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ESPÉCIE EM EXTINÇÃO

Arara-de-garganta-azul tem capacidades de imitação sofisticadas, diz estudo

Espécie está criticamente ameaçada de extinção – existem apenas 350 exemplares na natureza. Comportamento de repetição pode ajudar com que animais de cativeiro sejam introduzidos no ambiente

22 de dezembro de 2024
Tainá Rodrigues
5 min. de leitura
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Papagaio executa responde ao estímulo ‘Abra as asas’, enquanto uma cientista pede o comando ‘Levante a perna’. Fazer ações de forma espelhada demonstra boa capacidade de imitação. — Foto: Adrian Azcárate

Humanos consegue imitar automaticamente outras pessoas de forma involuntária. Agora, pesquisadores descobriram que a arara-de-garganta-azul (Ara glaucogularis), espécie que está criticamente ameaçada de extinção, também faz imitações automáticas, copiando movimentos corporais de outros bichos. Só que, como descrito em um estudo publicado pela iScience, isso acontece de maneira intransitiva — ou seja, sem interação direta e sem um objetivo.

A pesquisa foi feita por uma equipe do Instituto Max Planck, na Alemanha, em conjunto com a Fundação Loro Parque, santuário animal localizado na Espanha.

O fenômeno estudado, até então, tinha sido documentado apenas em humanos. Pesquisas feitas anteriormente comprovaram que os humanos imitam gestos de forma involuntária — acreditam que esse processo fez parte de uma evolução cultural. Historicamente, muitas civilizações humanas valorizavam a imitação de habilidades técnicas, inclusive com ferramentas, e isso foi transmitido para outras gerações, promovendo vínculos e comportamentos sociais.

No entanto, não existiam evidências de que o comportamento também acontecia em animais. O processo, aliás, acontece de forma limitada: pássaros são capazes apenas de copiar ações transitivas, como agarrar objetos — algo que acontece com cães e pássaros da família periquito. De acordo com a pesquisa, existe a possibilidade desses pássaros terem um sistema de neurônios-espelho, algo parecido com os humanos.

Como o estudo foi feito

As aves foram treinadas para executar dois movimentos distintos, como levantar a perna e abrir as asas, a partir de sinais específicos feitos com as mãos dos pesquisadores. Os cientistas dividiram as araras em dois grupos: pássaros que imitassem a ação demonstrada estavam no chamado “grupo compatível” e os que foram instruídos a fazer uma ação oposta a do demonstrador, no “grupo incompatível”.

As araras eram recompensadas quando conseguiam imitar a ação e quando executavam a ação contrária. Quando o demonstrador fazia uma ação, que deveria ser imitada de maneira oposta pela ave, o esforço cognitivo era maior. Por isso, esse grupo teve mais respostas incorretas (já que de forma involuntária imitava a ação) e demorava mais tempo para executar a tarefa, em comparação com o outro grupo.

Importância do estudo

“As descobertas são notáveis ​​porque mostram, pela primeira vez, uma imitação involuntária de ações intransitivas por animais não humanos”, explica a principal autora do estudo, Esha Haldar, em comunicado.

“Em humanos, esse comportamento está ligado a circuitos neurais envolvendo neurônios-espelho, que são ativados durante a observação e a execução da mesma ação. Embora nosso estudo não prove diretamente a presença de neurônios-espelho em papagaios, ele sugere fortemente seu envolvimento na imitação motora”, explica.

Segundo o autor sênior da pesquisa, Auguste von Bayern, os papagaios são altamente sociais e vivem em grupos dinâmicos, o que significa que estão inseridos em sociedade, onde dificilmente indivíduos formam grupos diferentes. Por essas características, esse tipo de ave se torna a ideal para estudar imitação.

“A imitação automática de movimentos e gestos pode aumentar a integração de indivíduos em grupos recém-formados e, em geral, promover a coesão e a ligação social. Potencialmente, pode sustentar a transmissão cultural de comportamentos específicos do grupo. Mais pesquisas são necessárias para explorar essas possibilidades interessantes”, afirma Bayern.

Diversidade ameaçada

As espécies de araras-de-garganta-azul são endêmicas da Bolívia e atualmente, estão em estado crítico de potencial extinção, restando uma população com menos de 350 animais na natureza. O santuário Loro Parque Fundación tem tentado preservar a espécie, e já chocaram 465 papagaios.

Com as novas descobertas, pesquisadores acreditam que essas espécies podem ser reintroduzidas na natureza, inclusive imitando e aprendendo a reproduzir comportamentos naturais de seus semelhantes. Assim, podem se adaptar mais rapidamente e de forma natural ao seu próprio habitat.

Fonte: Um Só Planeta

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