O que torna um ambiente marinho rico em espécies e mais resiliente às alterações climáticas? A sua diversidade e a sua robustez, e parte disso está associada à riqueza genética das suas comunidades. Esse é um dos resultados de um estudo global que analisou a diversidade do ADN de corais, esponjas, algas marinhas, ervas marinhas e outras espécies que constituem a comunidade de organismos que constroem habitats no fundo marinho.
O trabalho, publicado recentemente na revista Global Ecology and Biogeography e que conta com investigadores do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (Ciimar) da Universidade do Porto, também descobriu que a diversidade genética daquelas comunidades em áreas marinhas protegidas não é superior em relação às comunidades situadas em território não protegido. Esta descoberta obriga a questionar se as áreas marinhas protegidas estão efectivamente a ser alvo de protecção.
“Eles fazem a estrutura do habitat em três dimensões e aumentam a sua complexidade, podem ser vistos como refúgios para outras espécies”, explica o investigador Jean-Baptiste Ledoux. “Sabemos que têm um papel ecológico muito importante, porque sem estas espécies não se pode encontrar toda a biodiversidade associada.”
Por isso, estes habitats podem ser importantes para a alimentação de comunidades humanas costeiras, além de aumentarem a protecção das regiões costeiras a fenómenos meteorológicos extremos, adianta o especialista. Embora haja comunidades mais bem conhecidas, como as existentes na Grande Barreira de Coral da Austrália ou nos ecossistemas coralígenos no mar Mediterrânico, há muitas outras que não se conhecem ou porque estão em regiões onde não há tanto investimento científico ou pela sua situação geográfica.
“Há animais formadores de habitats como corais, esponjas profundas a mais de 1000 metros de profundidade, que não precisam de luz”, exemplifica Jean-Baptiste Ledoux. “Isso é mais uma limitação: sabemos pouco sobre as comunidades profundas.”
Padrões genéticos
A equipa utilizou estudos já publicados de genética populacional sobre os diferentes organismos construtores de habitats marinhos em todo o mundo, embora regiões como o Atlântico Sul e os dois pólos estejam pouco representadas devido à falta de trabalhos científicos feitos naquelas regiões. Por outro lado, “o nosso artigo está focado nas comunidades nos primeiros 50 metros de profundidade”, adianta o investigador.
A partir da informação de microssatélites, sequências curtas e repetitivas de ADN que funcionam como marcadores genéticos e possibilitam avaliar a diversidade genética de uma população, a equipa fez um retrato macrogenético daquelas comunidades.
“A macrogenética tenta encontrar padrões gerais na diversidade genética de um grupo de espécies, neste caso as espécies formadoras de habitat marinho”, clarifica Jean-Baptiste Ledoux. Apesar de este grupo incluir organismos que estão distantes a nível evolutivo, podem ainda assim existir padrões gerais devido a processos ecológicos comuns. Quando estes padrões e processos são compreendidos, ficamos “numa posição melhor para a sua protecção”, garante o ecólogo.
Um dos resultados obtidos pela equipa está ligado a estes padrões. Ao contrário das espécies terrestres onde a diversidade genética é maior à medida que nos aproximamos dos pólos em direcção à linha do Equador, as espécies marinhas formadoras de habitat apresentam um padrão bimodal. Ou seja, existem dois picos de diversidade genética, um em cada hemisfério. “A diversidade genética mais alta é vista em latitudes intermédias, por volta dos 40 graus”, d
Segundo Jean-Baptiste Ledoux, a equipa não tem uma explicação para este padrão, mas o que verificaram é que quando as espécies construtoras de habitat tinham uma maior diversidade genética, a comunidade de espécies associada era ela própria mais diversificada. Porquê? “Uma das hipóteses é que uma população com maior diversidade genética terá um estado de saúde melhor, o que tem um impacto positivo para a comunidade associada”, responde.
Infelizmente, o que o estudo também mostrou é que as áreas marinhas protegidas não tinham mais diversidade genética do que as áreas não protegidas. “A gestão das áreas marinhas protegidas deve ser reforçada”, defende o investigador. “Afinal, ela só existe em nome, na realidade não se faz nada de diferente nessas áreas. Se tivermos em conta que a diversidade genética é necessária para responder a todos os desafios que a biodiversidade tem pela frente, como as alterações climáticas, então dentro da nossa forma de proteger não estamos a conseguir fazê-lo. Há um problema maior.”
O ecólogo recorda o acordo produzido durante a 15.ª Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas para a Diversidade Biológica (COP15), que ocorreu em Montreal, no Canadá, em Dezembro de 2022. Uma das metas do documento é manter a diversidade genética das populações nativas de modo a salvaguardar a sua capacidade adaptativa. Neste contexto, “vemos o nosso estudo como uma linha de base que pode servir de referência para desenvolver planos de conservação a grande escala espacial” naquelas comunidades, avança Jean-Baptiste Ledoux .
O ecólogo recorda o acordo produzido durante a 15.ª Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas para a Diversidade Biológica (COP15), que ocorreu em Montreal, no Canadá, em Dezembro de 2022. Uma das metas do documento é manter a diversidade genética das populações nativas de modo a salvaguardar a sua capacidade adaptativa. Neste contexto, “vemos o nosso estudo como uma linha de base que pode servir de referência para desenvolver planos de conservação a grande escala espacial” naquelas comunidades, avança Jean-Baptiste Ledoux .
Fonte: Público