Gervane De Paula, artista da periferia de Cuiabá, no Mato Grosso, expressa em suas obras os danos que a violência do agronegócio e a caça causaram ao Pantanal. Muitas de suas obras mostram o que os animais, tanto os de criação, quanto os nativos do bioma local, representam para a região Centro-Oeste.
Os primeiros trabalhos, feitos na década de 1970, retratam o dia-a-dia da periferia local, festas tradicionais e paisagens rurais com forte presença dos bois, que são como um símbolo do poder do agronegócio na região.
Já nos anos 1980, as obras de Paula são pinturas com tons de surrealismo e símbolos regionais, como em “As Filhas do Fazendeiro”, onde dois jacarés aparecem em um quarto enquanto duas irmãs se abraçam na janela, em frente a uma paisagem típica do Pantanal, de rios largos e vegetação baixa.
No mesmo período pintou outras obras que retratam cenas do cotidiano, com a fauna e flora do Pantanal sempre presentes. Exemplos são um par de telas que mostram o fundo de um rio, sendo que em uma delas uma raia pinça o pé de um homem, em outra, ela nada solitária sobre o lixo.
De 1990 para frente, o trabalho de Paula se torna predominantemente político, em tom de provocação, mostrando os animais silvestres do Mato Grosso que sofrem com a caça e os domesticados que são mortos pela pecuária. Em algumas de suas obras ele apresenta bois exibindo em suas línguas ou testas preço do quilo de sua carne no açougue.
Ele também faz esculturas com materiais descartados, que são reutilizados e transformados em algo novo. Algumas delas representam onças queimadas que pedem socorro, fazendo referência aos incêndios que destruíram o Pantanal em anos recentes.
Atualmente, a obras metafóricas e críticas de Paula estão sendo exibidas na Pinacoteca, em São Paulo. A exposição Gervane De Paula: como é bom viver em Mato Grosso ficará em exibição até o dia 1° de setembro.