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AMOR INCONDICIONAL

Argentino que vive no Brasil e sofria com doença grave adota cãozinho e ganha forças para se curar: "um anjo"

Cachorro da raça maltês 'adotou' um argentino em meio a um drama pessoal; De nome Rubio, o simpático animal se tornou amuleto da Argentina, em Florianópolis, na Copa do Mundo

1 de dezembro de 2022
4 min. de leitura
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Foto: Diogo de Souza | ND

Anjo. Essa foi a palavra escolhida por Mário Alberto Karuzas, 57 anos, argentino radicado no Brasil para definir a presença de seu cachorro da raça maltês, sem coleira, em meio a torcedores da ‘albiceleste’ reunidos no Retro Burger Bar, em Canasvieiras, Norte da Ilha.

Denominado Rubio e com uma página oficial no Instagram, o cachorro é dócil e possui vários dreadlocks (penteado característico) em seu pelo. “É o primeiro cachorro com dreads da América”, compara o Mario Alberto que é motociclista e vem de uma longa jornada no Brasil.

Natural da localidade de Parque Patricios, bairro da Grande Buenos Aires (ARG), o motociclista Mario Alberto revela que o cachorro tem origem brasileira, mas virou uma espécie de ‘anjo’ em sua relatada e conturbada vida.

Para entender a presença de Rubio e seu tutor em um bar na região central de Canasvieiras, em Florianópolis, é preciso contextualizar a Copa do Mundo do Catar. Fanáticos por sua seleção, os argentinos tradicionalmente se reúnem para acompanhar os jogos.

A dupla, que não pode comparecer ao estabelecimento nesta quarta-feira (30) para acompanhar a vitória e classificação da Argentina às oitavas de final da competição, é apontada como uma espécie de ‘amuleto’ do estabelecimento.

Essa condição supersticiosa foi assegurada pelo dono do bar, Cristian Zappata, em entrevista concedida a reportagem do Arena ND. Foi só com a a chegada da dupla, no bar de Cristian, que a Argentina finalmente abriu o placar diante do México, pela 2ª rodada da Copa do Mundo do Catar.

“Ressaca da pandemia”

A história compartilhada pelo argentino, no entanto, tem contornos de dramaticidade. Era começo de 2019 e a pandemia do coronavírus avançara sobre o planeta.

Mario Alberto estava em solo brasileiro e, ao passo em que a doença começou a restringir a vida de todo cidadão mundial, precisou abortar seu plano de dar a volta na América do Sul. Estava no Rio de Janeiro quando deu ‘meia-volta’ rumo a Argentina, a bordo de sua moto.

Foi nesse momento, já na fronteira do Brasil com a Argentina, na ponte que liga Uruguaiana (RS) a Paso de Los Libres (ARG), ele foi barrado pela fiscalização sanitária então vigente.

De lá para cá, sem conseguir ingressar em seu país, admitiu intermináveis dificuldades onde, na pior delas, perdeu sua mãe para a Covid-19 e sequer teve a oportunidade de uma despedida.

É a partir de tamanho drama que o simpático cão aparece na vida do personagem que vestia uma camiseta do Club Atlético Huracán, da primeira divisão argentina. Com um espanhol audível, olhos marejados e em busca das melhores palavras para descrever seu amigo, Mario entende a chegada do cachorro como algo até sobrenatural.

“Rubio é um anjo que, antes da viajem, Deus me mandou para que me acompanhe nessa aventura. Ele [Deus] sabia que eu ia passar algo e que eu ia precisar de ajuda, amor e força. Uma motivação para seguir em Brasil, contra toda adversidade, e minha motivação era dar carinho e lutar pela comida dele”, contou.

Foto: Diogo de Souza | ND

Gratidão aos brasileiros e distância da Argentina

Mario faz questão de externar mágoa com seus conterrâneos. Disse ter sido “desonrado” com tudo que aconteceu. Não foi lhe dado, segundo Mario, a chance de explicar sua situação.

Segundo o argentino a “porta” foi batida e ele simplesmente não conseguiu retornar a sua terra para se aproximar de seus familiares.

“Eu andei muitos quilômetros para chegar lá e não conseguir entrar. É uma desonra. Eu não consigo acreditar”, relembrou. Questionado se tem a intenção de voltar a argentina, o ‘hermano’ é enfático:

“Nunca mais eu piso lá, eu não quero nem saber. Quero terminar minha viagem que é de volta a América do Sul”, renega-se.

De lá para cá Mario conta que passou por Porto Alegre (RS), Imbituba, Garopaba e aí sim à ilha. Ele reitera a gratidão pelos brasileiros.

“Fui assistido por muitos brasileiros, sou muito grato, o povo brasileiro nos manteve vivo eu e Rubio”, contou.

Futuro incerto

Mario reiterou as dificuldades atuais onde, sem dinheiro e sem emprego, luta para tentar achar algo a fim de reconstruir sua caminhada. Relatou, ainda, um prejuízo envolvendo seu telefone que estragou e, logo, está sem outra ferramenta de auxílio e dinheiro.

Sem dizer de que maneira, pediu para resumir sua história e seu futuro “nas mãos de Deus”. Sem esquecer, claro, do seu melhor amigo. “Enquanto o Rubio tiver comida e como se alimentar, para mim, é o suficiente”.

Foto: NDMais

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