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DERRETIMENTO DO GELO

Ártico teve recorde de temperatura e chuvas e rios estão ficando 'enferrujados' com presença de minerais; entenda

Os últimos 10 anos foram os 10 mais quentes já registrados na região, aponta novo relatório sobre a região polar

17 de dezembro de 2025
Renata Turbiani
6 min. de leitura
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Um afluente do rio Kugaaruk, no norte do Alasca, está ficando alaranjado devido às elevadas concentrações de metais pesados. Foto: Josh Koch/Serviço Geológico dos Estados Unidos

O Ártico está aquecendo várias vezes mais rápido do que a Terra como um todo, remodelando as paisagens, os ecossistemas e os meios de subsistência dos povos locais. Em sua 20ª edição, o Relatório sobre o Ártico (ARC) 2025, compilado por dezenas de cientistas acadêmicos e governamentais e coordenado pela Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA), dos Estados Unidos, oferece uma panorama do que está acontecendo na região.

Pelos dados divulgados, as temperaturas do ar na superfície do Ártico, de outubro de 2024 a setembro de 2025, foram as mais altas registradas desde 1900. O outono de 2024 e o inverno de 2025 foram especialmente quentes, com temperaturas classificadas em 1º e 2º lugar, respectivamente, entre as mais elevadas.

Os últimos 10 anos foram os 10 mais quentes já registrados na região, e, desde 2006, a temperatura anual local aumentou a uma taxa mais que o dobro da taxa global de mudanças de temperatura.

Além disso, a precipitação acumulada entre outubro de 2024 e setembro de 2025 estabeleceu um novo recorde. Os volumes totais durante o inverno, a primavera e o outono estiveram entre os cinco maiores desde 1950.

“Este ano foi o mais quente já registrado e teve a maior precipitação já registrada – ver essas duas coisas acontecerem em um único ano é notável”, disse Matthew Langdon Druckenmiller, cientista do Ártico do Centro Nacional de Dados de Neve e Gelo da Universidade do Colorado e editor do boletim informativo sobre o Ártico, ao The Guardian. “Este ano realmente destacou o que está por vir.”

Derretimento do gelo

Em março de 2025, o gelo marinho do Ártico atingiu a menor extensão máxima anual em 47 anos de registros de satélite. Em setembro de 2025, foi registrada a 10ª menor extensão mínima. E, em agosto de 2025, os mares marginais do setor Atlântico do Oceano Ártico apresentaram temperaturas médias da superfície do mar cerca de 7°C mais quentes do que a média de agosto de 1991-2020.

Outros dados revelam que o gelo marinho mais antigo e espesso do Ártico (com mais de 4 anos) diminuiu em mais de 95% desde a década de 1980. O gelo marinho plurianual está agora praticamente confinado à área ao norte da Groenlândia e do Arquipélago Ártico Canadense.

A atlantificação, que traz águas mais quentes e salgadas para o norte, também se intensificou. Essa condição enfraquece a estratificação das águas de diferentes densidades no Oceano Ártico, intensificando assim a transferência de calor, derretendo o gelo marinho e ameaçando os padrões de circulação oceânica que exercem influência a longo prazo sobre o clima.

O relatório destaca ainda que o aquecimento das águas de fundo, o declínio do gelo marinho e o aumento da clorofila nos mares de Chukchi e no norte de Bering estão provocando mudanças nas espécies que habitam a zona intermediária e o fundo do mar, remodelando a pesca, afetando a segurança alimentar no Ártico e as práticas de subsistência dos povos indígenas.

Também revela que, entre 2023 e 2024, as geleiras do Ártico escandinavo e de Svalbard sofreram a maior perda líquida anual de gelo já registrada. A camada de gelo da Groenlândia perdeu cerca de 129 bilhões de toneladas em 2025. As geleiras do Alasca perderam, em média, 38 metros de gelo na vertical desde meados do século XX, reduzindo drasticamente as superfícies de gelo em todo o estado.

Esse derretimento é perigoso, salientam os autores do trabalho, porque contribui para a elevação constante do nível global do mar, ameaçando o abastecimento de água das comunidades do Ártico, provocando inundações destrutivas e aumentando os riscos de deslizamentos de terra e tsunamis que colocam em perigo pessoas, infraestrutura e o litoral.

O documento também demonstra que, em todo o Ártico, a camada de neve acumulada foi maior do que o normal durante a temporada de neve de 2024/25 e permaneceu alta até maio. Apesar disso, em junho, a extensão da cobertura de neve caiu abaixo do normal, ficando em linha com os níveis dos últimos 15 anos.

Mais um ponto destacado é que, em mais de 200 bacias hidrográficas do Alasca Ártico, o ferro e outros elementos liberados pelo degelo do permafrost transformaram rios e córregos antes intocados em uma coloração alaranjada na última década.

Em rios com “corrosão”, o aumento da acidez e os níveis elevados de metais tóxicos degradam a qualidade da água, comprometendo o habitat aquático e corroendo a biodiversidade.

Reportagem do The New York Times aponta que isso está matando insetos e outras formas de vida aquática que servem de alimento para o salmão e outros peixes, essenciais para os 10.000 habitantes da região.

Os cientistas agora estão estudando as causas disso e os seus impactos no abastecimento de água potável em áreas rurais e na pesca de subsistência.

Fonte: Um só Planeta

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