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DIFICULDADE DE ADAPTAÇÃO

Aquecimento global fez populações de aves tropicais diminuírem até 38%, mostra estudo

Sensíveis às altas temperaturas, animais tiveram que lidar com dez vezes mais dias de calor extremo nas últimas décadas

11 de agosto de 2025
Reinaldo José Lopes
4 min. de leitura
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Araras-azuis em Barão de Melgaço, no Mato Grosso. Foto: Lalo de Almeida/Folhapress

O aumento do calor extremo no mundo durante as últimas décadas, diretamente ligado à crise do clima, fez com que as populações de aves nas regiões tropicais diminuíssem em cerca de um terço em relação à sua trajetória normal, afirma um novo estudo. Os dados indicam que as aves dos trópicos estão tendo de lidar com condições ambientais para as quais seu organismo não está preparado.

Os resultados acabam de ser publicados na revista especializada Nature Ecology & Evolution, em artigo assinado por um trio de pesquisadores: Maximilian Kotz, do Centro de Supercomputação de Barcelona, e a dupla Tasuya Amano e James Watson, ambos da Universidade de Queensland, na Austrália.

A redução populacional das aves tropicais estimada pelos pesquisadores, entre 25% e 38%, não corresponde a um número bruto, mas é resultado de uma análise estatística que buscou comparar os dados colhidos sobre a abundância dos indivíduos de cada espécie no cenário real, com o aumento da incidência do calor extremo nas décadas mais recentes, e a trajetória populacional esperada para as aves num mundo de clima estável.

Conforme explicou Kotz em comunicado oficial sobre o estudo, sabe-se que as aves têm grande sensibilidade à desidratação e ao estresse térmico. Esses processos fisiológicos, além de aumentarem a mortalidade dos animais adultos e de seus filhotes, também podem diminuir a fertilidade dos sobreviventes e afetar seu comportamento reprodutivo. É de se esperar, portanto, que a soma desses efeitos tenha repercussões negativas sobre a trajetória populacional dos animais.

Considerando apenas os dias do ano classificados como de calor extremo, que correspondem a proporção de 1% das temperaturas mais altas registradas em cada região entre 1940 e 1970, a incidência dessas condições nas áreas tropicais aumentou cerca de dez vezes nas últimas décadas. Isso significa que, em média, a fauna das regiões tropicais, que antes enfrentava três dias de calor extremo por ano, hoje precisa lidar com cerca de um mês dessas condições anualmente.

Levando essa mudança em conta, bem como informações sobre avistamentos de aves numa base de dados internacional ao longo das décadas, os pesquisadores estimaram qual teria sido a trajetória populacional dos animais caso a crise climática não estivesse acontecendo e se intensificando. Assim, chegaram ao índice de perda populacional estimada de um terço nos trópicos.

O efeito abrange também, com menor intensidade, boa parte das regiões temperadas do planeta, a começar pela zona do mar Mediterrâneo, não muito distante dos trópicos, e só parece desaparecer em zonas frias, mais ou menos na latitude do norte dos EUA.

Na prática, isso significa que a maior parte das espécies de aves do planeta estão sendo afetadas pelo problema, já que a biodiversidade do grupo (assim como a de quase todos os demais seres vivos) é muito maior na zona tropical. Os efeitos também são fortes no principal subgrupo das aves atuais, o dos Passeriformes (as chamadas aves canoras, como sabiás, pardais etc.), que corresponde a mais de 50% da diversidade de espécies de aves, e no dos Accipitriformes, que corresponde à maior parte das aves de rapina (excluindo as corujas).

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