Um novo estudo da Royal Society B revelou que, ao contrário do que se pensava, florestas que sofreram até dois ciclos de desmatamentos conseguem restabelecer sua biodiversidade a níveis consideráveis. Utilizando o habitat da ilha de Bornéu como objeto de estudo, os pesquisadores afirmaram que a descoberta deverá impulsionar os conservacionistas a protegerem ainda mais esses locais do interesse de plantadores de palma.
“Embora o valor do habitat primário seja incontestável e os esforços para mantê-lo seja vital, a área de florestas virgens remanescentes está diminuindo rapidamente e elas estão cada vez mais fragmentadas”, afirmou em entrevista ao Mongabay o autor da pesquisa, David Edwards. “Somente com a inclusão dessas florestas degradadas em trabalhos de proteção de larga escala será possível garantir que a biodiversidade de Bornéu seja mantida”, completou.
Edwards e sua equipe catalogaram pássaros e escaravelhos em florestas virgens, em áreas desmatadas uma vez (com todas as árvores de grande porte derrubadas) e em regiões destruídas duas vezes. Eles descobriram que 75% das espécies permaneceram na região mesmo após duas rodadas de destruição, apesar de 50% terem sofrido mudanças significativas.
“Apesar dessas alterações, nós descobrimos que florestas desmatadas abrigam um número semelhante de espécies de aves e escaravelhos das florestas primárias e que mais de três quartos das espécies encontradas no habitat virgem permanecem lá após a devastação”, disse.
O estudo ainda revelou que pássaros nativos de Bornéu não foram afetados durante a primeira derrubada, mas quase metade sofreu impacto com o segundo desmatamento.
Argumento pela conservação
Considerando que grande parte das florestas de Bornéu foi desmatada ao menos uma vez, a informação de que sua biodiversidade poderá se restabelecer com a ajuda de algumas medidas de proteção poderá se tornar uma grande aliada dos ambientalistas, acreditam os responsáveis pela pesquisa.
Para Edwards, o grande problema é que, quando uma floresta é derrubada uma ou duas vezes, ela passa a ser considerada “área degradada” e entregue para abrigar plantações de palma, enquanto que o novo estudo mostra que esses locais ainda possuem um alto potencial de conservação.
“Transformar áreas desmatadas em plantações significa uma perda dramática da biodiversidade. A redução do número de espécies vai de 140 em uma floresta degradada duas vezes, para 30 em uma plantação da palma”, completou.
Fonte: Diário do Pará