Dois anos depois, a primeira fazenda urbana, onde crescem alimentos como alfaces, rúculas, tomates e abobrinhas, foi fundada em um shopping de Belo Horizonte (MG). Sua tecnologia conta com recursos como controle de umidade, PH, temperatura e luminosidade. Tudo isso acontece em uma estufa que protege de raios solares intensos com uma segunda camada, que garante a capacidade de produzir o ano todo independentemente da safra ou de intempéries climáticas.
“Produzimos 28 vezes mais por metro quadrado do que um produtor convencional e com essa tecnologia entregamos com o mesmo preço do mercado e sem o uso de agrotóxicos”, afirma Bittencourt.
Em um mundo que tenta a todo custo adiar as mudanças climáticas, a fazenda urbana criada por Giuliano pode resistir a variações climáticas intensas e evita o lançamento até 27 toneladas de CO2 por mês (em comparação com a atividade convencional), de acordo com o levantamento feito em uma das hortas pela própria empresa.
O criador das fazendas conta que esse tipo de movimento explodiu nos EUA em 2012, e teve a empresa Gotham Greens, fundada três anos antes em Nova York, no bairro do Brooklyn, como um dos pontapés iniciais do conceito de ‘agricultura urbana’, que usa tecnologia semelhante com a que a BeGreen trabalha no Brasil.
Mesmo tendo visto esses modelos de perto, o criador considera que a experiência com a terra tenha sido essencial para aprender a tocar o negócio. “Eu plantava, colhia e entregava. Hoje, não faço mais isso, fico mais no acompanhamento dos processos gerais, mas sem ter passado por todo esse processo não conseguiria falar e nem liderar as pessoas”, afirma.
Led e computadores são os jardineiros
Ao menos 1% da produção é feita com luz de led, as lâmpadas trabalham no lugar do sol. Para ‘conversar’ com a horta e saber do que ela precisa, sensores e painéis monitoram as necessidades nutricionais das plantas.
Todo esse trabalho é acompanhado por funcionários, como a bióloga Isabela Andrade, 27, que ocupa o cargo de gerente geral, que é equivalente a uma ‘fazendeira’ na unidade piloto de Belo Horizonte e começou a trabalhar no local desde sua fundação.
“A gente fala que é um fazendeiro no meio da cidade, nossos desafios são passar pelo verão e inverno fazendo a automatização correta que é diferente nessas estações e cuidando da radiação solar”, conta Andrade.
No dia a dia, a fazendeira conta com mais quatro pessoas que colaboram com a produção diretamente e estão envolvidos no processo como ‘agricultores’. São eles que ‘plantam’ e colhem os alimentos.
“Eu não conhecia nada, mas o pouco que já presenciei de produção convencional é muito pesado. O primeiro espanto aqui na BeGreen é que nem precisamos abaixar para plantar, as bancadas têm nossa altura, colocamos a muda em um furinho e depois um aparelho planta 216 mudas em menos de um minuto’, conta a fazendeira.
Depois de brotarem, os alimentos são vendidos diretamente para os mercados. A compra no varejo só é possível através do site da empresa, que disponibiliza a assinatura de ‘caixas’ enviadas mensalmente com kits de vegetais 100% livres de agrotóxicos.
“Sem tecnologia será difícil produzir o suficiente”
Os “agricultores” (auxiliares de produção) contratados nas unidades da BeGreen residem nas cidades onde estão instaladas as hortas, e assim como Andrade, nunca trabalharam em fazendas e o treinamento fica por conta da empresa.
Mas além da mão de obra que precisa ser capacitada, é comum enfrentar o estranhamento de prefeituras. Quem faz essa ponte para explicar o negócio aos fiscalizadores públicos é Mariana Belisário dos Santos, sócia e diretora jurídica da BeGreen. “É um desafio e tanto, já que as instituições não sabem muito bem como classificar o negócio. É rural ou urbano?”, diz Santos.
A empresa é cadastrada no Código de Atividade Econômica (CNAE) como horticultura, mas essa não é uma atividade prevista para área urbana em alguns locais. “Em uma de nossas unidades, a inscrição estadual levou meses para ser expedida”, conta a sócia.
Estar em uma grande cidade e produzir alimentos também colocou a empresa perto de um problema crescente no mundo – a fome, e desde a criação todas as unidades doam 5% da produção mensal. Só em Osasco (SP), 3 mil famílias recebem os produtos frescos produzidos no topo do prédio da sede do iFood, que tem uma parceria com a rede de fazendas urbanas.
O modelo de produção da BeGreen poupa até 90% de água em comparação a uma produção normal e tem apenas 2% de perda de alimentos. Bittencourt afirma não ter patenteado a tecnologia justamente por não querer ser o único produzindo alimento dessa forma.
“Não somos os únicos e nem pretendemos ser. Em 2050, teremos que alimentar quase 10 bilhões de pessoas no planeta e as mudanças climáticas estão acontecendo, sem tecnologia será difícil produzir o suficiente”, diz o fundador da BeGreen.
Fonte: ecoa