Durante as viagens internacionais para OCDE, em Paris, Estocolmo 50 e Conferência dos Oceanos, em Lisboa, participei de diversas reuniões bilaterais sobre meio ambiente. Em todas elas, a demanda por ações climáticas reais, globais e efetivas foi reafirmada por todos os países ocidentais, na busca por uma transição justa, rumo a uma nova economia verde e que funcione para todas as pessoas.
No encontro da Cúpula das Américas, realizado em Los Angeles (EUA), os presidentes do Brasil, Jair Bolsonaro, e dos Estados Unidos, Joe Biden, alinharam os interesses em caminhar para fortalecer Américas sustentáveis e economicamente mais integradas.
Na busca por segurança alimentar e energética, Estados Unidos e países da Europa estão abrindo mão de áreas protegidas, com florestas para a produção de alimentos e para a exploração de carvão mineral. Aumentaram também o uso de combustível fóssil na geração de energia, caminhando assim na direção contrária às metas ambientais já acordadas.
As cadeias de suprimento globais estão diante de uma necessária transformação. A pandemia e o lockdown severo na Ásia e o atual conflito no Leste Europeu, que expõe uma instabilidade geopolítica à região e que deve perdurar por um longo período, levam à busca de um novo arranjo, integrando novos parceiros.
Para compensar negócios perdidos, as cadeias ocidentais estão olhando para a América Latina, especialmente para o Brasil. Nenhum país da região tem tamanho, escala, tecnologia, mão de obra e potencial de crescimento econômico como o nosso, além da segurança alimentar e energética limpa que conseguimos oferecer.
O Brasil foi pioneiro na transição elétrica, com índice atual de 85% de energia renovável, oriunda de diversas fontes, como hidráulica, biomassa, eólicas, solar, entre outras. Além disso, temos um enorme potencial de produção excedente de energia, especialmente eólica no mar, cujo potencial é da ordem de 700 GW, equivalente a quatro vezes a nossa atual capacidade instalada, e com um dos menores custos de produção do mundo. Essa energia poderá produzir hidrogênio e amônia verdes para exportação. Outros países com potencial de geração eólica não têm a transição elétrica já realizada, limitando assim sua capacidade de exportação.
Dois blocos já estão se formando: de um lado, a Ásia com países industrializados à base de energia e combustível altamente poluentes e fornecedores de produtos industrializados baratos, atrelados a uma expressiva pegada de emissões de carbono e baixa responsabilidade social e ambiental. Do outro, uma cadeia de suprimento comprometida com uma política industrial neutra em emissões de carbono, fornecedora de produtos verdes, somada a um importante potencial de transformação social e ambiental, atrelada comercialmente à União Europeia e Estados Unidos. Um bloco cinza versus um bloco verde.
Nesse novo jogo geopolítico, industrial e ambiental, o Brasil se destaca como parte importantíssima das soluções mundiais, que irão do fornecimento de combustível totalmente limpo, como hidrogênio e amônia verdes, ao de produtos industrializados com uma das menores de emissões do mundo. Tudo isso atrelado à conservação florestal e com impacto social positivo. Nosso objetivo sempre foi, e sempre será, encontrar reais soluções ambientais, globais e lucrativas que corroborem para uma transição justa, rumo a economias neutras em emissões e que funcionem para as pessoas e para a natureza.
O governo federal está desenvolvendo um Programa de Industrialização Verde, por meio do Comitê Interministerial sobre Mudança do Clima e o Crescimento Verde (CIMV), composto por 10 ministérios e lançado pelo presidente Jair Bolsonaro no ano passado. Os objetivos do CIMV são reduzir as emissões de carbono e promover a conservação de florestas, o uso racional de recursos naturais, a geração de emprego verde com incentivos econômicos e a transformação institucional, além de estabelecer as políticas de priorização.
Diante do especial interesse da Europa e dos Estados Unidos em fortalecer novas cadeias sustentáveis de suprimentos e da necessidade de oferecer segurança energética, o Brasil se destaca pela ampla capacidade de exportar energia totalmente limpa baseada em eólicas offshore, hidrogênio e amônia verdes. Surge, literalmente, um mar de oportunidades para o crescimento verde de nosso país.
Fonte: Correio Braziliense