A Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas) produziu e publicou um novo relatório neste sexta-feira (17/01) sobre o comércio de animais silvestres na Amazônia brasileira. Dentre outros pontos, o documento destaca as principais rotas, espécies mais visadas, usos pelos compradores e estruturas da rede de tráfico.
Nas médias desde 2001, acompanhadas pela ONG, a atividade criminosa retira da natureza brasileira cerca de 38 milhões de animais anualmente, sendo que apenas um em cada dez consegue chegar às mãos do consumidor final, enquanto nove morrem durante a captura ou transporte.
Segundo Dener Giovani, coordenador geral do Renctas, a ONG acompanha as movimentações de mais de 800 grupos de mensagem e 400 comunidades em redes sociais, além de anúncios em marketplaces. A organização sem fins lucrativos atua há 25 anos no monitoramento online do comércio ilegal de animais silvestres na Amazônia e também em outras localidades.
Na análise dele, um número cada vez maior de espécies amazônicas vem sendo comercializado em grupos de mensagem. “Nos últimos três anos, percebemos um crescimento muito intenso de animais peçonhentos como aracnídeos, escorpiões, serpentes e sapos”.
Outro ponto destacado pelo relatório é a vulnerabilidade das fronteiras do Brasil com o Suriname e a Guiana Francesa para a saída de animais silvestres. Recentemente, essas rotas também passaram a ser utilizadas para entrada de animais exóticos no país, cujos compradores são brasileiros.
“O Brasil sempre ocupou um lugar de destaque no tráfico de animais silvestres como um grande fornecedor e agora a gente percebeu que o Brasil também está se destacando como um importador, o que também é um problema muito sério porque essas espécies podem levar a um desequilíbrio ambiental enorme e elas não têm predadores naturais”, afirma Dener.
A afirmação encontra base científica, uma vez que o bioma apresenta 13,2 mil espécies de plantas, 128 mil invertebrados, 1 mil de aves, 3 mil de peixes, 550 répteis, 311 mamíferos e 163 anfíbios descritos pela ciência. Uma biodiversidade gigantesca e, infelizmente, vulnerável.
“Todo o material coletado para a realização do presente estudo será encaminhado para as autoridades brasileiras, para que sejam tomadas as devidas providências para a investigação e a responsabilização dos possíveis atos criminais cometidos pelos usuários das redes sociais durante o período de levantamento dos dados”, afirma a organização.
Uma prática histórica
Mais do que uma visão da prática criminosa no presente, o relatório do Renctas inclui as raízes históricas do tráfico de animais silvestres na região amazônica desde o século passado.
A revisão de literatura pelos pesquisadores aponta que, em um período de 19 anos (1935-1954), foram comercializados cerca de 140 mil peixes-boi na Amazônia. Além disso, no ano de 1968, somente a cidade de Altamira (PA), produziu 36 mil quilos de peles de animais silvestres para a exportação.