A pesca industrial continua a ser uma das maiores ameaças à vida marinha, ceifando anualmente a vida de centenas de milhares de golfinhos e outras espécies em capturas acidentais. Este flagelo, que vitima indiscriminadamente animais marinhos, expõe a crueldade e a insustentabilidade de práticas que privilegiam o lucro em detrimento do respeito à biodiversidade e aos direitos animais.
Estima-se que mais de 40% dos animais capturados globalmente são vítimas de pesca acidental, incluindo peixes juvenis, aves marinhas, tartarugas e tubarões. As redes de arrasto, utilizadas em larga escala pela pesca comercial, são particularmente devastadoras. Ao varrerem o fundo do mar, esses equipamentos capturam tudo em seu caminho, sem distinção entre espécies comerciais e aquelas protegidas ou em risco de extinção. No entanto, não são apenas as redes de arrasto que causam estragos: redes de emalhar, de cerco e a arte xávega também contribuem para esse cenário de destruição.
O impacto dessas práticas vai além da perda de biodiversidade. Comunidades de pescadores, muitas vezes dependentes da pesca artesanal e sustentável, enfrentam restrições crescentes em suas atividades devido à necessidade de proteger a vida marinha. No entanto, a solução não está em ajustar técnicas de exploração, mas sim em repensar radicalmente nossa relação com os oceanos e seus habitantes.
Tecnologias promissoras, mas insuficientes
Diante desse cenário, a União Europeia tem financiado projetos que visam reduzir as capturas acidentais. Entre eles, destacam-se o DolphinFree e o Marine Beacon, testados em águas francesas, e os postes acústicos de amarração, em fase de testes na Itália. Embora essas iniciativas representem avanços tecnológicos, elas ainda perpetuam a ideia de que a exploração dos oceanos é aceitável, desde que “menos danosa”.
O projeto DolphinFree, por exemplo, utiliza sinalizadores acústicos que imitam a ecolocalização dos golfinhos para afastá-los das redes de pesca. Testes iniciais mostraram resultados promissores, com os animais reagindo aos sinais e evitando as embarcações. No entanto, a tecnologia ainda depende de ajustes para ser viável em larga escala, e sua implementação não resolve o problema central: a pesca industrial continua a ser uma prática invasiva e destrutiva.
Já o Marine Beacon, desenvolvido na região da Bretanha, utiliza redes de arrasto equipadas com câmaras subaquáticas e algoritmos de inteligência artificial para identificar e liberar espécies não-alvo. Apesar de inovadora, a iniciativa ainda se baseia em uma lógica de exploração, sugerindo que a “seletividade ativa” pode tornar a pesca mais “sustentável”. Mas será que a sustentabilidade pode coexistir com a exploração em massa de ecossistemas frágeis?
A ameaça aos golfinhos e a urgência de mudanças
No Golfo da Biscaia, uma das regiões mais ricas em biodiversidade da Europa, cerca de 200 mil golfinhos enfrentam um risco crescente. Estima-se que entre 4.500 e 8.500 golfinhos morrem anualmente após ficarem presos em redes de pesca. Durante o inverno, é comum encontrar centenas de corpos desses animais nas praias da região, um triste reflexo da crueldade da pesca industrial.
Enquanto projetos como o DolphinFree buscam mitigar essas mortes, a verdadeira solução passa por questionar a legitimidade de práticas que tratam os oceanos como meros recursos a serem explorados. Os golfinhos, assim como tantas outras espécies, são seres sencientes, capazes de sentir dor, medo e sofrimento. Suas vidas não devem ser sacrificadas em nome do consumo humano.
A pesca artesanal, embora menos impactante que a industrial, também representa riscos para a vida marinha. Em Terracina, na Itália, pescadores testam postes acústicos para afastar golfinhos das redes de emalhar. A iniciativa, embora bem-intencionada, não resolve o problema de fundo: a interação humana com os oceanos continua a ser predatória e insustentável.
É urgente repensar nosso consumo e adotar práticas que respeitem os direitos animais e a integridade dos ecossistemas marinhos. A transição para uma dieta baseada em vegetais, por exemplo, é uma das formas mais eficazes de reduzir a demanda por pesca e, consequentemente, o sofrimento de milhões de animais marinhos.
Enquanto tecnologias como sinalizadores acústicos e redes inteligentes podem reduzir capturas acidentais, elas não devem ser vistas como soluções definitivas. A verdadeira mudança só virá quando reconhecermos que os oceanos não nos pertencem e que cada vida marinha tem valor intrínseco, independente de sua utilidade para os humanos. A luta pelos direitos animais exige que questionemos não apenas como pescamos, mas se devemos pescar.