Montanhas MBE, Nigéria – três pulinhos e um salto, e de repente Jacob Osang, um guarda ecológico da Wildlife Conservation Society (WCS), parece estar levitando sobre o chão da floresta tropical. Com agilidade e facilidade, ele se lança por um tronco coberto de musgo que atravessa um desfiladeiro rochoso como um osso fraturado. Contudo, se Osang está perturbado com a ideia de que um pedaço de celulose podre é tudo que há entre ele e uma queda de 15 metros, ele não deixa aparentar.
“É meu trabalho!” ele sorri.
Osang chama essa parte da floresta de Ponte Natural, e é óbvio por quê. A queda dessa árvore gigante, agora o local favorito de Osang para colocar armadilhas fotográficas, religou o circuito da floresta tropical. Em vida, a madeira de 40 metros teria perfurado a copa da Floresta da Comunidade das Montanhas Mbe, no sudeste da Nigéria. Por talvez centenas de anos, suas raízes extensas teriam sido um parque de diversões para os duikers e porcos-espinhos, seus galhos nodosos um ponto de escalada para o macaco-mona e o macaco-de-nariz-branco. Em seus tempos horizontais, a sentinela caída agora serve um propósito diferente, se tornou uma passarela da vida selvagem, um atalho através da paisagem acidentada da floresta tropical Cross River.
As armadilhas fotográficas de Osang, colocadas como parte dos esforços da WCS de monitorar a fauna única das Montanhas Mbe, já revelaram que a Ponte Natural é uma estrada para os hiracóides e um canal para os chimpanzés-da-Nigéria-Camarões ameaçados. Porém, Osang acha que seja algo ainda mais especial: uma calçada para o gorila-do-rio-Cross (Gorilla gorilla diehli).
Uma vez caçado até a extinção, o gorila-do-rio-Cross, “redescoberto” nos anos 1980, é a subespécie de gorila mais ameaçada do planeta e o macaco mais raro da África. Os especialistas estimam que sua população global totaliza em menos de 300 indivíduos, com um alcance transfronteiriço abrangendo as fronteiras cobertas de floresta tropical da Nigéria e Camarões.
Ao todo, acredita-se que cerca de 100 gorilas-do-rio-Cross chamam a Nigéria de lar. Cerca de um terço deles residem na zona de patrulha de Osang nas Montanha Mbe, um corredor de floresta, de 8500 hectares, pertencente à comunidade, conecta dois locais de habitat dos gorilas. Contudo, esses números são palpites. E, como os esforços dos conservacionistas para proteger esse macaco geneticamente distinto redobraram, as armadilhas fotográficas surgiram como uma ferramenta crítica para monitorar a saúde e o tamanho das populações do gorila-do-rio-Cross.
“Antes você só via sinais do gorila-do-rio-Cross se passasse dias ou às vezes semanas andando pela floresta”, diz Osang. “Agora as armadilhas fotográficas podem nos dizer onde os gorilas estão e o que estão fazendo.”
Os gorilas pelas lentes
As armadilhas fotográficas revolucionaram o campo da conservação da vida selvagem, proporcionando conhecimentos sem precedente sobre a vida secreta de algumas das faunas mais raras da Terra. Os dispositivos acionados por movimentos têm sido o herói não celebrado por trás de tudo, de uma nova espécie de musaranho-elefante descoberto nas montanhas de Udzungwa na Tanzânia, ao primeiro vídeo já visto do rinoceronte mais raro do mundo, o rinoceronte-de-java, brincando na lama.
O momento às câmeras do gorila-do-rio-Cross se deu em julho de 2020, quando os noticiários do mundo compartilharam uma série de fotografias capturadas por uma das armadilhas de Osang nas Montanhas Mbe. Essas fotos mostraram pela primeira vez um bando de gorilas-do-rio-Cross, incluindo imagens de vários filhotes e gorilas adolescentes.
Para Iaoyom Imong, diretor da WCS Nirgeria’s Cross River Landscape Project, as imagens da armadilha fotográfica são evidência que os esforços de conservação nas Montanhas Mbe estão valendo a pena – e um sinal claro de uma população de gorila saudável e reprodutiva se recuperando da ameaça à extinção.
