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RECUPERAÇÃO

Após quase um século, salmão ameaçado de extinção volta a subir rio na Califórnia (EUA)

Espécie retorna a seu habitat ancestral graças a esforços de reintrodução liderados por autoridade e povos indígenas

5 de agosto de 2025
Renata Turbiani
5 min. de leitura
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Foto: NOAA Fisheries

O Departamento de Pesca e Vida Selvagem da Califórnia (CDFW, na sigla em inglês), dos Estados Unidos, confirmou que salmões Chinook adultos foram vistos nadando no Rio McCloud, um curso de água no norte da Califórnia. Isso não acontecia havia quase 100 anos.

Em publicação em uma rede social, a agência informou que foram avistados uma fêmea adulta da espécie exibindo comportamento de desova, protegendo seu ninho, e vários machos menores competindo pela chance de fertilizar seus ovos.

O órgão disse ainda que a presença dos peixes provavelmente se originou de esforços iniciados em 2022 para devolver a espécie ameaçada de extinção ao seu habitat histórico, acima da Represa Shasta. Naquele ano, o CDFW, com colaboração da Tribo Winnemem Wintu, o Serviço de Pesca da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA) e o Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos EUA, incubou ovos de salmão Chinook nas águas frias e limpas do Rio McCloud.

“Muitos dos salmões juvenis resultantes são capturados em instalações de coleta a jusante todos os anos e transportados para o Rio Sacramento em Redding e soltos para continuar sua migração para o Oceano Pacífico. Outros que escapam das instalações de coleta de juvenis se mudam para o Reservatório Shasta. O salmão Chinook de inverno observado recentemente no Rio McCloud provavelmente passou um ano ou mais no Reservatório Shasta antes de retornar ao Rio McCloud”, escreveu o departamento da postagem.

Salmões Chinook adultos de inverno também foram observados nas proximidades, na bifurcação norte de Battle Creek, nadando perto da Represa Eagle Canyon. Esta é a primeira vez que isso acontece desde que as instalações de passagem para peixes foram construídas como parte do Projeto de Restauração de Battle Creek.

“O retorno e a desova do salmão adulto nas águas frias de seu habitat histórico, no leito cada vez mais quente do Vale do Sacramento, são vistos como cruciais para a recuperação do salmão Chinook de inverno e são um dos principais objetivos e conquistas da Estratégia do Salmão da Califórnia para um Futuro Mais Quente e Seco”, complementou o CDFW.

Reportagem da Smithsonian Magazine destaca que o salmão Chinook está listado como ameaçado de extinção desde 1994 e está entre as dez espécies marinhas que a NOAA Fisheries considera como as mais vulneráveis à extinção em um futuro próximo.

Esse salmão enfrenta dificuldades desde o final da década de 1930, quando foi construída a Represa Shasta, no Rio Sacramento – isso o impediu de nadar rio acima em direção aos afluentes mais frios onde historicamente desovava, incluindo o Rio McCloud.

Agora, os peixes precisam depositar seus ovos abaixo da represa, no baixo Rio Sacramento, onde as temperaturas médias do ar chegam a quase 38°C no verão, segundo a NOAA Fisheries. Como o salmão Chinook, que vive no inverno, desova no verão, esse arranjo tem sido prejudicial à sua sobrevivência.

De acordo com a Smithsonian Mag, as autoridades tentaram ajudá-los liberando água fria do reservatório de Shasta, no Rio Sacramento, todo verão. Para isso, mantiveram o que é conhecido como “poço de água fria”, atrás da barragem. Mas, durante uma seca em todo o estado, que durou de 2012 a 2016, a barragem de Shasta perdeu seu poço de água fria, e as autoridades liberaram água mais quente. O resultado disso foi que entre 95% e 98% dos ovos e salmões Chinook recém-eclodidos de inverno no curso d’água morreram.

A Represa Shasta não está programada para ser removida – e pode até ser ampliada durante o governo de Donald Trump. Portanto, os biólogos estão focados em reintroduzir salmão Chinook criado em viveiros e em pastagens de inverno acima da represa.

Mas, para os membros da Tribo Winnemem Wintu, esses esforços estão longe de ser ideais. “Os salmões que existem agora não sabem escalar montanhas, não sabem subir cachoeiras, porque estão bloqueados”, relatou Rebekah Olstad, gerente do projeto de restauração do salmão da tribo, ao The Guardian. “Então, são gerações e gerações de ovos e salmões que não têm mais os genes necessários para serem selvagens.”

A expectativa da tribo é que seja construída uma passagem voluntária para o salmão para permitir que ele desove e complete um ciclo de vida.

Fonte: Um só Planeta

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