Depois de sofrer a rejeição dos machos, e de um amor que, ao que tudo indica, não deu certo, a sabiá-laranjeira semialbina “A Feia” conquistou um novo par e voltou para São Paulo. A fêmea rara foi fotografada pela primeira vez pelo ornitólogo Johan Dalgas Frisch no Morumbi , na Zona Sul da capital paulista, em 2008 e foi destaque do jornal americano Nature Society News.
Por não ter o peito laranja, com os outros animais da sua espécie, e sim branco com algumas penas pretas, a fêmea sofreu a rejeição dos machos, que a ameaçavam, com o bico aberto quando ela se aproximava. Depois, conseguiu um “namorado” em outubro de 2009: um sabiá preto, que o ornitólogo batizou de “Mandrake”, vindo da Colômbia. O pássaro não se importou com o fato de “A Feia” (como um especialista francês a chamou, ao saber do animal) ser diferente.
“Em novembro de 2009, os dois saíram de São Paulo. Talvez tenham ido para a Colômbia. Próximo às comemorações do aniversário de Brasília, em abril, ela reapareceu em São Paulo, mais madura e conquistou o sabiá mais bonito da cidade, que dei o nome de “Juscelino” por causa da capital federal” , disse Johan Dalgas Frisch.
Segundo o especialista em pássaros e presidente da Associação de Preservação da Vida Selvagem, “A Feia” e “Juscelino” são inseparáveis. “Onde ela vai, o “Juscelino” vai atrás “, conta Frisch.
A sabiá é semialbina porque tem a íris marrom, o que lhe permite ficar exposta à luz do sol. Os albinos têm a íris vermelha, que não permite que eles sejam vistos durante o dia. Frisch conta que quando “A Feia” deixou de ser vista em São Paulo, chegou a pensar que ela havia sido vítima de um caçador.
“Eu fiquei desesperado, achei que tinham levado ela. Um pássaro desse não tem preço, é uma raridade. E tem muito colecionador maluco”, afirma.
Frisch alimenta “A Feia” e “Juscelino” todos os dias. De segunda a sábado, o prato é mamão, banana e abacate. Nos domingos, o cardápio é especial: minhoca, iguaria que, segundo o especialista, difícil de encontrar em plena metrópole.
Agora, os amantes de pássaros estão ansiosos para saber se do amor de “A Feia” e “Juscelino” vão nascer filhotes. A espécie costuma fazer seus ninhos em agosto e em setembro os filhotes costumam nascer. Segundo o ornitólogo, um possível filhote do casal pode nascer totalmente albino, malhado ou como um sabiá-laranjeira comum. O especialista explica que os casais de pássaros dessa espécie costumam ficar juntos por toda a vida, mas quando um morre, o outro arruma, rapidamente, um outro “namorado”.
Fonte: O Globo