“Fotos dos gorilas-do-rio-Cross, principalmente com muitos deles jovens, indicam que os esforços da WCS, das comunidades locais e do nosso parceiros governamentais estão sendo bem sucedidos apesar dos muitos desafios que ainda existem,” disse Imong em uma entrevista via email.
Os desafios que os gorilas continuam enfrentando em Mbe vão de ameaças constantes de caçadores e desmatamento, ao espectro da extração ilegal de madeira.
Ainda assim, enquanto as fotos inovadoras do grupo alcançou as manchetes mundiais, elas são apenas uma peça do quebra-cabeças de um esforço muito maior planejado pelos cientistas e guardas, para usar armadilhas fotográficas para entender a estabilidade e tamanho das populações do gorila-do-rio-Cross.
Estimativas anteriores do tamanho das populações do gorila-do-rio-Cross foram baseadas na contagem de ninhadas feita por muitos anos. Essas contagens estão longe de serem perfeitas. São difíceis de serem coletadas no terreno florestal ondulante, e geralmente perdem detalhes importantes sobre o status de reprodução da população de gorilas, ao passo que gorilas jovens às vezes compartilham os ninhos das mães.
Mas com as imagens capturadas dos gorilas a cada poucos meses, tanto nas Montanhas Mbe e no santuário vizinho, Afi Mountain Wildlife Sanctuary, planos estão em andamento para uma campanha coordenada de armadilhas fotográficas que servirão como uma base atualizada para testar o quão bem as medidas de conservação estão protegendo o gorila-do-rio-Cross.
A campanha de armadilhas fotográficas envolverá implantar entre 50-100 armadilhas com câmeras de forma sistemática em grade por três principais habitats do gorila em Afi, Mbe e Cross River National Park.
O aumento da cobertura proporcionará também um olhar atento sobre a saúde de cada gorila.
“Em Camarões, as armadilhas fotográficas mostraram gorilas com membros deformados – provavelmente devido a ferimentos causados por arames,” Andrew Dunn, diretor nacional na Nigéria para a WCS, contou ao Mongabay via email.
Contudo, além da comprovada força de monitoramento que as armadilhas fotográficas proporcionam, os conservacionistas também reconhecem um benefício colateral inesperado ao surgimento dos dispositivos humildes: as fotos capturadas da floresta se tornaram um pára-raios de atração de investimento para a conservação. E para os gorilas-do-rio-Cross, pixels de primatas fazem as pessoas abrirem a carteira, ao que parece.
“Fotos de armadilhas com câmeras de gorilas-do-rio-Cross ajudaram a aumentar a conscientização tanto local quanto internacionalmente, e a atrair maior atenção e interesse na conservação do gorila-do-rio-Cross, incluindo apoio financeiro,” diz Imong.
Dunn concorda que as imagens das armadilhas fotográficas dos gorilas têm sido valiosas para assegurar fundos para as subespécies.
“Fundos para conservação são sempre necessários,” ele afirma. “Uma vez se pensava que a conservação do gorila-do-rio-Cross era uma causa perdida – que a população era muito pequena para ser viável e que as ameaças eram muitas. As fotos das armadilhas demonstraram que a população de gorila-do-rio-Cross está estável/crescendo e que, depois de duas décadas de esforços pela WCS, a conservação está colhendo frutos.”
O pedaço de plástico mais importante das Montanhas Mbe
De volta a Ponte Natural, Osang pula do tronco suspenso para o chão firme, com uma armadilha fotográfica em mãos.
Enquanto alguns guardas carregam armas e outros facões, Osang leva consigo um pincel. Com pinceladas hábeis, ele desaloja uma colônia de formigas localizada no canto da armadilha fotográfica e vagarosamente retira o cartão SD.
“Um mês de fotos estão gravadas no cartão. Se há gorilas capturados, então talvez esse é o pedaço de plástico mais importante na Mbe!” diz Osang.
Osang coloca o cartão SD com segurança em uma lata de tabaco, coloca a mochila nas costas e continua pela floresta em sua procura pelos gorilas-do-rio-Cross.