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CASAS ADAPTADAS

Arquitetos japoneses se especializam em projetos para gatos

Com o crescimento da adoção de animais domésticos, casas ganham espaços para os gatos se esconderem e se adaptaram às diferentes temperaturas

8 de dezembro de 2025
Piti Koshimura
4 min. de leitura
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Foto: Divulgação

Com uma das menores taxas de natalidade do mundo e um mercado pet que cresce ano após ano, o Japão vem revendo a forma de projetar os espaços domésticos. Desde 2003, o número de animais domésticos no país tem sido maior que o total de crianças. Dados recentes mostram que cachorros e gatos que vivem em casas somam aproximadamente 16 milhões, enquanto crianças de até 15 anos totalizam menos de 14 milhões. Diante desse cenário, não é de se surpreender que arquitetos e construtoras estejam se dedicando a projetar casas e apartamentos para humanos e seus animais. Ou seria o contrário?

Ciente de que a residência onde moravam era o universo completo de seus gatos, o arquiteto Yamanouchi Tan criou para si um desafio: projetar uma casa a partir da perspectiva dos dois felinos, Alvar Aalto e Mies van der Rohe.

Finalizada em 2023, a casa localizada em Kamakura, cidade litorânea perto de Tóquio, tem como elemento central uma escada em espiral. Conectando cozinha, sala de jantar, quartos e escritório posicionados em alturas diferentes, a escada simula a disposição de uma casa da árvore. Chamam atenção as proporções dos degraus, que não são exatamente ergonômicos para a passada humana, mas atendem muito bem os residentes felinos. Os 90 centímetros de profundidade dos degraus superiores são suficientes para que os gatos possam deitar e ficar à vontade.

A convivência de uma década com os gatinhos foi crucial para que Yamanouchi pudesse entender suas necessidades. A primeira “demanda” solucionada foi em relação à variedade de temperatura dentro de casa. Segundo as pesquisas do arquiteto, gatos são muito sensíveis à variação de temperatura mesmo com mudanças mínimas de altura. Por isso, o arquiteto criou 23 níveis na escada, oferecendo a seus “clientes” a possibilidade de subir e descer atrás da temperatura mais adequada para cada momento. Para ampliar o conforto térmico, uma claraboia central ilumina naturalmente cada degrau ao longo do dia.

Foto: Yamanouchi Tan

Outro ponto importante foi pensar em ambientes que os gatos pudessem dividir com seus humanos, mas com a possibilidade de manter uma certa distância. A escada em espiral, por exemplo, permite que os animais estejam de olho nas pessoas da casa, mas não tão próximos assim.

E a terceira condição atendida por Yamanouchi foi criar espaços em que os gatos pudessem se sentir seguros, como cômodos mais isolados ou prateleiras no alto, caso queiram se esconder de visitas ou precisem de um tempo de recolhimento. Como bônus, já que os gatos adoram ficar espiando a vizinhança, as janelas do alto da escada foram calculadas para a altura deles. Nas imagens divulgadas da casa, Alvar Aalto e Mies van der Rohe – os felinos, no caso – parecem estar satisfeitos com as soluções de seu humano.

Mas já que nem todos os pais de animais têm a habilidade de Yamanouchi, diversos escritórios de arquitetura e construtoras japonesas oferecem serviços especializados que contemplam a coexistência entre humanos e animais, principalmente gatos. A Daiken, um grande fabricante de materiais de construção, trabalha em parceria com a arquiteta Kanamaki Tomoko, pesquisadora de ambientes domésticos para animais, para desenvolver soluções de design. Kanamaki ressalta a importância de criar ambientes em que os felinos possam se exercitar e se sentir estimulados na presença de humanos.

Foto: Divulgação

O escritório FatCat Design coloca à disposição a expertise de um arquiteto que vive com 5 gatos, além de prometer projetos customizados para a personalidade de cada cliente felino. O ateliê Musubi defende que, assim como o design pode criar relações entre a família, um bom projeto pode melhorar os relacionamentos entre pessoas e seus animais domésticos. Já o estúdio Architopia ressalta a resolução de questões práticas como o cheiro da caixinha de areia ou a dificuldade de manter os ambientes limpos quando o gato solta muito pelo.

Num país onde os lares muitas vezes se resumem a poucos metros quadrados e o vínculo com os animais se fortalece, essas iniciativas evidenciam que projetar para gatos – e para a convivência com seus humanos – é menos um capricho e mais um indicativo das transformações da sociedade.

Fonte: Harper’s Bazaar Brasil

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