nosso mundo.
Kristofer: É sobre a tradição de produzir tapetes com animais selvagens como um fetiche de caça. Mas, neste caso, estamos usando um animal considerado impróprio, um pet – e dessa forma queremos questionar os valores dessa tradição. Nós expusemos este trabalho na mostra que ocorreu na Bolívia por três razões: mais aventura, menores custos de produção e o grande problema dos cães de rua na América do Sul.
Como vocês fizeram o processo?
Ondrej: Procuramos o centro de zoonoses de La Paz, na Bolívia, que recolhe 100 cães por semana e os executa todas as sextas-feiras. Nós preparamos o projeto para que fosse exposto no museu Tambo Quirquincho. Foi fácil e rápido, solicitamos 10 cães a serem sacrificados para nossa obra.
Kristofer: Conseguimos uma autorização do diretor do museu e levamos diretamente ao centro de zoonoses, foi simples obter os 10 cães.
Conte-nos sobre a morte dos cães. Você assistiram? Como se sentiram?
Ondrej: A experiência da matança foi horrível. Chegamos ao centro de zoonoses uma hora antes da execução, e meia hora depois eles começaram. Os cães estavam muito nervosos, latindo muito, como se precisassem mostrar pela última vez que estavam vivos. Quando começaram a matá-los a jaula inteira ficou em silêncio. Tenho certeza que os cães sabiam exatamente o que estava por vir…
Kristofer: Sim, nós assistimos. Os portões ficaram fechados e ninguém pôde ver o que estava acontecendo. De repente o lugar ficou em completo silêncio e os cães pararam de latir. Fiquei nervoso. Então registrei algumas fotos, mas não olhei, eram 5 ou 6 caras dando injeções nos cães com grandes tubos cheios de veneno. Todos os animais defecavam e urinavam logo após receber as injeções. Eles morreram em 30 segundos e foram deixados no meio de seus excrementos. Me senti miserável.
O que aconteceu depois?
Ondrej: Depois da execução o centro de zoonoses nos ofereceu transporte para os cadáveres até o taxidermista. O responsável não era sequer um profissional, era um guarda do museu que fazia trabalhos de taxidermia, horríveis por sinal, mas não tínhamos escolha.
Kristofer: Pediram para que nós escolhêssemos nossos 10 cães, que foram colocados em sacos plásticos. Escolher 10 animais entre 80 recém-assassinados foi algo como um pesadelo, mas foi incrível perceber o quão rapidamente eu passei a olhar aqueles corpos como objetos, apenas tentando escolher o mais bacana. A taxidermia feita pelo cara ficou péssima. Ainda dava pra ver a carne e os ossos nas pernas e os cães estavam fedendo como o inferno.
Como vocês expuseram o trabalho no museu?
Ondrej: Os tapetes não estavam prontos ainda, estavam molhados e fedendo absurdamente. Decidimos guardá-los no pátio do museu para que secassem. A ideia era mostrar os cães secando durante a mostra, um verdadeiro freak show.
Kristofer: Mas não conseguimos expor as carcaças a tempo por causa da umidade. Então penduramos todos em uma parte mais alta do museu. Foi uma péssima “instalação”, mas como queríamos mesmo mostrar o processo o curador local aceitou deixá-los lá mesmo. O diretor já não gostou e pediu para que fossem tirados das vistas do público, mas muitos visitantes viram o trabalho.
Quais foram as reações ao trabalho?
Ondrej: Criaram um escândalo. Os defensores dos animais foram reclamar com a prefeitura e pediram ao centro de zoonoses – o mesmo que nos deu os cães mortos – para que reportasse e explicasse a situação. O que o centro de zoonoses fez foi entrar no museu e roubar os tapetes, o que foi bizarro já que tínhamos todas as autorizações para a realização do projeto.
Kristofer: Houve uma grande cobertura da mídia, que nos confrontou com os defensores dos animais. Não tivemos tempo de organizar nada, já que nosso voo de volta era no dia seguinte. Fiquei sabendo até que o prefeito de La Paz instituiu uma lei no mesmo dia proibindo que “cães mortos fossem exportados”, para impedir que levássemos algum dos tapetes. Ele ficou com muito medo de perder o emprego em caso de escândalo internacional.
Vocês decidiram fazer os tapetes de cães na Europa depois da experiência na Bolívia. O que acham da transição?
Ondrej: Na verdade, tentei realizar o projeto em Praga logo depois de chegar da Bolívia. O tapete é muito confrontante, o trabalho fala justamente de hipocrisia. Os cães ocupam lugares na nossa sociedade que às vezes se tornam mais importantes do que uma relação mais próxima com família e amigos.
Kristofer: Depois da Bolívia eu fui passar um tempo no Rio de Janeiro e o Ondrej foi para Praga. Como pretendíamos participar juntos da Bienal de Praga e mostrar os tapetes de cães, ele ficou concentrado na produção deles enquanto eu trabalhava com ratos no Brasil. Os cães de Praga vieram de um hospital onde os animais morrem porque os donos não querem cuidar, então são legítimos pets abandonados até a morte. Isso tornou a experiência bem diferente da Bolívia, não foi uma aventura louca com cães de rua, mas ainda assim os tapetes de cães são objetos muito perturbadores.
Nota da Redação: É absolutamente revoltante que uma crueldade tão abominável aconteça e ainda possa ser justificada como “arte”. Os supostos artistas querem mostrar ao mundo por meio de seu projeto sinistro que os animais tutelados não merecem o lugar que ocupam nas famílias, isso sem considerar a situação dos milhares de cães abandonados, abusados e mortos como os que foram utilizados por eles. Em vez de combater o fetiche dos animais selvagens transformados em tapetes e o massacre de cães, eles preferiram chamar a atenção expondo carcaças de cães e promovendo a suposta “hipocrisia” de se tratar um animal com dignidade.
Com informações de brodypateau.com