O aquecimento das águas do planeta está desacelerando os padrões de circulação profunda nos oceanos Atlântico e Antártico. Se a crise climática continuar, a capacidade das massas de água removerem dióxido de carbono (CO2) da atmosfera poderá ser gravemente afetada — piorando ainda mais a situação global.
Esta dinâmica preocupante foi descrita por cientistas da Universidade da Califórnia, em Irvine, nos Estados Unidos, em 22 de dezembro de 2022, na revista Nature Climate Change. Os pesquisadores analisaram projeções de três dúzias de modelos climáticos para chegarem às suas conclusões.
Segundo o estudo, a Circulação Meridional de Capotamento do Atlântico e do Antártico (APOC e SMOC, nas siglas em inglês) diminuirão em até 42% até 2100. Essas circulações são essenciais ao sistema climático, pois definem a taxa na qual o oceano profundo interage com a atmosfera.
Ainda de acordo com a pesquisa, nas mais graves condições de aquecimento, a SMOC pode cessar totalmente por volta de 2300. Segundo Keith Moore, coautor da análise, o desligamento da circulação profunda do oceano poderia levar a um “desastre climático semelhante em magnitude ao derretimento completo das camadas de gelo em terra”.
“Uma interrupção na circulação reduziria a absorção de dióxido de carbono da atmosfera pelo oceano, intensificando e estendendo as condições climáticas quentes”, alerta Moore, em comunicado. “Com o tempo, os nutrientes que sustentam os ecossistemas marinhos ficarão cada vez mais presos no oceano profundo, levando ao declínio da produtividade biológica do oceano global.”
Conforme explicam os pesquisadores, a interação física e química do ar com a água do mar — chamada por eles de “bomba de solubilidade” – atrai o CO2 para o oceano. A circulação então envia o gás de volta para o céu e sequestra certa quantidade para as profundezas oceânicas.
Os padrões do fundo do oceano também interferem na “bomba biológica”, um processo que envolve o CO2 e animais marinhos. Por exemplo, esta ocorre à medida que o fitoplâncton (microalgas) usa o carbono na fotossíntese e na formação de conchas carbonáticas.
Quando esses e outros animais morrem, eles afundam, decompondo-se lentamente e liberando o composto e os nutrientes nas profundezas. Alguns voltam com circulação e ressurgência das águas, mas uma parte permanece depositada sob as ondas, segundo os experts.
Tanto a “bomba de solubilidade” quanto a “bomba biológica” ajudam a remover parte do CO2 liberado no ar por meio da queima de combustíveis fósseis, uso da terra e outras atividades poluidoras. Os humanos dependem de ambos os processos para tal.
Para os autores, ainda há tempo da humanidade reverter o que afeta os padrões no fundo dos oceanos. “Nossa análise também mostra que a redução das emissões de gases de efeito estufa pode evitar esse desligamento completo da circulação profunda no futuro”, diz Moore.
Fonte: Galileu